Ilustração realizada para a Exposição de Cartazes Anti-Imperialistas. “Ver, Latinoamerica lucha”, por Gerónimo Dellacasa (Argentina).

 

Este texto faz parte do Concurso de Ensaios Tricontinental | Nada será como antes.

 

Por Nathã Schock da Silva

 

Fechei meus olhos,
mas não havia morrido.
Não totalmente,
eu ainda estava ali.
Mas ao meu lado, milhares se foram.
E a maioria nem pode se despedir.
Por ganância dos corvos,
sucumbiram por aqui.

 

Quando acordei,
vi miséria de um povo sofrido.
Vi os daqui sendo assassinados pelos de fora.
Outrora hipocrisia ensanguentada.
Ao aroma de carniça.
Vi muitos dos meus, sendo,
massacrados,
pisados,
e expulsos de seus lares.
Por outrem, os chefes da podridão.

 

Ao abri meus olhos.
Dei um suspiro forte.
Olhei e vi.
Meus irmãos lutando por um respirador.
A vida e a morte chorando, abraçadas.
Durante a triste batalha.
Não pude segurar as lágrimas,
quando avistei o ceifador.
Com seu paletó de cédulas reais.
Comemorando a carnificina que se sucedeu.

 

Fechei os olhos então mais um vez.
Em suplica de ajuda,
na busca do entender.
Abri as portas do consciente, e procurei.
Infinitamente,
forças para lutar.
A dor era grande,
mas já não adiantava chorar.

 

Abri os olhos novamente.
E a frase ecoava na minha cabeça.
“Se lá eles não fazem nada, nós fazemos por aqui.”
O levante popular,
salvaria o país.
Dei a mão aos irmãos que me restaram.
E estendi meus braços à aqueles,
que já não tinham onde segurar.

 

Nesse momento entendi,
mais profundamente,
O que seria amar.
Me colocar como unidade,
de um corpo maior.
Um novo tempo estava nascendo.
E cabia a mim.
Dar continuidade a tudo que aprendi.
É sim tempo de lutar.
Tempo de dividir.
A solidariedade nunca foi tão necessária,
quanto é por aqui.

 

Dividir o que tem,
e não só o que sobra.
É uma grande diferença,
na nossa historia.
O Projeto Popular, está cada vez mais preciso.
E se não quisermos morrer na banheira de ganância,
dos severos sanguinários.
Devemos levantar.

 

Ao adormecer em lucidez.
Tive a percepção, que o futuro do pais,
esta nas mãos da cultura.
A que cada um leva no coração.
A arte de criar,
de ser artista da diversidade.
Esta no caminho
de toda essa solidariedade.

 

Então enxerguei.
A vitória de um país promissor.
Onde o povo teve voz,
e foi seu próprio respirador.
Agora os corvos,
já não chegariam no poder.
O projeto popular
estava afim de acontecer.

 

Antes que pudesse levantar os olhos,
naquela ultima vez.
Vi o povo se erguendo com imensa fluidez.
Era a projeção mais linda que já se viu.
Onde um,
já não era um só.
Era bem mais que mil.
O Projeto Popular salvaria o Brasil.

 

Nós abraçamos num laço só.
E lutamos.
Não deixaríamos mais
passar impunes.
Os que insistiam
em nós matar.
Fica a visão.
Chegou a hora e vamos levantar.

 

As culturas de mãos dadas.
Com o destino,
de um povo lutador.
Seremos nosso próprio redentor.
Viemos pra ficar.
Nenhum direito a menos.
O projeto popular
Vai começar.