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FuturoPesquisa sobre os Evangélicos e a Política

Entenda a pesquisa sobre os evangélicos e a política

O que levou as pessoas, especialmente a classe trabalhadora mais empobrecida, a seguirem as igrejas evangélicas nas últimas décadas? Esta é uma das perguntas que a Pesquisa Evangélicos e a Política buscou responder nos últimos anos.

A pesquisa Evangélicos e a Política buscou compreender as principais motivações (objetivas e subjetivas) que levam as pessoas – principalmente a classe trabalhadora mais empobrecida – a seguirem as igrejas evangélicas, principalmente as neopentecostais, assim como aprofundar o tema dentro da realidade latino-americana e suas implicações políticas e sociais. Além disso, a pesquisa também procurou dialogar com o campo progressista de que esse é um tema inevitável para avançar no trabalho de base e no diálogo com a classe trabalhadora. Aqui, você encontra uma pequena síntese do que este eixo de pesquisa do escritório Brasil do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social conseguiu acumular nos últimos anos sobre o tema.

Trabalho de Base

Você sabia que o trabalho de base é uma ação política essencial, feita por militantes em territórios populares? Se grande parte da classe trabalhadora hoje é evangélica, como realizar esse trabalho de forma eficaz? Com essas questões em mente, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e movimentos populares lançaram a cartilha Resistir com Fé: os evangélicos e o trabalho de base, em 2021. Ela é um ponto de partida fundamental para quem atua nas periferias, já que 30% da população brasileira é evangélica. Necessitamos ir além do discurso “precisamos falar com os evangélicos”. Se estamos dialogando com a classe trabalhadora, já estamos em contato com eles; senão, estamos presos numa bolha que precisa ser rompida. A cartilha resgata a historicidade dos evangélicos no Brasil, desmistifica preconceitos da esquerda e reconhece que as igrejas são espaços de acolhimento e lazer, além de abordar as percepções mútuas entre a esquerda e os evangélicos. Márcia Silva, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), também contribui com um relato sobre o trabalho de base realizado durante a pandemia pelo Grupo de Trabalho de Espiritualidade na Campanha de Solidariedade Nós por Nós contra o Coronavírus – Periferia Viva DF, que você pode conferir aqui.

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Evangélicos e movimentos sociais

Dentro do desafio de diálogo e trabalho de base, as pautas de gênero sempre emergem com força quando relacionadas aos evangélicos. Para aprofundar essa questão, realizamos a escuta de 15 mulheres evangélicas que integram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O estudo, dividido em quatro partes, foi desenvolvido com base em entrevistas realizadas durante o primeiro Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, em março de 2020. A partir dessa vivência e dos aprendizados compartilhados, buscamos mostrar que a fé evangélica e os movimentos populares podem se unir na luta por terra, justiça e dignidade, apesar das possíveis contradições. Para compreender melhor a relação entre gênero, religião e MST, também foram realizadas entrevistas com dirigentes do movimento de diferentes regiões do país.

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Projeto de Poder

É importante destacar, como diria uma companheira do MST, que “a igreja é muita coisa”. Isso significa que, além de espaços de fé e acolhimento, há um projeto de poder articulado por alguns grupos evangélicos no Brasil. Esse projeto avança em áreas como políticas públicas, educação, saúde e outros espaços de poder, guiado pela chamada Teologia do Domínio, que tenta impor suas crenças e valores. Estamos falando do Fundamentalismo Religioso, um fenômeno que vai além do Brasil e se espalha por toda a América Latina, com raízes nos Estados Unidos. Quer entender mais sobre esse tema e as resistências que estão acontecendo? Confira nosso dossiê 59 sobre o assunto: Fundamentalismo e Imperialismo na América Latina: Ações e Resistências.

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Articulação latino-americana

Na busca por aprofundar as relações latino-americanas, foi essencial olhar atentamente os desdobramentos nos territórios, desconstruindo a visão limitada sobre os evangélicos e compreendendo a importância das igrejas na vida cotidiana da classe trabalhadora. O Instituto Tricontinental, em parceria com o Otros Cruces — uma organização que explora as interseções entre religião e política no espaço público —, procurou entender como as pessoas de fé pensam sobre direitos humanos e lutas sociais e refletiu sobre como construir pontes entre militantes e pessoas de fé nas comunidades e nos diferentes espaços onde os entrevistados estão inseridos, seja na Argentina, Brasil, Chile e Honduras. Essa pesquisa se tornou um livro, em português e espanhol, que você pode baixar gratuitamente aqui.

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Como os evangélicos ocuparam as mídias

Na tarefa de desvendar o mundo evangélico, acompanhamos diariamente ao longo de dois anos as notícias sobre os evangélicos e sistematizamos mensalmente o que apareceu em diversas mídias – tanto conservadoras quanto progressistas. Ali pudemos comprovar que o mundo evangélico é diverso e heterogêneo, assim como as ações do campo progressista evangélico na luta pelos direitos das mulheres, da população LGBTQIOA+, contra o racismo religioso, a solidariedade crente nos territórios periféricos, além da forma de ação dos evangélicos fundamentalistas no governo Bolsonaro e os crimes cometidos contra religiões de matriz africana e contra as espiritualidades originárias. O Observatório foi um exercício diário de aproximação e revisão crítica também das visões distorcidas que temos enquanto esquerda dos evangélicos (muitas vezes colocados como vilões, sem considerar suas diversidades e múltiplas identidades).

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Artigos nas mídias alternativas

A partir desse olhar cotidiano sobre a conjuntura e na tarefa de avançar na Batalha de Ideias, em alguns momentos trouxemos o nosso olhar sobre o tema nas mídias progressistas, com artigos no Brasil de Fato, Carta Capital e Jornal GGN. Destacamos o texto sobre Cristofobia, em resposta direta a uma ideia falaciosa de perseguição dos cristãos emitida pelo então presidente Jair Bolsonaro. Também debatemos as eleições em diversos textos nesses canais – insistindo que não há um ‘voto evangélico”, mas que esse voto é da classe trabalhadora, ou seja, está sempre em disputa. E temos uma coluna mensal na Carta Capital para debater este tema, com destaque para a defesa de que hoje a Bíblia é o livro da classe trabalhadora e, por isso, temos a tarefa urgente de compreendê-la para ampliar o diálogo com o povo.

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Metodologia de pesquisa

Os materiais produzidos pela pesquisa só foram possíveis pela relação direta que tivemos ao longo dos últimos cinco anos com os movimentos populares, em destaque para o MST e o MTD. A pesquisa contou com uma coordenação política pedagógica diversa, contemplando o campo teórico-científico e o campo popular que instigou novas perguntas e esteve no cotidiano do processo da nossa investigação. Compreender as demandas concretas dos movimentos sociais referente ao tema ampliou nosso horizonte de atuação e nos auxiliou em reflexões que foram fundamentais para avançar do ponto de vista teórico e científico. O tempo da pesquisa e o tempo da política obviamente são desafios concretos nesse sentido, mas, felizmente, contamos com o compromisso de um coletivo que soube entender o papel de cada um na busca desse conhecimento. Uma parte dessa experiência foi contada no texto Ciência Popular e Transformação Social da Revista Estudos do Sul Global, organizado pelo Instituto Tricontinental. Neste texto, junto a outras pesquisas do Instituto, abordamos “como fazemos o que fazemos”, não como uma receita pronta, mas um chamado para pensarmos novas formas de fazer pesquisa a partir do nosso chão: periférico, diverso, popular e latino-americano.