Relatório da Oxfam, O Vírus da Desigualdade, aponta como a pandemia de coronavírus ampliou as desigualdades em todo o mundo.

 

São Paulo, 30 de janeiro de 2021

Nº 03/2021

 

 

Olá amigos e amigas,

Espero encontrá-las bem.

No Giro Econômico  dessa semana, destacamos três principais temas para a conversa. O primeiro trata-se das perspectivas para a economia global na visão do FMI e uma comparação com os dados do Banco Mundial; o segundo sobre o Monitoramento dos Investimentos Estrangeiros Diretos no ano de 2020 e as perspectivas para 2021; e por fim, o estudo do Vírus da Desigualdade feita pela Oxfam e o debate no Brasil sobre o Auxílio Emergencial e Teto de Gastos. Também apontamos no final outras notícias da semana.

Esperamos que esse Giro seja útil e reforçamos a importância da opinião de vocês sobre essa publicação semanal do Instituto Tricontinental. Nos envie suas sugestões e críticas.

 

Boa Leitura!
André Cardoso

 

1. Perspectivas para a economia global – visão do FMI

Nas previsões para a economia global desse mês, o último relatório vem do Fundo Monetário Internacional (FMI), no Informes da Perspectiva da Economia Mundial. Para o Fundo, ainda vivemos dentro das incertezas da pandemia da Covid-19 e, mesmo que haja bons sinais para o futuro com o início da vacinação em diversos países, as novas ondas de contaminação pelo mundo ainda mantém um quadro de incertezas para o ano.

A estimativa de queda do PIB mundial no ano passado é de -3,5%, e a projeção de crescimento para o PIB mundial em 2021 é de 5,5% (mais otimista do que a última previsão de 5,2%) e de 4,2% em 2022. Como nas previsões do Banco, o crescimento é bem desigual entre as regiões, pois depende de como os Estados auxiliam o acesso ao atendimento médico e às políticas de apoio à população mais atingida, como mostra o quadro síntese abaixo.

Como era de se esperar, os trabalhadores informais ou de baixa escolaridade, os jovens e as mulheres sofreram perdas de renda desproporcionais. A previsão é que cerca de 90 milhões de pessoas caiam na pobreza extrema em 2020–21, revertendo as tendências das duas últimas décadas.

Para que o crescimento seja generalizado é preciso uma estreita cooperação internacional, com destaque para o financiamento do Fundo de Acesso Global às Vacinas (COVAX) e a garantia de sua distribuição universal, bem como o auxílio aos países mais pobres – que tem apontado níveis extremos de endividamento – por meio de acesso adequado à liquidez internacional.

 

Tabela 1 – PIB global, Banco Mundial e FMI

2020 e 2021

Fonte: Banco Mundial e FMI

 

2. Investimento Estrangeiro Direto Global 2020 e 2021:

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) apresentou seu Monitoramento das Tendências de Investimento Global, ao agregarem as informações das Cepal apresentadas no Giro da semana passada. O relatório focou exclusivamente nos Investimentos Diretos Estrangeiros (IED) e apontou as perspectivas para 2021 diante do quadro encerrado em 2020.

Segundo a UUNCTAD, houve uma queda em 2020 de 42% no IED global só comparado à década de 1990, e ficou 30% abaixo do vale de investimento que seguiu da crise financeira de 2008.

A queda se concentrou nos países desenvolvidos, que apresentaram uma diminuição de 69% nos fluxos. Nos países ditos em desenvolvimento, as quedas foram bem desiguais: a América Latina teve refluxo de -37%, a África de -18% e a Ásia de -4%. Apenas China e Índia apresentaram crescimento de 4% e 13%, respectivamente. Os países em desenvolvimento representaram 72% de todo o IED global.

As perspectivas para 2021 continuam com esse quadro de baixa, com poucos anúncios de fusões e aquisições, investimentos em novos campos e financiamento de projetos. A grande preocupação é com os países em desenvolvimento, em que os anúncios de novos campos caíram 46% e o financiamento de projetos internacional em -7%. Esses tipos de investimento são fundamentais para o desenvolvimento da capacidade produtiva e da infraestrutura.

O que é esperado em termos de investimentos não se encontra em ativos produtivos, mas localizados nas fusões e aquisições internacionais, com destaque para as áreas de tecnologia e saúde, setores mais impactados pela pandemia. Os grandes compradores nesses processos de fusão e aquisição – em torno de 80% das empresas – se encontram nas economias desenvolvidas, em especial na Europa.

 

3. O vírus da desigualdade, o Auxílio Emergencial e o Teto de Gastos

O relatório da Oxfam, O Vírus da Desigualdade, aponta como a pandemia de coronavírus ampliou as desigualdades em todo o mundo, em que os mil maiores bilionários do mundo levaram apenas nove meses para que suas fortunas retornassem aos níveis pré-pandemia, enquanto demorará mais de uma década para que as pessoas mais pobres recuperem sua renda pré-pandemia. Em paralelo a esse processo, o governo Bolsonaro, em harmonia com o mercado financeiro, continua rechaçando a retomada do Auxílio Emergencial no Brasil que possibilitaria um alívio aos mais necessitados.

As elites vão mais longe e mostram preocupação com a possibilidade do governo federal ceder à pressão da fome e da miséria e romper com a política do Teto dos Gastos, uma vez que a consideram a única e principal âncora fiscal. Para acalmar  o “mercado”, Bolsonaro diz que os brasileiros precisariam conviver com a doença e que o Auxílio Emergencial quebraria o país; já Paulo Guedes compara o auxílio a uma bomba atômica, ameaçando mais cortes na educação, saúde e segurança pública.

O jornal Valor Econômico, em seu editorial, tenta apresentar uma solução de consenso, entendendo o impacto na desigualdade e agudização das crises vividas com a não retomada do Auxílio Emergencial diante de mais uma grande onde de contágio da Covid-19, dizendo que é possível emplacar um novo auxílio respeitando o Teto de Gastos.

Entre as possibilidades está a proposta de Guedes de retirar os programas menos focados em renda – abono salarial, auxílio defesa, salário família etc. para bancar o auxílio. Ou seja, pegar dos mais pobres para dar aos mais pobres. Outra proposta é a aceleração da votação das PECs. Mas acima de tudo, respeitar o Teto de Gastos.

O manifesto do Coletivo Arroz, Feijão e Economia, assinado por diversos economistas, defendem o impeachment de Bolsonaro, a extensão do Auxílio Emergencial e o acesso universal às vacinas contra a Covid-19. “Nós, economistas e estudantes de economia, sabendo da importância do exercício cotidiano da Economia na garantia de bem-estar da população, defendemos o papel ativo das instituições de pesquisa e do Estado frente à crise sanitária e econômica causada pela pandemia de Covid-19. Nesse duro momento do nosso país, precisamos de saídas que protejam a vida, a renda, o acesso à saúde e que combatam o aumento das desigualdades que acometem o povo brasileiro. Por isso, é urgente o posicionamento e a mobilização favorável ao impedimento de um dos maiores agravantes da crise que vivemos hoje, o Presidente da República”, afirma o manifesto.

 

4. Outras notícias econômicas da semana:

O presidente chinês, Xi Jinping, na edição virtual do Fórum Econômico Mundial (WEF), reforçou em seu discurso a necessidade de se evitar uma “nova guerra fria”, em alusão indireta aos EUA. Xi reiterou sua defesa do multilateralismo e da cooperação mundial para lidar com a pandemia do coronavírus e defendeu um papel maior do G20 na governança econômica global, especialmente diante da “precária” situação da recuperação

O Boletim Macro do Ibre/FGV de janeiro apresenta as estimativas sobre o começo do ano para a economia brasileira, com a expectativa de sinais mais disseminados de retomada apenas a partir do segundo semestre. A expectativa de crescimento é de 3,5% para o PIB em 2021.

A arrecadação total das Receitas Federais em 2020 foi de R$ 1,479 trilhão, 3,75% abaixo do ano anterior. No início do ano a previsão era de queda de 10% do PIB.

resultado primário do Governo Central em dezembro de 2020 foi deficitário em R$ 44,1 bilhões, contra um déficit de R$ 14,6 bilhões em dezembro de 2019. A receita líquida, em termos reais, diminuiu R$ 69,3 bilhões (-34,5%), enquanto a despesa total decresceu R$ 40,5 bilhões (-18,7%) em comparação a dezembro de 2019. No acumulado de 2020, houve déficit primário de R$ 743,1 bilhões frente a um déficit de R$ 95,1 bilhões em 2019 (em valores nominais).

resultado do CAGED de dezembro de 2020 foi de -67.906 vagas. Em dezembro de 2019 foram fechadas 307.311 vagas. Trata-se do melhor saldo desde 1995. Para o ano de 2020 foram gerados 142.690 empregos.

As medidas de enfrentamento da pandemia de Covid-19 fizeram com que o estoque da Dívida Pública Federal (DPF) encerrasse o ano de 2020 atingindo o recorde histórico de R$ 5.009,62 trilhões. Em novembro, o montante era de R$ 4.787,98 trilhões, o que representou um aumento nominal de 4,63%.

A taxa de desemprego foi de 14,1% no trimestre encerrado em novembro de 2020, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua)/IBGE. A taxa foi a mais alta para esse trimestre móvel desde o início da série histórica da pesquisa, em 2012. Em relação ao trimestre encerrado em agosto (14,4%), o cenário é de estabilidade. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (11,2%), o aumento é de 2,9 pontos percentuais. O número de desempregados foi estimado em 14 milhões.

Em 2020, o crédito ampliado ao setor não financeiro totalizou R$ 12 trilhões, equivalente a 162,1% do PIB, segundo dados do Banco Central. Esse saldo representou expansão de 16,9% no ano, acelerando em relação ao crescimento de 9,5% observado em 2019. O desempenho do crédito ampliado resultou do aumento nos saldos da dívida externa (23,4%), em função da depreciação cambial do ano (em dólares, a dívida externa do setor não financeiro permaneceu praticamente estável) e do crescimento dos empréstimos e financiamentos (15,3%) e dos títulos de dívida (15,2%).