Pesquisa das Juventudes em Periferias Urbanas

 

Os entregadores de aplicativos continuam se organizando e ganhando visibilidade e espaço nos meios de comunicação. Foto: Rovena Rosa/AgênciaBrasil.

N° 01/2021

 

Aumento do desemprego, incerteza na volta às aulas, problemas de saúde e fome; estes foram alguns dos temas que permearam a vida da juventude brasileira no mês de abril.

 

Desemprego

. A falta de trabalho ainda se apresenta como um dos maiores problemas para a juventude no Brasil. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a desocupação chegou a 29,8% entre os jovens trabalhadores de 18 a 24 anos no quarto trimestre de 2020, o que representa cerca de 4,1 milhões de pessoas nesta faixa etária buscando emprego. Segundo pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), cinco em cada dez profissionais formados entre 2019 e 2020 estão sem trabalhar.

. Os entregadores de aplicativos continuam se organizando e ganhando visibilidade e espaço nos meios de comunicação. Em entrevista, Paulo Lima, mais conhecido como Galo, do movimento dos entregadores antifascistas, contou sobre como foi percebendo o racismo na sua infância, a importância do rap e dos saraus das periferias na sua formação política e fez uma crítica à democracia que nunca chega na periferia.

. Enquanto os entregadores antifascistas denunciam a falácia do empreendedorismo, o governo federal, em outubro de 2020, lançou o programa Horizontes por meio da Secretaria Nacional da Juventude, que continua sendo implementado com editais de fomento ao empreendedorismo e à inovação entre jovens de 18 a 29 anos em situação de vulnerabilidade social.

 

Fome e solidariedade

. 80% das famílias de classe média tiveram alguma queda na renda desde o início da pandemia. A chamada classe C, que cresceu e se consolidou na ascensão pelo crédito e consumo durante os governos do ex-presidente Lula, tem sido rapidamente empurrada de volta às classes D e E, ou, ainda, caindo direto para a miséria. Em 2019, antes da pandemia, o Brasil tinha cerca de 24 milhões de pessoas na extrema pobreza; hoje, são 35 milhões. E há uma novidade nesse grupo: muitos não se encaixam no perfil clássico do miserável brasileiro (oriundo de famílias muito pobres e com baixa escolaridade). É o caso de famílias de jovens que, ao longo dos anos 2000, concluíram o Ensino Médio e ingressaram no Ensino Superior, inflando a chamada classe C, e que tem feito um percurso rápido de declínio direto à miséria.

. Com o aumento da miséria e o retorno do Brasil ao mapa da fome, movimentos sociais têm promovido campanhas de solidariedade. É o caso da campanha Periferia Viva, uma parceria entre movimentos do campo e da cidade para arrecadação de alimento e consolidação da organização popular nos territórios. A Coalização Negra por Direitos, composta por mais de 200 entidades ligadas ao movimento negro, lançou a campanha Tem Gente Com Fome no mês de março. A Central Única das Favelas (Cufa), o G10 Favelas e o Banco de Alimentos também são campanhas que têm se destacado no país, com forte presença da juventude.

Vacina e a volta às aulas

. O retorno ao ensino presencial segue em debate. O PL 5595/20, que prevê a reabertura de escolas e faculdades durante a pandemia, foi alvo de disputa durante 7 horas de votação no Plenário da Câmara dos Deputados. Aprovado, o texto torna educação básica e superior serviços essenciais, impossibilitando-os de serem interrompidos durante a pandemia. O projeto segue para votação no Senado e, caso aprovado, segue para sanção presidencial.

. Profissionais de educação foram incluídos nos grupos prioritários para receber a imunização contra o novo coronavírus. No Rio de Janeiro, profissionais das redes pública e particular de 57 a 59 anos já começaram a ser vacinados. Em São Paulo, teve início a vacinação deste profissionais a partir dos 47 anos.

. O fechamento das escolas e o ensino remoto tem impactado de forma desigual a vida dos jovens, no que diz respeito a classe, gênero e raça. A qualidade do aprendizado dos estudantes de escolas públicas (em sua maioria negros e de classes mais baixas) esbarra nas limitações de infraestrutura de suas moradias, no acesso à internet, na renda e na estrutura familiar, que também foram impactadas pela crise sanitária, com pouco apoio estrutural do Estado; as jovens estudantes das periferias, por exemplo, têm sido obrigadas a deixar seus estudos enquanto retornam ao papel que historicamente sempre coube às mulheres: o trabalho doméstico. A Unicef (agência da ONU para a infância) calcula que 5,5 milhões de meninos e meninas tiveram seu direito à educação negado durante a pandemia no Brasil.

. Como a geração Z lidará com a possibilidade de inovar o ensino e a educação? Profissionais que investigam a temática educacional têm apostado que a geração Z, que está vivendo as dificuldades do atual momento, será responsável por trazer inovação e soluções para melhorar o modelo educacional.

Saúde  

. Pressão, medo do desemprego e direitos cada vez mais escassos são questões relacionadas à juventude que segue empregada, compondo cada vez mais a legião de trabalhadores adoecidos pela precarização do trabalho intensificada na pandemia. Trabalhar por metas e em casa gera sobrecarga, insegurança, invade o tempo livre e aumenta as chances de adoecimento físico e psíquico.

. Os cartórios do Rio de Janeiro registraram aumento de mortes por Covid-19 na população mais jovem, entre 30 e 49 anos, em oposição à concentração das mortes nas faixas mais avançadas (acima de 60 anos), como vinha ocorrendo no primeiro ano da pandemia no Brasil.

. Pela primeira vez, adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas em meio aberto terão acesso integral a ações conjuntas entre políticas de saúde e assistência social, segundo Nota Técnica Interministerial elaborada pelos ministérios da Cidadania e da Saúde, que permite que o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) atuem juntos na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei (PNAISARI).