Mais de 7 milhões de trabalhadores já solicitaram o programa de preservação do emprego e renda do governo federal.

 

São Paulo, 16 de maio de 2020
Nº 006/20 – semana 2

 

Síntese: O último relatório da ONU mostra um aumento de 34,3 milhões de pessoas abaixo da linha extrema da pobreza, como resultado da pandemia do Covid-19. As movimentações das multinacionais em busca de reorganizar suas cadeias de produção e a tensão mundial entre EUA e China são destaques. O protecionismo se intensificará, como afirma pesquisa com as principais multinacionais instaladas nos EUA. Os resultados do setor de serviços e comércio medidos pelo IBGE confirmam a queda na atividade econômica; o governo projeta uma queda de -4,7% no PIB, mas reforça a defesa pela austeridade fiscal. O crédito se expandiu para a maioria dos setores econômicos, mas ainda está concentrado nas grandes empresas que têm maior facilidade para adquiri-los; o setor automotivo foi o que teve maior aumento. Já são 7,2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras atendidos pelo programa de preservação do emprego e renda do governo federal, sendo que 54,9% destes tiveram os contratos de trabalho suspensos. Por fim, o consumo aparente na indústria de bens de capital apresenta queda, bem como os resultados do primeiro trimestre da Petrobras. Já o consórcio de bancos finalizou o pacote de resgate para as empresas aéreas nacionais, mas ainda não foi apresentado.

 

I. INTERNACIONAL

 

1. Segundo último relatório da ONU, a economia global poderá perder US$ 8,5 trilhões em produção nos próximos dois anos, por conta do Covid-19. Isso poderá deslocar cerca de 34,3 milhões de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza em 2020. O impacto maior está sobre os países em desenvolvimento com mais dificuldades para enfrentar a crise. O relatório afirma que a liquidez global per capita aumentou desde a crise financeira de 2008, enquanto o investimento produtivo per capita estagnou. Também apontou que os estímulos fiscais do último período não aumentaram o investimento produtivo e que nesse momento o foco deve ser investir na capacidade produtiva.

2. Os problemas exacerbados pelo CoronaChoque, como a alta dependência das cadeias de fornecimento em poucos países, como a China, têm pressionado as principais nações a implementar estratégias que contornem essa questão. Os EUA têm negociado com as empresas de semicondutores de construir novas fábricas de chips no país, incentivando o retorno de empresas como Intel, Apple e Samsung. Isso também seria uma forma de conter a liderança da China neste setor, podendo adotar restrições as empresas que fornecem microchips ao país asiático.

3. A Global Business Alliance realizou uma pesquisa com as maiores empresas internacionais instaladas nos EUA, em que mostra que 77% esperam mais protecionismo por parte dos EUA no próximo período, como resposta ao CoronaChoque. O protecionismo já era tendência antes do Covid-19, mas a crise acelerou esse processo, segundo a pesquisa. 33% das empresas entrevistadas pretendem diversificar a cadeia de suprimentos global, e 15% planeja reduzir a dependência da China. Em especial da semana, o Valor Econômico traz uma reportagem detalhada sobre a guerra comercial entre os dois países em torno das novas tecnologias disruptivas, como o 5G.

4. Nas demais regiões o quadro continua conturbado. Na China, a expectativa de retomada do crescimento será mais lenta que o esperado, dada a queda ainda em vigor da demanda externa e interna. Isso pode ser observado pela declínio dos preços ao produtor no país, com variação de 3,1% em abril se comparado ao mesmo mês do ano anterior. O petróleo foi a principal queda dos preços, com uma desaceleração de -51,4%. Já na Alemanha, o conflito tem se desenvolvido com o Banco Central Europeu que não tem cumprido com seus objetivos, segundo a corte do país, o que pode culminar em uma desintegração mais intensa da União Europeia. Por fim, o Valor Econômico realizou uma longa reportagem sobre uma possível crise da dívida dos países emergentes como desdobramento do choque do coronavírus que se avizinha.

 

II. CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

 

5. Dois indicadores do IBGE reforçam a queda das atividades iniciada no mês de março. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) apresentou uma diminuição de 6,9% no volume de serviços comparado ao mês de fevereiro. A queda nas atividades de serviços prestados às famílias, que engloba estabelecimentos como restaurantes e hotéis, desacelerou suas atividades em 31,2%. O único grupo que teve crescimento de 0,1% foi outros serviços, que reúne empresas de corretores de títulos, administração de bolsas e mercados, corretores e agentes de seguros de previdência complementar e de saúde.

6. Já a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) apresentou recuo de 2,5% no mês de março comparado a fevereiro. No varejo ampliado, que inclui o setor automotivo e da construção, o volume de vendas recuou em 13,7%. Os piores resultados foram de estabelecimentos ligados as atividades de Tecidos, vestuário e calçados (-42,2%); livros, jornais, revistas e papelaria (-36,1%); Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-27,4%); Móveis e eletrodomésticos (-25,9%); Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-14,2%); e Combustíveis e lubrificantes (-12,5%).

7. A queda na atividade no Brasil já fez cancelar 12 embarques de navios que viriam da China entre os meses de maio e junho. Com isso, a capacidade de exportação brasileira também se reduz, com gargalos futuros com a falta de contêineres e navios aqui aportados.

8. O Ministério da Economia apresentou as novas projeções para a economia brasileira para esse ano. A estimativa para o PIB é de queda de -4,7% e uma inflação medida pelo IPCA no ano de 1,77% (abaixo da meta estipulada pelo Banco Central). Segundo o Ministério, o custo da paralisação econômica semanal é de R$ 20 bilhões, e o esforço fiscal para combater o Covid-19 tem sido próximo de 5% do PIB. Apesar disso, também afirmaram que a austeridade fiscal ainda é objetivo principal do governo, e o teto de gastos é a âncora fiscal mais importante a se perseguir.

 

III. CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

 

9. O crédito teve expansão de 6,4% na maioria das atividades econômicas no mês de março, em relação ao mês de fevereiro; um valor de R$ 1,536 trilhão. Na indústria, o crescimento foi de 7% (R$ 40,8 bilhões); o maior crescimento veio do setor automotivo, com um percentual de 31,1%. Em números absolutos, o setor de serviços representou o maior montante: R$ 49,1 bilhões.

10. Segundo o presidente do Banco Central em apresentação ao setor agrícola, os bancos públicos já emprestaram R$ 76,5 bi desde metade de março até o início de maio, sendo que R$ 36 bilhões foram destinados para pessoas físicas, R$ 23,8 bilhões para grandes empresas, R$ 9,8 bilhões para micro e pequenas empresas e R$ 7,5 bilhões para médias empresas.

11. A Taxa de Longo Prazo (TLP) – referência dos empréstimos do BNDES – vem apresentando alta, atingindo o maior nível desde agosto de 2019; o atual valor é de 2,12% ano. A crítica à TLP, reformulada no governo Temer, se dá pelo fato dela se configurar como uma taxa pró-cíclica, não sendo capaz de auxiliar em momentos de crise, quando as operações de crédito do BNDES ficam mais caras como reflexo das turbulências enfrentadas.

 

IV. INFLAÇÃO E PREÇO DOS ALIMENTOS

 

12. A Petrobras, seguindo a mesma trajetória do início do mês, aumentou o preço da gasolina em 10%, embora no acumulado do ano a redução foi de 46,5% do valor do litro da gasolina. Segundo a Abicom, o preço da gasolina ainda poderia ter mais reajustes diante das principais concorrentes da Petrobras no mercado interno.

V. MERCADO DE TRABALHO E RENDA

 

13. O número de trabalhadores inseridos no Benefício Emergencial para Preservação da Renda e do Emprego já superou 7,2 milhões. Destes, 54,9% tiveram a suspensão do contrato de trabalho e 17,2% tiveram a redução de jornada em 50%. Já o número de pedidos de seguro-desemprego aumentou 1,3% esse ano em relação ao mesmo período do ano passado (janeiro a abril), com 2,3 milhões de novos pedidos. O governo federal estima que 250 mil pedidos ainda podem não ter sido realizados, mas que aconteceram no mês de março e abril.

14. Mesmo com a derrota da MP do Emprego Verde e Amarelo, o governo tem se articulado para incluir na MP 927 as alterações trabalhistas que estavam contidas na primeira. Os principais pontos são a mudança do índice de correção das dívidas trabalhistas, o fim da previsão de acidentes no trajeto como de trabalho e o fim da exigência de convenção coletiva para liberar o trabalho aos domingos e feriados.

 

VI. EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

 

15. Em seu indicador, o IPEA mostra que no mês de março houve um recuo de 11,9% no consumo aparente de bens industriais (a produção internada não exportada, somado as importações desses bens), se comparado ao mês de fevereiro. Nos três meses de 2020 a queda foi de 1,2% em relação ao último trimestre de 2019. Apenas a produção interna destinada ao consumo nacional reduziu 14%, e as importações 1,3%.

16. Um estudo organizado pela Imaflora mostra como a desigualdade da distribuição de terras no país é uma das mais altas do mundo, associada a processos históricos de grilagem, conflitos sociais e impactos ambientais. O estudo aplica o Índice Gini para essa mensuração. O índice de GIni foi de 0,73 (quanto mais próximo de 1 mais desigual). Um quarto (25%) de toda a terra agrícola do Brasil é ocupada pelos 15.686 maiores imóveis do país (0,3% do total de imóveis).

17. Os bancos finalizaram a proposta de apoio financeiro às empresas aéreas nacionais, cujo prazo para adesão é até o final da semana. O pacote fica entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões, em torno de R$ 2 bilhões por empresa, sendo 75% repassados pelos bancos por meio da subscrição de debêntures simples e 25% via bônus conversíveis em ações emitidos pelas empresas aéreas. Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e BNDES formam o consórcio de bancos envolvidos na negociação.

18. A Petrobras divulgou seus resultados do primeiro trimestre de 2020 com um prejuízo de R$ 48,5 bilhões, puxado pela baixa contábil por perda no valor de ativos e investimento de R$ 65,3 bilhões. Esse foi o pior resultado da companhia já registrado.