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DossiêNº 87

O espírito de Bandung

Em 1955, os líderes das antigas colônias do Sul Global se encontraram em Bandung, Indonésia, reunidos por um espírito comum de libertação nacional e cooperação. Setenta anos depois, quais são os vestígios disso?

A arte deste dossiê honra a Conferência de Bandung, na qual diversos povos, nações e projetos políticos, cada um seguindo sua própria trajetória – ou órbitas – se uniram, gravitando em torno de uma luta em comum pela construção de um mundo além do colonialismo. Líderes anticoloniais e nações se reuniram em torno do espírito de Bandung, representado por um fio amarelo que costura as páginas deste dossiê. Das aspirações daquela era por libertação nacional, novos fios, novas trajetórias e um novo clima surgem no Sul Global hoje.


Há sete décadas, em 1955, os chefes de governo de 29 países africanos e asiáticos, bem como representantes de colônias que ainda não haviam conquistado sua independência, se encontraram em Bandung (Indonésia) para a Conferência Asiático-Africana. Foi um dos pontos altos no processo de descolonização, um encontro histórico. Pela primeira vez, representantes de centenas de milhões de pessoas do Terceiro Mundo se reuniram para discutir o enorme processo social conhecido como descolonização e avaliar suas implicações. Sukarno (1901–1970), que chefiou o governo da Indonésia e sediou a conferência, abriu-a com um discurso que indicava as ambições dos organizadores. Ele disse que queria que a conferência “oferecesse orientação à humanidade” e que esta “mostraria à humanidade o caminho a ser tomado para atingir a segurança e a paz”. Esses líderes se reuniram não apenas para celebrar a independência da Índia (1947), a Revolução Chinesa (1949) e a devolução de poder na Costa do Ouro (1951), que eventualmente levaria a uma Gana livre (1957); eles queriam “dar evidências de que uma Nova Ásia e uma Nova África nasceram” (Sukarno, 1955, p. 19-29).

O aliado de Sukarno, Roeslan Abdulgani (1914–2005), foi o secretário-geral da Conferência de Bandung. Durante e após o evento, ele falou sobre um “espírito de Bandung”, que descreveu como “o espírito de amor pela paz, antiviolência, antidiscriminação e desenvolvimento para todos, sem tentar intervir uns pelos outros de forma errada, mas prestar grande respeito uns aos outros” (Abdulgani, 1964 [1955], p. 89). Esse “espírito de Bandung” não era idealista; tinha uma base material enraizada nas lutas pela liberdade dos povos no mundo colonizado, que a Assembleia Geral das Nações Unidas descreveu cinco anos depois na Declaração sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos Coloniais como “um processo de libertação” que é “irresistível e irreversível”.1

Esse espírito nasceu nas lutas de massa contra o colonialismo e confluia por meio dos militantes anticoloniais quando se encontravam em lugares como o Sexto Congresso Democrático Internacional pela Paz em Bierville, França (1926), e o Primeiro Congresso Internacional contra o Colonialismo e o Imperialismo em Bruxelas, Bélgica (1927). Abdulgani refletiu mais tarde que aqueles que se encontravam nessas conferências tinham “o mesmo espírito apaixonado, e todos falavam com a mesma voz reverberante: esse é o espírito e a voz de seus povos, que foram colonizados, oprimidos e humilhados” (Abdulgani, 1955, p. 11). O espírito de Bandung era a voz de centenas de milhões que viveram sob o domínio colonial e que falavam contra o horror colonial, bem como sua esperança por um novo mundo.

Por uma série de razões, em grande parte estimuladas pelas pressões da estrutura neocolonial que se seguiram apesar do fim do domínio colonial formal, o espírito de Bandung se dissipou. Restou apenas a nostalgia por ele. As gerações nascidas após o domínio colonial não mais guardavam junto a elas o resíduo das longas e difíceis lutas anticoloniais. A agenda de libertação nacional foi corroída dentro dessas estruturas neocoloniais; os camponeses e trabalhadores da era pós-colonial viam suas próprias classes dominantes como o problema e não enxergavam os problemas herdados dessa estrutura intratável como seu inimigo. Setenta anos após a Conferência de Bandung, vale a pena perguntar se o espírito de Bandung permanece intacto, ainda que como uma etérea névoa no Sul Global. Esse é o objetivo deste dossiê, mais um ensaio que levanta algumas provocações do que o fruto de um programa de pesquisa de longo prazo.2 Esperamos que essas provocações produzam discussões e debates.


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Parte I: O significado do espírito de Bandung

Intrusos em um mundo oriental

De 5 de outubro a 14 de dezembro de 1953, o vice-presidente dos EUA, Richard Nixon, fez uma extensa viagem pela Ásia, visitando 14 países na região (do Japão ao Irã) e dois países em sua borda (Austrália e Nova Zelândia). Nixon foi à Ásia com alguns objetivos importantes: tranquilizar os aliados dos EUA sobre o armistício assinado na península coreana em julho; avaliar a posição estadunidense na Indochina, onde já havia assumido a maior parte do financiamento militar da França e mais tarde assumiria o papel militar após a derrota francesa em Dien Bien Phu, em maio de 1954; e para entender o novo papel da Revolução Chinesa na Ásia. Em suas memórias, escritas duas décadas depois, Nixon refletiu sobre essa visita e disse que “quando pensadores otimistas em Washington e outras capitais ocidentais estavam dizendo que a China comunista não seria uma ameaça na Ásia porque era muito atrasada e subdesenvolvida”, ele viu “em primeira mão que sua influência já estava se espalhando por toda a área”. Ao contrário dos soviéticos, escreveu Nixon, que “como nós, ainda eram intrusos em um mundo oriental”, “os comunistas chineses estabeleceram programas de intercâmbio estudantil, e um grande número de estudantes estava sendo enviado para a China Vermelha para treinamento universitário gratuito” (Nixon, 1978 [1967], p. 136). Os Estados Unidos, relatou Nixon a seu governo, tiveram que responder vigorosamente aos novos desenvolvimentos na Ásia que foram estimulados pela Revolução Chinesa.

Em setembro de 1954, oito países formaram a Organização do Tratado do Sudeste Asiático (Seato, na sigla em inglês) após a assinatura de um tratado de defesa coletiva chamado Pacto de Manila. Apenas três dos países estavam situados na Ásia (Paquistão, Filipinas e Tailândia), enquanto dois estavam na Europa (França e Reino Unido). Os outros três membros da Seato já haviam assinado um pacto militar em 1951 chamado Tratado de Segurança da Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos (Anzus, na sigla em inglês). Este tratado e a Seato vieram ao lado de três outros tratados importantes no flanco do Pacífico da Ásia: o Tratado de Paz de São Francisco, de 1951, entre o Japão e as Potências Aliadas; o Tratado de Defesa Mútua, de 1953, entre a Coreia do Sul e os EUA; e o Tratado de Defesa Mútua, de 1954, entre a República da China (então Formosa, agora Taiwan) e os EUA (Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2024). Em 1951, John Foster Dulles, que se tornou secretário de Estado em 1953, argumentou que os Estados Unidos precisavam construir uma cadeia de bases navais em ilhas, do Japão até a Península Malaia (que abrange partes de Mianmar, Tailândia, Malásia e Cingapura), para cercar a União Soviética e a República Popular da China (RPC). Esses cinco tratados estabeleceram as bases para tal cadeia do Japão até a Tailândia (Foster Dulles, 1958). Em 1956, um funcionário do Departamento de Estado dos EUA (1956) recebeu um memorando britânico “sobre o processo de Planejamento Militar da Seato partindo da suposição de que armas nucleares e não nucleares serão usadas na defesa da área (…) Qualquer planejamento que não levasse em consideração armas nucleares seria obviamente irrealista e não valeria a pena” (Gleenon et al., 1990, p. 180-181). Em outras palavras, os cinco tratados que cercaram a China incentivaram a colocação de armas nucleares nos limites da Ásia e autorizaram seu uso, se necessário.

É importante lembrar que nada disso era mera teoria. Os Estados Unidos já tinham usado bombas atômicas no Japão em 1945 e bombardeado qualquer infraestrutura disponível na parte norte da Coreia até o final de 1951 (os bombardeios, no entanto, continuaram até 1953) (Hwang, 2016). O Major General Emmett O’Donnell, comandante da Força Aérea dos EUA que bombardeou a Coreia, disse ao Senado dos EUA em junho de 1951: “Está tudo destruído. Não há nada de pé digno dessa palavra”. O’Donnell acrescentou que, quando as forças chinesas cruzaram o Rio Yalu na fronteira com a Coreia do Norte em novembro de 1950, a Força Aérea dos Estados Unidos aterrou seus bombardeiros porque “Não havia mais alvos na Coreia” (Stone, 1969, p. 312). Em dezembro de 1953, o presidente dos EUA Dwight Eisenhower sugeriu a Winston Churchill que os EUA lançariam bombas atômicas na China se Pequim violasse o armistício coreano. Pouco depois, em março de 1955, o governo dos Estados Unidos deixou claro para a RPC que estava disposto a usar armas nucleares se o Exército de Libertação Popular entrasse em Formosa (atual Taiwan).3

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Coexistência Pacífica

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos estavam lentamente se estabelecendo como a principal força do antigo bloco imperialista, particularmente por causa de sua enorme vantagem militar e econômica sobre uma Europa maltratada. Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha estava processando uma contrainsurgência violenta na Península Malaia (a Emergência Malaia, 1948-1960) e a França estava lutando uma miserável guerra de retaguarda na Indochina (os holandeses já haviam sido derrotados na Indonésia em 1949). O sangue encharcou o solo da Ásia e encheu as narinas dos líderes anticoloniais que vieram para Bandung. É por isso que as discussões na conferência se centraram tanto na paz e no racismo: os líderes anticoloniais presentes temiam que a velha mentalidade colonial da divisão internacional da humanidade persistisse na era pós-colonial, assim como o uso desenfreado da violência contra aqueles vistos pelos colonialistas como estando do outro lado dessa divisão. O Dasasila, ou dez princípios, de Bandung, foi elaborado com base no Panchsheel, ou cinco princípios, que a China e a Índia elaboraram em 1954 para ajudar a guiá-las em suas diferenças. Esses princípios de “coexistência pacífica” se opunham fortemente à construção de alianças e bases militares ao redor da Ásia e à ameaça de países com ataques nucleares.

Em 1956, quatro anos após a Turquia aderir à Otan, o poeta comunista turco Nazim Hikmet escreveu uma elegia para uma menina de sete anos de Hiroshima intitulada “Criança de Hiroshima”, mais conhecida pelo verso “quando as crianças morrem, elas não crescem”:

Tudo o que eu preciso é que pela paz
Você lute hoje, lute hoje
Para que as crianças deste mundo
Possam viver, crescer, rir e brincar.

Essa era a essência do espírito de Bandung. Era tão simples quanto isso. Essa essência permeia os dez princípios, que foram publicados no comunicado final da conferência, em 24 de abril de 1955:

  1. Respeito pelos direitos humanos fundamentais e pelos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas.
  2. Respeito pela soberania e integridade territorial de todas as nações.
  3. Reconhecimento da igualdade de todas as raças e da igualdade de todas as nações, grandes e pequenas.
  4. Abstenção de intervenção ou interferência nos assuntos internos de outro país.
  5. Respeito ao direito de cada nação de se defender individual ou coletivamente, em conformidade com a Carta das Nações Unidas.
  6. (a) Abstenção de utilizar mecanismos de defesa coletiva para servir a interesses particulares de qualquer uma das grandes potências.
    (b) Abstenção de qualquer país em exercer pressões sobre outros países.
  7. Abster-se de atos ou ameaças de agressão ou uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer país.
  8. Solução de todas as disputas internacionais por meios pacíficos, como negociação, conciliação, arbitragem ou solução judicial, bem como outros meios pacíficos escolhidos pelas partes, em conformidade com a Carta das Nações Unidas.
  9. Promoção de interesses mútuos e cooperação.
  10. Respeito pela justiça e pelas obrigações internacionais (Ministério das Relações Exteriores da República da Indonésia, 1955, p. 161-169).

Ao fim e ao cabo, esses princípios defendiam uma ordem internacional enraizada na Carta da ONU (1945) em vez de uma baseada na criação de blocos militares e no uso da força militar para moldar o mundo e subverter a soberania. Em suas reflexões sobre a Conferência de Bandung, Abdulgani sugeriu que esta era um fórum para “determinar os padrões e procedimentos das relações internacionais atuais” e que defendia a coexistência em vez da codestruição (Abdulgani, 1964, p. 161-169). Em 1955, 76 países haviam assinado a Carta da ONU, que mantinha obrigações de tratado para com seus signatários; cerca de 80 territórios, incluindo a maior parte do continente africano e a maioria das ilhas do Pacífico, permaneceram sob controle colonial. A Carta da ONU era então, e continua sendo agora, o documento de consenso mais importante do mundo; à medida que os países conquistaram sua independência do final dos anos 1950 até os anos 1970, eles se juntaram às Nações Unidas como membros plenos.

O espírito de Bandung viajou rapidamente, chegando no Cairo (Egito) para a Conferência de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos de 1957-1958 e depois em Acra (Gana) para a Conferência dos Povos Africanos de 1958, antes de seguir para Túnis (Tunísia), para a Conferência dos Povos Africanos de 1960, Belgrado (ex-Iugoslávia), para a Conferência de Cúpula de Chefes de Estado ou Governo do Movimento dos Não-Alinhados de 1961 e, finalmente, para Havana (Cuba), para a Conferência Tricontinental de 1966. Cada uma dessas conferências estabeleceu órgãos institucionais: a Organização de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos, o Movimento dos Não-Alinhados e a Organização em Solidariedade com os Povos da África, Ásia e América Latina. No centro deles estava a luta contra o imperialismo, com foco na ameaça nuclear e no desarmamento e no reconhecimento de que o desperdício da valiosa riqueza social em armas significava que a agenda de desenvolvimento estava sendo deixada de lado. Esse cálculo entre armas e comida estava no cerne das deliberações. Quaisquer mecanismos de controle de armas que se desenvolveram durante esse período, como o Tratado de Proibição Limitada de Testes Nucleares de 1963, foram um produto das negociações forçadas por esses projetos de Estados não alinhados do Terceiro Mundo.4

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Cooperação para o desenvolvimento

Além do apelo por soberania e paz, a era de Bandung também carregou consigo a semente para uma nova ordem econômica internacional. A cooperação Sul-Sul foi o chamado claro em Bandung. A primeira seção de seu comunicado final foi dedicada inteiramente à cooperação econômica e delineou o desejo de desenvolvimento econômico e assistência técnica. Houve também um apelo para estabelecer o Fundo Especial das Nações Unidas para o Desenvolvimento Econômico, a fim de financiar investimentos nesses países. Como o imperialismo só havia considerado adequado desenvolver as colônias como locais para produzir matérias-primas, muita ênfase foi colocada na necessidade de estabilizar os preços das commodities e desenvolver capacidades domésticas para processar essas commodities antes da exportação.

Um dos efeitos duradouros da Conferência de Bandung foi sua influência na formação de instituições e processos multilaterais que continuam até hoje, embora em uma forma quase sempre limitada ou cooptada (Rist, 2008). Isso inclui o estabelecimento do Fundo Especial das Nações Unidas para o Desenvolvimento Econômico em 1958, que mais tarde se transformaria no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em 1965. Houve também o estabelecimento da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) em 1964 e sua Nova Ordem Econômica Internacional, um conjunto de propostas que foram adotadas pela Assembleia Geral da ONU em 1974. No sexagésimo aniversário da Unctad, em 2024, o Secretário-Geral Adjunto Pedro Manuel Moreno declarou: “É com o mesmo espírito [da Conferência de Bandung] que, nove anos depois, nasceu a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad” (Moreno, 2024).

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Um mundo de golpes

Poucas semanas antes da Conferência de Bandung, em abril de 1955, o Secretário de Estado dos EUA, John Foster Dulles, teve uma reunião com o embaixador britânico nos EUA, Sir Roger Makins. Dulles disse a Makins que ele estava “consideravelmente deprimido” sobre a “situação geral na Ásia”. Essa “situação” foi incorporada por um discurso feito por Jawaharlal Nehru, o primeiro primeiro-ministro da Índia após sua independência, no Parlamento Indiano, em 31 de março de 1955, em antecipação à reunião de Bandung, na qual ele atacou a Seato como sendo um pacto hostil, a Otan, por dar apoio a Portugal para manter Goa na Índia, o regime do apartheid na África do Sul e o Ocidente, por “se intrometer” na Ásia Ocidental. O discurso de Nehru, disse Dulles, “tomou a linha geral de que a civilização ocidental havia falhado e que algum novo tipo de civilização era necessário para substituí-la”. Isso abalou Dulles, que queria sabotar a Conferência de Bandung, pois ela era, segundo ele, “por sua própria natureza e conceito, antiocidental” (Glennon et al., 1955, p. 454).

Golpes no Irã (1953) e na Guatemala (1954) anunciaram a recusa do Ocidente em permitir que uma nova ordem mundial pudesse ser construída. Isso foi seguido por uma série de golpes na África (contra o povo do Congo, em 1961, e de Gana, em 1966), América Latina (contra o povo do Brasil, em 1964) e Ásia (contra o povo da Indonésia, em 1965). Cada um desses quatro golpes produziu epicentros de reação imperialista, com os novos regimes militares nesses países desempenhando um papel continental em sufocar quaisquer desenvolvimentos progressistas. O golpe na Indonésia, que resultou no assassinato de um milhão de comunistas, foi praticamente uma vingança por Bandung.5

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Parte II: Por que não existe o espírito de Bandung hoje?

Banhado em nostalgia

Em abril de 1965, o governo sitiado de Sukarno realizou uma conferência de aniversário de 10 anos com delegados de 37 países. No entanto, foi uma pálida sombra da conferência original: a Indonésia suspendeu sua filiação às Nações Unidas em janeiro, e seus militares deixariam os quartéis em outubro para derrubar Sukarno. Em 1965, uma tentativa de realizar uma segunda Conferência Afro-Asiática em Argel, Argélia, teve que ser cancelada devido à derrubada de Ben Bella em junho de 1965; a disputa sino-soviética; e divisões entre os Estados africanos recém-independentes, com o Grupo de Casablanca ansioso por uma forma fortemente alinhada de pan-africanismo e o Grupo de Brazzaville defendendo laços mais estreitos com os antigos mestres coloniais. Como muitas das instituições que saíram da Conferência de Bandung permaneceram intactas e teriam uma influência marcante nos assuntos mundiais nas décadas seguintes, o fracasso em realizar uma segunda conferência não foi tão indicativo quanto parece. O que destruiu o espírito de Bandung foi a crise da dívida do Terceiro Mundo, que catapultou os países do mundo em desenvolvimento para uma situação permanente de dívida e austeridade e implodiu suas aspirações de desenvolvimento. Foi quando o espírito de Bandung evaporou.

A crise da dívida do Terceiro Mundo foi em si uma indicação da incapacidade do espírito de Bandung de superar, em pouco tempo, a base material da divisão neocolonial do trabalho. Ao passo que as condições subjetivas para a cooperação e a troca existiam, as condições objetivas não. Toda a infraestrutura herdada pelos Estados recém-independentes tinha sido construída pelo imperialismo para facilitar a extração da periferia para o centro. Em 1963, mais de 70% das exportações de países em desenvolvimento eram destinadas a países desenvolvidos (Balassa, 1991). Antigos laços comerciais dentro do que hoje chamamos de Sul Global tinham sido rompidos pelo colonialismo, e reconstruí-los não era uma tarefa fácil. Além disso, esses Estados recém-independentes eram responsáveis por uma pequena parte do comércio global, apesar de abrigarem a maioria da população mundial. Seu baixo nível de desenvolvimento tecnológico também impedia qualquer compartilhamento efetivo de conhecimento técnico.

Cada um dos Estados recém-independentes no processo de Bandung tinha um caráter único de formação de capital e estrutura interna de classe, e cada um permaneceu compartimentado na divisão internacional do trabalho determinada pelo imperialismo (Ahmad, 1992). Incapaz de superar o padrão de subdesenvolvimento colonial e o ataque imperialista de golpes e contrainsurgência, a crise da dívida do Terceiro Mundo inaugurou uma mudança de um espírito de cooperação para a lei da competição. Essa crise foi usada para dividir e disciplinar a periferia e reincorporá-la a um mercado global em termos favoráveis ao capital multinacional (Silva, 1982).

Em 2005, quase todos os países da África e da Ásia — 106 de 177 — compareceram à Cúpula Asiático-Africana de 50 anos em Bandung (Israel não foi convidado, nem Austrália ou Nova Zelândia, mas a maioria dos Estados insulares do Pacífico e Palestina participaram), e vários países latino-americanos estavam presentes como observadores. Chefes de governo deixaram o hotel Sovay Homann e caminharam pela Rua Asiático-Africana (nomeada em comemoração à primeira conferência) até o local, assim como seus antecessores fizeram 50 anos antes. O encontro foi banhado em nostalgia, mas também em uma sensação de que o mundo estava em transição, apesar de essa conferência ter sido realizada em meio à desprezível Guerra ao Terror, que já havia destruído o Afeganistão e o Iraque e logo devastaria uma série de outros países (incluindo a própria Indonésia, onde os bombardeios de outubro de 2002 em Bali levaram a Guerra ao Terror para o Sudeste Asiático). O comunicado final, Uma Nova Parceria Estratégica Asiático-Africana, estava cheio de conceitos neoliberais de vantagem comparativa e metas de desenvolvimento, um afastamento da lógica anti-imperialista da declaração original. O espírito de Bandung em exibição tinha sido bem engarrafado; não pairava no ar. O ponto, então, não era meramente reviver o fantasma de Bandung, mas encontrar seu espírito mais uma vez.

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O novo estado de espírito no Sul Global

Foi somente com a Terceira Grande Depressão (2007-2008) que houve uma percepção vital de que o Ocidente não permitiria nem possibilitaria o avanço do Sul Global. Em 2009, essa percepção produziu a formação do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) que, em 2025, se expandiu para incluir cinco outros países (Egito, Etiópia, Indonésia, Irã e Emirados Árabes Unidos) e 13 Estados parceiros.6 Enquanto as primeiras cúpulas do BRICS se concentraram na cooperação Sul-Sul, ou comércio e investimento em todo o Sul Global, as cúpulas subsequentes reintroduziram a ideia de independência econômica do Norte Global e a ideia de multilateralismo político em vez da unipolaridade impulsionada pelos EUA. Dezesseis anos não é tempo suficiente para que o projeto BRICS seja submetido a uma avaliação completa. Mesmo durante esses anos, ele sofreu com as diferenças políticas entre seus países-membros (China e Índia, por exemplo) e com a natureza mutável de seus líderes (como o Brasil, passando do governo de centro-esquerda de Dilma Rousseff para o governo neofascista de Jair Bolsonaro e depois retornando para a centro-esquerda sob Luiz Inácio Lula da Silva). A flutuação do processo de formação dos BRICS e outras estruturas Sul-Sul veio por causa do crescimento econômico que começou a definir os grandes países da Ásia (China, Vietnã, Índia, Bangladesh e Indonésia em particular). Em janeiro de 2025, no septuagésimo aniversário da Conferência de Bandung, a Indonésia se tornou um membro pleno do BRICS.

A mudança do centro de gravidade da economia mundial para a Ásia deu origem ao início de uma nova confiança, ou “novo humor”, no Sul Global, uma vez que os países da África, Ásia e América Latina não precisavam mais depender tão completamente das instituições do Norte Global para finanças e tecnologia. A Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) da China, adotada em 2013 em resposta à Terceira Grande Depressão, foi um desenvolvimento extremamente importante a esse respeito, pois forneceu condições objetivas para a cooperação Sul-Sul que simplesmente não existiam na época da Conferência de Bandung. Iniciativas como a construção de ferrovias na África Oriental e a abertura de um novo porto no Peru criam pré-condições para o comércio interno entre os países do Sul Global. Em 2023, 46,6% do comércio da China era com países na rede BRI (The State Council Information Office, 2024). Embora seja muito cedo para dizer que algo parecido com “desvinculação” tenha acontecido, é evidente que uma grande mudança vem ocorrendo, já que a China agora é o principal parceiro comercial de mais de 120 países (Nicita & Razo, 2021).7 Enquanto isso, a própria ICR teve sua cota de altos e baixos e exige que seus países-membros tragam seus próprios projetos nacionais de desenvolvimento para a mesa.

Em muitas das publicações da Tricontinental, usamos a frase “novo clima” para definir o presente. Os principais objetivos do “novo clima no Sul Global” estão enraizados em dois conceitos, regionalismo e multilateralismo, ambos motivados pelo desejo de democratizar a ordem mundial em termos econômicos e políticos. Da Organização de Cooperação de Xangai ao Mercado Comum do Sul (Mercosul), esse regionalismo já está sendo desenvolvido e foi reforçado por um aumento no comércio denominado em moeda local, tornando materialmente possível alcançar “autodeterminação econômica” e “complementaridade regional”, nas palavras de Indira López Argüelles, do Ministério das Relações Exteriores de Cuba.8 Ligado a esse regionalismo está a expansão da ideia de multilateralismo, a posição de que institutos globais (como as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio) não devem ser instrumentos do Norte Global, mas devem permitir que sua agenda seja moldada por todos os seus Estados-membros.

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Não há espírito de Bandung hoje

Nas décadas de 1950 e 1960, os movimentos de libertação nacional tinham uma base popular de massas (frequentemente a maioria de suas populações). Apesar de serem liderados – na maioria dos casos – pela pequena burguesia e setores da elite fundiária, o comprometimento desses movimentos com a libertação nacional os forçou a seguir um caminho socialista, a assumir governos dentro das estruturas do neocolonialismo e a responder à sua base organizada. Esses “socialismos” vieram com diferentes orientações, seja o “caminho socialista para a sociedade” do segundo Plano Quinquenal da Índia (1956–1961), o socialismo africano da Declaração de Arusha (escrita por Julius Nyerere, da Tanzânia, em 1967), ou mesmo a política de massa de variantes do populismo na América Latina, como o peronismo argentino (¡Ni yanquis, ni marxistas!, ¡peronistas!, em português, “Nem ianques, nem marxistas, peronistas!”). Apesar das orientações de classe da liderança dessas tendências e da estreiteza de suas próprias perspectivas, as massas despertas não permitiriam que fosse abandonado o programa de libertação nacional mais amplo. É por isso que podemos falar de uma Bandung vinda de baixo.

Hoje, o estado dos movimentos populares é muito mais fraco. Apenas em alguns países do Sul Global eles comandam a sociedade. Os governos progressistas de nossos tempos são composições de diversas classes – incluindo uma pequena burguesia e uma burguesia liberal que não podem mais tolerar as atrocidades do neoliberalismo, mas não romperão facilmente com suas ortodoxias. Se, por um lado, a segunda maré rosa na América Latina, por exemplo, e o surgimento de governos progressistas em países como Senegal e Sri Lanka são um efeito do colapso do neoliberalismo e uma resposta ao horror da direita, por outro, não se sustentam sobre as costas de movimentos de massa organizados, tampouco estão unidos em torno de um programa que rompa com o neoliberalismo.9 Em toda a região do Sahel na África – no Níger, Mali e Burkina Faso –, golpes militares anti-imperialistas são apoiados por uma nova onda de movimentos sociais que ainda estão no processo de formulação de um projeto mais amplo de soberania e desenvolvimento. Esses desenvolvimentos são capazes de um novo humor – um “Espírito BRICS”, por exemplo –, mas ainda não do equivalente ao espírito de Bandung. Seria prematuro, até mesmo idealista, anunciar tal fenômeno, um espírito de Bandung vindo de baixo para o nosso tempo, um fenômeno de massa capaz de impulsionar o movimento real da história.

O contexto fundamental que molda esse novo clima, e a ameaça iminente que necessita do renascimento do espírito de Bandung, é o hiperimperialismo.10 Em nossa pesquisa no Tricontinental, propusemos que há apenas um verdadeiro bloco político-econômico-militar no mundo: a aliança estabelecida entre Otan e Israel, sob liderança dos EUA. Apesar do poder econômico e tecnológico decrescente, esse bloco retém um poderio militar incomparável e um controle significativo sobre o sistema global de informações. O uso de táticas de guerra híbridas e a ameaça ou uso de violência contra nações modestas em busca de soberania requerem uma resposta coletiva do Sul Global, que pode assumir a forma de um reavivamento do espírito de Bandung.

No entanto, há um conjunto de fatores que limitam o surgimento de uma nova era de Bandung no Sul Global:

  1. Permanece tanto o medo quanto o desejo pela liderança ocidental, apesar de seus muitos fracassos, sua decadência e sua periculosidade. É lógico que os Estados do Sul Global temem a possibilidade de guerra por todos os meios (de medidas coercitivas unilaterais a bombardeios aéreos), já que isso não é uma suposição teórica, mas um fato real.11 No entanto, ao mesmo tempo, há uma sensação cativante de que a liderança ocidental é necessária, dada a reminiscência da ordem internacional dominada pelo Ocidente.
  2. Há uma falta de clareza no Sul Global sobre os avanços feitos na Ásia, especialmente pela China. Outros países não veem essas conquistas – particularmente quando se trata de forças produtivas qualitativamente novas – como facilmente replicáveis, o que leva a uma subestimação mútua da força potencial de um Sul Global coletivo. Há, além disso, e contra as evidências disponíveis, uma crença crescente impulsionada pelo Norte Global de que os avanços das locomotivas do Sul Global serão perigosos para os países mais pobres. Está sendo sugerido que os avanços dos países asiáticos, em particular, são mais uma ameaça do que o registro de perigo do Norte Global ao longo de centenas de anos.
  3. Há uma rendição à realidade do controle do Ocidente sobre os cenários digital, de mídia e financeiro, que parece insuperável.
  4. Uma parcela significativa da elite econômica dominante no Sul Global permanece profundamente interligada ao capital financeiro global. Isso é particularmente visível em sua dependência do dólar americano como um porto seguro para investimentos e sua participação na extração de riqueza de seus próprios países para investir nos mercados imobiliários e financeiros do Norte Global. Esses interesses de classe são prontamente apoiados por intelectuais e formuladores de políticas que não conseguem enxergar além das teorias da economia neoclássica e do Consenso de Washington.12 É por isso que nós do Tricontinental defendemos uma nova Teoria de Desenvolvimento para o Sul Global.13
  5. Existem velhos hábitos em muitos dos nossos movimentos sociais de que a esquerda deve se opor permanentemente à realidade da política de classe e que não podemos conquistar o poder nessas condições. Qualquer compromisso com a realidade para tomar o poder e efetivar a nossa agenda é visto como uma dissolução de nossos objetivos finais. A incapacidade de vencer ganhou uma espécie de fascínio inexplicável na era da libertação nacional, quando ganhar o poder do Estado era o objetivo imediato e intratável. Há até mesmo uma orientação que sugere que os movimentos de esquerda devem lutar contra a direita, construir uma dinâmica contra o neoliberalismo e, então, em vez de exigir e tomar o poder do Estado, entregar o poder à centro-esquerda. A pior orientação é não contestar o poder do Estado de forma alguma.

Até que os povos do Sul Global sejam capazes de superar alguns desses (e outros) desafios, é improvável que o espírito de Bandung faça parte do movimento real da história. Estamos emergindo lentamente de uma época extinta da história, a época do imperialismo. Mas ainda não entramos em um novo período que esteja além do imperialismo – a mais difícil de todas as estruturas com as quais se romper.


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Notas

1 A resolução poética foi formalmente colocada perante a Assembleia Geral da ONU pelo diplomata soviético Vasily Kuznetsov. Ver Assembleia Geral das Nações Unidas, Declaração sobre a Concessão de Independência a Países e Povos Coloniais (A/RES/1514), 14 dez. 1960. O presidente da Assembleia Geral naquela época era o diplomata irlandês Frederick Boland. A filha de Boland, Eavan, tornou-se uma poetisa famosa e, em 1998, publicou “Witness” [Testemunha], que contém estas linhas:O que é uma colônia
senão a verdade brutal
de que quando falamos
os túmulos se abrem.E os mortos andam?

2A narrativa geral neste dossiê é fortemente baseada nas obras de Vijay Prashad, The Darker Nations: A People’s History of the Third World (2007) [ed. brasileira: Uma história popular do Terceiro Mundo, São Paulo: Expressão Popular, 2022] e The Poorer Nations: A Possible History of the Global South (2013). Ela fará parte da base para o livro no preloThe Brighter Nations (2026).

3Em uma conferência de imprensa em 15 de março de 1955, John Foster Dulles explicou a doutrina de “retaliação menos que massiva”. Se a China cruzasse para Formosa, disse Dulles, os EUA usariam armas nucleares táticas contra as forças chinesas. Ver Abel (1955). Quando Eisenhower foi questionado sobre a confirmação da declaração de Dulles no dia seguinte, ele disse que armas nucleares táticas não deveriam ser usadas “exatamente como você usaria uma bala ou qualquer outra coisa. Acredito que a grande questão sobre essas coisas surge quando você começa a entrar nessas áreas em que não se pode ter certeza de que se está operando meramente contra alvos militares. Mas com essa qualificação, eu diria, sim, é claro que elas seriam usadas”. Ver Klingaman et al., 1990, p. 61. Para as notas do diário de Churchill, ver Colville, 1985, p. 687. Sobre a questão mais ampla da retaliação nuclear, ver Jones, 2008, p. 37–65.

4Por exemplo, o LCN Obi, da Nigéria, foi uma figura-chave, mas agora esquecida, no debate em torno do Tratado de Não Proliferação Nuclear de 1968, enquanto Ismael Moreno Pino, do México, foi o negociador central do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares na América Latina e no Caribe de 1967, conhecido como Tratado de Tlatelolco, o primeiro a estabelecer uma zona livre de armas nucleares.

5Alan Burns, administrador colonial da Costa do Ouro e da Nigéria de 1941 a 1947, foi nomeado representante permanente do Reino Unido no Conselho de Tutela da ONU de 1947 a 1956. Logo após deixar a ONU, Burns publicou um livro que resgatou Bandung e argumentou que representava “o ressentimento dos povos mais escuros contra a dominação passada do mundo pelas nações europeias” (Burns, 1957, p. 5). Para mais informações sobre o golpe na Indonésia, ver Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2020.

6Ver: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social. O mundo em depressão econômica: uma análise marxista da crise. Caderno n. 4, 10 out. 2023. Disponível em: https://thetricontinental.org/dossier-notebook-4-economic-crisis/.

7Para mais informações sobre desvinculação, ver: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, Globalização e sua alternativa: uma entrevista com Samir Amin, Caderno n. 1, 29 out. 2018. Disponível em: https://thetricontinental.org/globalisation-and-its-alternative/.

8Para mais informações sobre regionalismo, ver Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, soberania, dignidade e regionalismo na Nova Ordem Internacional, dossiê n. 62, 14 mar. 2023, https://thetricontinental.org/dossier-regionalism-new-international-order/.

9Para mais informações sobre a segunda maré rosa na América Latina, ver: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social. O avanço do neofascismo e os desafios da esquerda na América Latina. Dossiê n. 79, 13 ago. 2024. Disponível em: https://thetricontinental.org/dossier-neofascism-latin-america/.

10Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, Hiperimperialismo: Um Novo Estágio Decadente e Perigoso. Dilemas Contemporâneos n. 4, 23 jan. 2024. Disponível em: https://thetricontinental.org/studies-on-contemporary-dilemmas-4-hyper-imperialism/; Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, A Agitação da Ordem Global. Dossiê n. 72, 23 jan. 2024. Disponível em: https://thetricontinental.org/dossier-72-a-agitação-da-ordem-global/.

11Para mais informações sobre medidas coercitivas unilaterais, ver Instituto Tricontinental de Pesquisa Social. Imperialist War and Feminist Resistance in the Global South. Dossiê n. 86, 5 mar. 2025. Disponível em: https://thetricontinental.org/dossier-imperialism-feminist-resistance.

12Para mais informações sobre o papel dos intelectuais em ambos os lados da luta de classes, ver Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, The New Intellectual. Dossiê n. 12, 11 fev. 2019. Disponível em: https://thetricontinental.org/the-new-intellectual/.

13 Instituto Tricontinental de Pesquisa Social. Rumo a uma Nova Teoria do Desenvolvimento para o Sul Global. Dossiê n. 84, 14 jan. 2025. Disponível em: https://thetricontinental.org/towards-a-new-development-theory-for-the-global-south/.

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Referências

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