Ilustração realizada para a Exposição de Cartazes Anti-Imperialistas. “Solução incorreta”, Iran.

 

Este texto faz parte do Concurso de Ensaios Tricontinental | Nada será como antes.

 

Por Edilson de Jesus Santos

 

A noite aguardávamos em desespero e em esperança o resultado das eleições
Estávamos aflitos e com medo do resultado da desgraça que viria

Soltaram fogos pela rua e a cada estouro,
Sentia como se balas atravessassem nossos corpos

 

Chorei desesperadamente, feito criança que sente que perdeu o que lhe traz gozo

 

Recebi um abraço tão acolhedor de Kau
Como se fosse uma redoma blindada que parecia me proteger, mas me molhava, pois ele também chorava

 

Sabíamos que nossas vidas seriam ainda mais difíceis, principalmente porque temos compromissos com outras estéticas

 

Choramos juntos

 

Recebemos visitas, acendemos uma vela e parimos uma espécie de Sarau que resolvemos nomear “A gente combinamos de não morrer”. (Conceição Evaristo)

 

Recitamos poemas, escutamos músicas (o samba da Mangueira foi tão marcante), na tentativa de aumentar nossas potências de (re) existir

 

Hoje, 03 de maio de 2020, estamos num cenário muito pior do que poderíamos imaginar
Enfrentamos uma pandemia e um pandemônio (sim, ele ganhou)

 

Kau fez uma vídeo chamada junto com Iza (e depois Filipe), acendi uma vela, não choramos, a gente riu e leu poemas
Porque “a gente combinamos de não morrer” resiste aos ataques à vida