Pesquisa da Juventudes em Periferias Urbanas

Projeto do governo no Congresso pretende reduzir a idade para trabalhar de 16 para 14 anos. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

 

N° 06/2021

Tornar-se jovem na pandemia

. O Brasil chega em outubro ultrapassando as mais de 600 mil mortes pela Covid-19. Tornar-se jovem nessa conjuntura de crise traz uma série de ansiedades, autocobranças e frustrações que impactam os sonhos, o futuro e a saúde mental da juventude.

 

Educação sob o CoronaChoque

. Para 2022 está prevista a implantação do “novo ensino médio”, que pretende reformular os conteúdos e carga horária do ensino médio no país. Especialistas apontam para um aumento da desigualdade na implantação dessas mudanças, na medida em que elas desconsideram a realidade local e as condições de estrutura de cada escola.

 

Juventude, Trabalho e Renda

. Os ataques do governo Bolsonaro contra a juventude continuam. Em recente iniciativa do governo, buscando precarizar e baratear o custo da força de trabalho, está tramitando no Congresso um projeto para reduzir a idade mínima para trabalhar no Brasil, de 16 para 14 anos.

. Em revisão dos dados apresentados pelo Governo Federal, feita pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) foi verificado que o número de empregos criados no último ano (2020) no país foi 46,82% menor do que o anunciado. Sendo assim, o número anunciado, que já era baixo, foi quase dividido pela metade, de aproximadamente 143 mil para 76 mil novas vagas.

. Os preços dos produtos mais consumidos pelos brasileiros tiveram aumento aproximado de 40% desde o início da pandemia. Para piorar esse quadro de inflação elevada, as taxas de desemprego não diminuem e taxa de miserabilidade é a mais alta da última década (13% da população vive hoje com menos de R$ 261 ao mês).

 

Cultura, esportes e lazer como política de segurança e produção de futuro

. Investimentos em cultura, esportes e lazer são maneiras de combater a criminalização da pobreza e são políticas fundamentais para possibilitar futuros à juventude das periferias. Duas iniciativas nos chamaram atenção neste mês: o campeonato de xadrez na Cidade Estrutural (DF), organizado pela Secretaria de Segurança Pública, e um projeto gratuito que ensina jovens do país todo a criarem games. As inscrições estão abertas.

 

Jovens trabalhadores entregadores de aplicativo

. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram no início do mês números que confirmam o que temos visto nas ruas das cidades brasileiras: o aumento dos motoristas e entregadores de aplicativo. Hoje, são 1,4 milhão de pessoas ocupando essas atividades de trabalho.

. Ainda assim, com o aumento do preço dos combustíveis, muitos motoristas de aplicativos deixaram de rodar, devolvendo carros alugados para o trabalho. Foram 30 mil só em São Paulo (SP), de acordo com a ABLA (Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis). Em 2017, os motoristas gastavam em média 20% do que arrecadavam em combustível, valor que pulou para mais de 50% em outubro.

. No mês de outubro, vimos uma greve de entregadores de aplicativo no interior paulista, que se iniciou no feriado de Nossa Senhora Aparecida, dia 12, em Paulínia, Jundiaí e São Carlos. O “breque dos app” reivindicava aumento da taxa mínima paga pelo Ifood por entrega (que está mais baixa do que o valor do litro de gasolina), o fim da coleta dupla e o fim da suspensão da conta sem justificativa. Também foram noticiados breques em Atibaia (SP), Maceió (AL) e Niterói (RJ).

. Uma opção no mercado para quem entregou o carro alugado ou não tem condições de manter um carro novo, como a Uber exige, é o trabalho como entregador de e-commerce. Os entregadores do Mercado Livre, por exemplo, são não apenas jovens, mas também idosos e por vezes famílias inteiras que têm somado jornadas de 12 a 14 horas diárias para ganhar cerca de R$ 3 mil por mês, sendo que precisam gastar com a internet do celular, a gasolina, a manutenção do carro. O valor que sobra muitas vezes não é suficiente para pagar uma cesta básica, muito menos um aluguel ou a conta de gás, que também segue subindo.

. O crescimento da categoria e a auto-organização dos trabalhadores têm trazido conquistas, como temos observado aqui no nosso Boletim. Neste mês de outubro, a Secretaria de Trabalho do DF começou a distribuir kits de segurança individuais para entregadores de aplicativos, que envolvem camisetas de manga comprida, faróis de iluminação noturna e capacete.

 

Internacional

. Desemprego entre mulheres negras na África do Sul está em 41%, quatro pontos a mais que a média nacional. Esse número pode ser ainda maior quando se considera o recorte da juventude.

 

Indicações

. Uma entrevista que trata dos “millennials “ e a relação com estímulo ao esforço e meritocracia nessa geração.

. Segundo Lúcia Garcia, economista do Dieese, os atuais jovens brasileiros “viveram o melhor e o pior do Brasil”. Para ela, temos uma geração acessou a universidade, mas vive com o desemprego dos últimos anos.

. Renê Gardim apresenta de forma didática os números recentes do IBGE sobre a desigualdade e desemprego no Brasil.

 

Nota de solidariedade

Nosso Observatório se solidariza com todas as pessoas que perderam familiares e amizades no mês de outubro para a Covid-19.