Olá amigos e amigas,

Espero encontrá-las bem.

No Giro Econômico  dessa semana, destacamos três principais temas para conversa. O primeiro trata-se das perspectivas do comércio internacional da América Latina e Caribe feita pela Cepal, o segundo sobre o tema da vacina e seus insumos; e por fim, algumas notícias sobre as previsões econômicas de 2021. Também apontamos no final outras notícias que a semana trouxe.

Esperamos que seja útil esse Giro, reforçando a importância da opinião de vocês sobre essa publicação semanal do Instituto Tricontinental. Nos envie suas sugestões e críticas

Boa Leitura!
André Cardoso
Coordenação
Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
[email protected]

São Paulo, 23 de janeiro de 2021
Nº 002/21

 

1. Cepal – Perspectivas do Comércio Internacional da AL e do Caribe

Nessa semana, foi a vez da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) apresentar um balanço do ano de 2020 e perspectivas para 2021 com foco no comércio internacional. O documento Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e Caribe tem como ideia central que a chave para a recuperação da crise que vivemos é a integração regional do continente.

O valor estimado das exportações regionais caiu -13% em 2020 e as importações apresentaram queda de -20%, sendo o pior desempenho do continente desde a crise financeira global de 2008. A avaliação é que a região vem se “desintegrando” comercial e produtivamente desde meados da última década e com a pandemia da Covid-19 o quadro se agudizou.

A pandemia intensificou outras tendências já presentes no comércio global como as tensões comerciais e tecnológicas entre os Estados Unidos e a China, o crescente nacionalismo econômico e conflito nas relações comerciais; o enfraquecimento da cooperação multilateral; a digitalização da produção e do comércio; e a tendência de regionalização da produção por nearshoring (localização dos fornecedores em países mais próximos do mercado-alvo) e reshoring (relocação de processos produtivos e tecnológicos estratégicos para o país de origem).

O relatório também trás um capítulo especial sobre as desigualdades de gênero no comércio internacional. Destaca que a especialização produtiva e comercial combinada com a segregação de gênero no mercado de trabalho condicionam a quantidade e o tipo de emprego das mulheres no comércio internacional. Em 2018, segundo informações disponíveis para dez países da América do Sul e do México, uma em cada dez mulheres ocupadas estava em setores ligados à exportação. Além disso, as mulheres estão concentradas em poucos setores (indústria têxtil e de confecção e em alguns serviços como o turismo), enquanto os homens estão distribuídos em todos os setores de exportação.

Dessa forma, a Cepal enfatiza que é necessário fortalecer a integração e a complementação produtiva regional, garantindo a participação da mulher em setores estratégicos para a mudança estrutural com igualdade de gênero em um mundo pós-pandêmico.

2. A Vacina no mundo e a falta de insumos para sua produção

Outro forte tema na semana girou em torno da produção e acesso as vacinas pelo mundo, tendo a China, mais uma vez, como o centro dessa produção e combate ao vírus.

Pelo Instituto Tricontinental já vimos trabalhando como os países socialistas vem enfrentando a pandemia e o destaque da China nesse processo, garantindo não só a contenção do contágio em seu território, como a ajuda internacional no fornecimento de materiais hospitalares e envio de seus médicos nessa política de solidariedade internacional. Uma reportagem do El País – Brasil analisa porque alguns países são mais eficientes que outros na luta contra a covid-19.

A China é um dos principais produtores da vacina e de seus insumos (como o ingrediente farmacêutico ativo – IFA), com um parque industrial composto por quatro fábricas com capacidade para produzir 3 bilhões de doses contra a covid-19 por ano. Por conta disso, o país tem equilibrado a demanda interna para imunização da sua população e a exportação da vacina e seus insumos, reforçando o seu papel estratégico na relação com outros países. E entre as principais prioridades do país é o continente africano, que tem sido palco de grandes investimentos chineses, com projetos inseridos na Nova Rota da Seda chinesa. O chanceler chinês, Wand Yi, visitado cinco países do continente nesse início de janeiro, negociando o envio de imunizantes.

O Brasil nesse contexto tem uma série de problemas que ultrapassaria os limites do boletim se fossemos elenca-los. Muitas análises, reportagens e estudos para o universo de problemas têm sido construídos semanalmente, mas destacamos como central o papel do governo Bolsonaro em executar uma estratégia institucional de propagação do coronavírus, além de seus discursos confusos, como mostra a pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP e a Conectas Direitos Humanos. O IFA das duas vacinas que serão produzidas no Brasil, uma pelo Instituto Butantã e a outra pela Fiocruz, são feitas na China e o risco da falta desse insumo é real por conta dessa política deliberada de propagação do vírus.

Em entrevista para o site UOL, a reitora da Unifesp, Soraya Smaili, afirma que o Brasil teria condições de produzir os insumos em território nacional com a quebra de patentes se houvesse investimentos no complexo da saúde. Contudo, o país caminha no sentido contrário com corte dos investimentos na área e abandonando uma bandeira histórica do Brasil na OMC ao rejeitar inicialmente a proposta de quebra de patentes feita pelos países do Terceiro Mundo, ficando ao lado dos países ditos desenvolvidos.

3. Perspectivas para economia brasileira
Por fim, as perspectivas para a economia brasileira nesse início de ano não são nada promissoras, como já era o esperado. A tão defendida recuperação em V não parece se concretizar, com a grande frustração nas expectativas de crescimento por parte dos empresários, diante da nova onda de contágios da Covid-19 que irá impactar mais uma vez o funcionamento das atividades, sendo uma política do governo Bolsonaro, como acima mencionado.A previsão é que o ano de 2020 feche com uma queda no PIB de 4,5%, segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), com uma relação dívida bruta/PIB em 90,1% do PIB, um crescimento de 15,8 pontos percentuais em relação a 2019. Segundo o Monitor do PIB-FGV a atividade econômica em novembro teve um crescimento de 1,1% em comparação a outubro, mas uma queda de -0,6% em relação a novembro de 2019. Esse crescimento se deve as atividades da agropecuária, indústria e serviços, pois pelo lado da demanda o consumo das famílias apresentou queda no mês, não recuperando o patamar pré-pandemia.

Para esse ano, a previsão do Banco Central a partir do Boletim Focus é de crescimento do PIB de 3,45%, uma inflação medida pelo IPCA de 3,34% e taxa de câmbio em R$5,00/US$.

4. Outras notícias econômicas da semana:

– O PIB da China em 2020 cresceu 2,3%, o menor índice em 44 anos, mas com a produção industrial chinesa registrando um avanço de 7,3% em dezembro, sendo o melhor resultado do ano. O último trimestre do ano teve um crescimento de 6,5%, acima das projeções dos economistas.

– As negociações de compra do Carrefour pela empresa canadense Couche-Tard foram canceladas por conta do bloqueio imposto pelo governo francês ao entender que se trata de um setor estratégico e poderia impactar na segurança alimentar do país.

– A taxa de emprego nos países da OCDE teve um aumento de 1,9 pontos percentuais, ficando em 66,7% no terceiro trimestre de 2020, mas ainda abaixo 2,5 pontos percentuais do nível pré-pandemia.
Em 2020 foram registrados 493 pesticidas no Brasil, o maior número da série histórica e a Anvisa, no final de dezembro de 2020, publicou a decisão de manter o uso do glifosato na agricultura. No caminho inverso, a China vem reduzindo o uso de defensivos nos cultivos de arroz, milho e trigo, ficando em uma faixa de 40,2% do uso de agroquímicos nessas três culturas.

– O presidente do Ipea, em entrevista para o jornal Valor Econômico, afirmou que o Brasil precisava apostar em suas vantagens comparativas e competitivas, comparando a Austrália, com as nossas vantagens da abundância de áreas cultivadas, mineração, energia, podendo ser grandes exportadores. Essa entrevista gerou fortes reações do setor produtivo, que afirmam a falta de total conhecimento do presidente sobre o papel da indústria no desenvolvimento econômico brasileiro.