Celebrar os 100 anos de Paulo Freire é um convite para revisitarmos profundamente as nossas práticas políticas, a sua eticidade e restabelecermos um novo pacto com a esperança.

 

Nesta segunda-feira (13), o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, em parceria com as Escolas Paulo Freire (ENPF) e Florestan Fernandes (ENFF), lançam a segunda edição da Revista Estudos do Sul Global (RESG), com o tema Cem anos de Paulo Freire: um projeto de esperança.

Essa segunda edição da RESG tem a grata satisfação de apresentar uma reflexão profunda e necessária sobre o legado do pensador brasileiro, ao mesmo tempo em que reconhece e homenageia uma das principais referências mundiais do debate sobre educação popular como práxis libertadora. Essa revista tem a pretensão de vincular a memória, o legado e os desafios da educação popular a um debate de projeto para pensar a realidade brasileira, latino-americana e do Sul Global.

Nossa homenagem a Paulo Freire manifesta-se pelo compromisso com a educação popular, um dos fundamentos da concepção pedagógica capaz de movimentar a luta política no Brasil e no mundo pela inquietude e radicalidade de suas ideias na construção de um projeto emancipador.

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As experiências de alfabetização nas quais Freire se empenhou eram mais que decodificar símbolos para uma leitura estática da realidade; ele contribuiu em alfabetizar politicamente os sujeitos oprimidos por meio da problematização da realidade, a partir da vida concreta daqueles que estavam inseridos nas experiências. Por isso, podemos afirmar que Freire provocou um debate amplo sobre a sociedade, buscando compreender e encontrar soluções para a melhoria das condições sociais dos sujeitos, enxergando na educação um dos meios para garantir a libertação dos oprimidos.

O nosso homenageado é (no presente, pela atualidade do seu pensamento) um educador preocupado com a formação humana. Por causa de sua prática foi para o cárcere duas vezes durante a ditadura civil-militar no Brasil, sendo exilado para a Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça. Neste último país, atuou na assessoria do chamado Terceiro Mundo, especialmente no continente africano. Em 2012 é declarado Patrono da Educação Brasileira. Paulo Freire é um pedagogo do nosso tempo, um sujeito histórico, um educador que assumiu o compromisso com os menos favorecidos, buscando construir alternativas de libertação. Pode-se afirmar que ele é amado por quem ama o povo e odiado por quem quer nos manter oprimido.

Celebrar os 100 anos de Paulo Freire é um convite para revisitarmos profundamente as nossas práticas políticas, a sua eticidade e restabelecermos um novo pacto com a esperança, pois temos muito o que fazer pela transformação humana e social, numa perspectiva revolucionária, relacionando profundamente o conteúdo e a forma do ponto de visto político e pedagógico.

Esta edição comemorativa contém a publicação de 25 textos, organizados em três blocos divididos entre textos de convidados, artigos recebidos e resenhas. Agradecemos e destacamos a valorosa colaboração dos/as convidados/as, como o caso da Isabela Camini com o texto Atualidade de Paulo Freire e os dilemas da pandemia, ao trazer uma reflexão sobre a atualidade de Paulo Freire para o Brasil e para o mundo no contexto da pandemia, da cubana Esther Pérez, uma das maiores referências sobre o tema, com o artigo A  promessa da Pedagogia do Oprimido, em que discorre sobre o campo do trabalho prático e teórico que se costuma denominar de muitas maneiras: educação popular, pedagogia do oprimido, pedagogia libertadora, pedagogia dialógica. Neste artigo, Esther levanta uma questão fundamental: a educação popular é um movimento popular ou é uma ferramenta que está a serviço dos movimentos populares? Oscar Jara, outro convidado, nos presenteou com o artigo Sistematização de Experiências: Uma proposta enraizada na história Latino Americana, ao apresentar a Sistematização de Experiências como um processo latino-americano, fruto do esforço de construção de nossos próprios marcos de interpretação teórica a partir das nossas condições particulares de realidade.

Além destes, a revista ainda traz uma série de outros artigos que perpassam desde o debate sobre os meios de comunicação em tempos de desinformação e manipulação; sobre experiências formativas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Levante Popular da Juventude e de cursinhos populares que tem como base a teoria de Paulo Freire; discutem o papel da ciência hegemônica a serviço do capitalismo e o papel de uma “ciência popular”; argumentam sobre a importância de métodos alternativos de solução de conflitos no judiciário como instrumento pedagógico de construção de autonomias; analisam as transformações no mundo do trabalho e a constituição do precariado no contexto atual do neoliberalismo; além de transcenderem as fronteiras brasileiras, ao trazerem reflexões sobre as trajetórias e encontros entre Frantz Fanon e Paulo Freire e educação e luta popular no Sul Global.

Nesta edição, contamos também com um precioso trabalho produzido por artistas nacionais e internacionais a partir da chamada Esperançar, 100 anos de Paulo Freire, cujas ilustrações demonstram que as ideias de Freire ainda são fundamentais para nossa prática militante.

Por fim, aos leitores e leitoras da RESG, com a certeza de que estamos fazendo história como seres inacabados – já que a realidade é inacabada e, portanto, o capitalismo não é o fim -, vale ressaltar a necessidade de se cultivar o esperançar para fazermos uma sociedade diferente baseada num projeto de emancipação, para, assim, construirmos a sociedade que queremos a nós e às futuras gerações.

Viva Paulo Freire!!