Queridos amigos e amigas,
Saudações do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Em outubro de 2021, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgou um relatório que quase não recebeu atenção: o Índice Global de Pobreza Multidimensional 2021, com o subtítulo Desmascarando disparidades de etnia, casta e gênero. A “pobreza multidimensional” é uma medida muito mais precisa da pobreza do que a linha internacional de pobreza de 1,90 dólar por dia. Analisa dez indicadores divididos em três eixos: saúde (nutrição, mortalidade infantil), educação (anos de escolaridade, frequência escolar) e padrão de vida (combustível para cozinha, saneamento, água potável, eletricidade, habitação, bens). A equipe estudou a pobreza multidimensional em 109 países, analisando as condições de vida de 5,9 bilhões de pessoas. Eles descobriram que 1,3 bilhão – uma em cada cinco pessoas – vive na pobreza multidimensional. Os aspectos de suas vidas são marcantes:
Os números absolutos do relatório do Pnud são consistentemente inferiores aos números calculados por outros pesquisadores. Veja o número de pessoas sem acesso à eletricidade (678 milhões), por exemplo. Dados do Banco Mundial de 2019 mostram que 90% da população mundial tinha acesso à eletricidade, o que significa que 1,2 bilhão de pessoas não tinham. Um importante estudo de 2020 demonstra que 3,5 bilhões de pessoas não têm “acesso razoavelmente confiável” à eletricidade. Isso é muito mais do que os números absolutos do relatório do Pnud, mas, independentemente de qual número é o correto, as tendências são horríveis. Vivemos em um planeta com disparidades cada vez maiores.
Pela primeira vez, o Pnud concentrou a atenção nos aspectos mais específicos dessas disparidades, destacando as hierarquias étnicas, raciais e de casta. Nada é tão condenável quanto as hierarquias sociais, heranças do passado que continuam a agredir fortemente a dignidade humana. Analisando os dados de 41 países, o Pnud descobriu que a pobreza multidimensional afeta desproporcionalmente aqueles que enfrentam discriminação social. Na Índia, por exemplo, castas e tribos oficiais (“oficiais” porque o governo as considera grupos oficialmente designados) enfrentam o peso da terrível pobreza e discriminação, o que, por sua vez, exacerba seu empobrecimento. Cinco em cada seis pessoas que lutam contra a pobreza multidimensional são de castas e tribos oficiais. Um estudo de 2010 mostrou que, a cada ano, pelo menos 63 milhões de pessoas na Índia ficam abaixo da linha da pobreza por causa dos custos diretos com saúde (ou seja, duas pessoas por segundo). Durante a pandemia de Covid-19, esses números aumentaram, embora os números exatos não tenham sido fáceis de coletar. Independentemente disso, as cinco em cada seis pessoas que estão em pobreza multidimensional – muitas delas de castas e tribos oficiais – não têm acesso a cuidados de saúde e, portanto, sequer estão incluídas nesses dados. Elas vivem em grande parte fora dos sistemas formais de saúde, o que foi catastrófico para essas comunidades durante a pandemia.
No ano passado, o secretário-geral da Alba-TCP (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos), Sacha Llorenti, pediu ao Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e ao Instituto Simón Bolívar, em Caracas, Venezuela, para iniciar uma discussão internacional e dar respostas às crises de nosso tempo. Reunimos 26 institutos de pesquisa de todo o mundo cujo trabalho culminou agora em um relatório chamado Um Plano para Salvar o Planeta. Este plano é reproduzido com uma introdução mais longa no dossiê n. 48 (janeiro de 2022).
Examinamos cuidadosamente dois tipos de textos: primeiro, uma série de planos produzidos por think tanks conservadores e liberais em todo o mundo, do Fórum Econômico Mundial ao Conselho para o Capitalismo Inclusivo; segundo, um conjunto de reivindicações de sindicatos, partidos políticos de esquerda e movimentos sociais. Nós nos baseamos nesses últimos para entender melhor as limitações do primeiro. Por exemplo, descobrimos que os textos liberais e conservadores ignoraram o fato de que, durante a pandemia, os bancos centrais – principalmente no Norte Global – arrecadaram 16 trilhões de dólares para sustentar um sistema capitalista oscilante. Embora haja dinheiro disponível que poderia ter sido empregado para o bem social, ele foi em grande parte destinado ao fortalecimento do setor financeiro e da indústria. Se o dinheiro pode ser disponibilizado para esses fins, certamente pode ser usado para financiar totalmente um sistema de saúde pública robusto em todos os países e uma transição justa de combustíveis fósseis não renováveis para fontes de energia renováveis, por exemplo.
O plano abrange doze áreas, desde a “democracia e a ordem mundial” ao “mundo digital”. Para dar uma ideia dos tipos de reivindicações feitas no plano, aqui estão as recomendações sobre educação:
Um Plano para Salvar o Planeta está enraizado nos princípios da Carta das Nações Unidas (1945), o documento com o mais alto nível de consenso no mundo (193 estados membros da ONU assinaram este tratado vinculante). Esperamos que você leia o plano e o dossiê com atenção. Eles foram produzidos para discussão e debate e devem ser discutidos e elaborados. Se você tiver alguma sugestão ou ideia ou gostaria de nos dizer como conseguiu usar o plano, escreva para [email protected].
A formação tem sido um instrumento fundamental para o crescimento da luta da classe trabalhadora, como mostra o impacto dos jornais, revistas e literatura da classe trabalhadora na expansão do imaginário popular. Em 1928, Tina Modotti fotografou fazendeiros revolucionários mexicanos lendo El Machete, o jornal do partido comunista. Modotti, uma das fotógrafas revolucionárias mais luminosas, refletiu o compromisso sincero dos revolucionários mexicanos, da esquerda de Weimar e dos combatentes da Guerra Civil Espanhola. Os agricultores lendo El Machete e o militante camponês na Índia lendo o poeta comunista turco Nâzim Hikmet em uma cabana durante a grande fome de Bengala de 1943 retratada na xilogravura de Chittaprosad sugerem lugares onde esperamos que o Plano seja discutido. Esperamos que ele seja usado não apenas como uma crítica do presente, mas como um programa para uma sociedade futura que construiremos no presente.
Cordialmente,
Vijay