Refletir sobre a dívida externa e o papel dos organismos financeiros internacionais implica pensar uma questão de longo prazo. No caso dos países da América Latina e do Caribe, a dívida pública passou por seu desenvolvimento (ou seu subdesenvolvimento) de diferentes formas, embora, intuímos, com base em elementos comuns.

A grande questão que se coloca em meio a tudo isso é: como sair dessa armadilha? Antes de tudo, a principal tarefa é caracterizar a questão como um fenômeno estrutural: o que é, por que existe, quais são suas principais características, entre outras grandes questões norteadoras.

Por isso do Observatório da América Latina e do Caribe (Obsal), do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, lançar a cartilha de Debates Estratégicos de Nuestra América, cujo primeiro tema fala sobre A grande fraude: dívida, FMI e neoliberalismo.

Este é precisamente o ponto de partida da abordagem que o Obsal está fazendo neste momento, e que definiu sintetizá-lo em duas grandes questões. Primeiro, que papel geopolítico a dívida desempenha na vida dos povos latino-caribenhos. Então, através de quais instrumentos e políticas ela sobreviveu como um grande problema ao longo dos anos. A partir dessas questões, que percebemos como estruturais, nos propusemos a dialogar com analistas e ativistas com larga experiência no assunto, bem como a produzir materiais que pretendam sintetizar informações básicas nessa perspectiva.

Nesta primeira cartilha nos encontramos com o olhar de Éric Touissant, entrevistado por José Seoane e Emilio Taddei; com o de Rosa Marques, entrevistada por Marcelo Depieri, e com o de Mónica Peralta Ramos, entrevistada por Leticia Garziglia e Fernando Vicente Prieto. A esses diálogos acrescentamos um resumo dos principais marcos da história do FMI, principal ator no assunto, elaborado por Laura Capote; e um artigo que revisa historicamente o papel da dívida na América Latina e no Caribe e o relaciona com a estrutura de dependência em relação às potências imperiais de cada etapa histórica, desde o século XIX até o presente, escrito por José Seoane e Carlos Mauricio Ferolla. Por fim, na última seção, Francisco Cantamutto e Emiliano López analisam especificamente o caso argentino, em particular o processo de renegociação da dívida assumida pelo governo de Mauricio Macri, e as consequências para a população.