Considerados trabalhadores essenciais, renda de entregadores diminuiu em meio à pandemia – Foto: Pedro Strapasolas | Brasil de Fato

 

São Paulo, 04 de julho de 2020
Nº 008/20 – semana 1

 

Síntese: As empresas chinesas Huawei e ZTE foram classificadas pelos EUA como ameaças a sua segurança nacional, proibindo o uso de fundos governamentais por empresas estadunidenses de comprar equipamentos dessas empresas. No âmbito econômico, a atividade da China mantém lenta recuperação influenciada pelo comércio global; nos EUA a taxa de desemprego caiu de 13,3% para 11,1%, com a geração de 4,8 milhões de postos de trabalho; na Zona do Euro a atividade industrial também mostra recuperação, mas ainda dentro de um quadro de retração. A pandemia poderá fechar 8,5 milhões de empregos nos próximos seis meses na América Latina, segundo relatório da Cepal. No Brasil, dados da FGV/Ibre mostram que o país já tinha entrado em recessão no último trimestre de 2019, antes mesmo do impacto da Covid-19. O déficit primário do resultado fiscal do mês de maio foi de R$ 131,4 bilhões; a balança comercial teve saldo positivo por conta da queda das importações em relação às exportações. No mercado de trabalho a taxa de desemprego no trimestre fechado em maio foi de 12,9%. Menos da metade da população em idade ativa para trabalhar estava exercendo alguma ocupação. Com a greve dos entregadores de apps, as desigualdades foram ressaltadas na sociedade e o perfil desses trabalhadores mostra que a idade média é de 24 anos, 71% são negros, pedalam mais de 40km por dia e a remuneração média no final do mês é de R$ 936. A produção industrial em maio cresceu 7% em relação a abril, mas ainda com uma queda no acumulado do ano de -11,2%. As reservas brasileiras de lítio estão na mira da empresa canadense Sigma que projeta investimentos no estado mineiro para a extração desse minério.

 

INTERNACIONAL

1. Com a aprovação da lei de segurança nacional de Hong Kong pela China, as investidas dos EUA contra o país aumentaram em uma série de anúncios e medidas, como o fim das exportações de sistemas de defesa para Hong Kong, afirmando não ser mais possível distinguir as exportações controlada pela China continental e a ilha. Outra medida foi a classificação formal da Huawei e ZTE como ameaças à segurança nacional dos EUA, o que proíbe empresas estadunidenses de usarem o fundo governamental de US$ 8,3 bilhões para comprar equipamentos dessas empresas. Em contrapartida, a China afirmou que restringirá o visto de cidadãos dos EUA que se comportarem ofensivamente a aprovação da lei.

2. O indicador da atividade de compras de produtos industriais da China para o mês de junho apresentou um leve crescimento em relação ao mês de maio de 0,3%, ficando em 50,9%. Quando acima de 50,0% o índice indica expansão das compras de produtos industriais, quando abaixo desse valor aponta uma retração. Já o índice de produção foi de 53,9%, com um aumento de 0,7% em relação ao mês anterior. Isso reforça a retomada da atividade na China, mas de forma mais lenta do que o esperado. A economia global ainda imersa na crise explica essa difícil retomada, com as exportações menores, sendo esse crescimento puxado pela economia interna. Outro dado do Instituto de estatísticas da China foi sobre a queda dos lucros das indústrias nos primeiros cinco meses de 2020 em -19,3%. O setor de mineração e as empresas estatais foram as que tiveram a maior queda de -43,6% e -39,3%.

3. Nos EUA a taxa de desemprego caiu de 13,3% para 11,1% no mês de junho, com a criação de 4,8 milhões de empregos. A taxa de desemprego para jovens é de 23,2%, para os negros é de 15,4%, para os hispânicos de 14,5% e para os brancos de 10,2%. Em junho eram 17,8 milhões de desempregados no país. Na Europa, o índice de Gerentes de Compras (PMI) apresentou o resultado de 47,4 pontos no mês de junho, ante 39,4 no mês anterior. Isso significa uma recuperação nas atividades industriais, embora ainda abaixo de 50,0, que aponta retração econômica.

4. A Cepal lançou um Relatório Especial COVID-19 com propostas para enfrentar os efeitos da crise nas empresas e nos setores produtivos. Segundo o relatório, um terço do emprego formal e um quarto do PIB da América Latina e do Caribe são gerados em setores que foram fortemente afetados pelo coronavírus, podendo ser fechadas 2,7 milhões de empresas e a perda de 8,5 milhões de empregos nos próximos 6 meses, além do aumento dos riscos de reprimarização.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

5. Segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da FGV/Ibre, o último trimestre de 2019 foi o pico dos ciclos econômicos, indicando que o país entrou em recessão já no primeiro trimestre de 2020. O pico de um ciclo representa o fim de uma expansão econômica que durou 12 trimestres até o fim do ano passado. O Codace para a medição dos ciclos econômicos analisa indicadores de consumo, investimento, nível de emprego, desempenho da construção civil, importações e exportações, uma aproximação do PIB a preços de mercado.

6. Já a informação do Indicador de Atividade Econômica da FGV/Ibre apresentou uma alta para o mês de maio de 0,6% em relação ao mês de abril, mas insuficiente para cobrir a queda de março (-4,9%) e abril (-8,7%), indo contra a leitura que a recuperação da economia seria mais rápida.

7. Estudo do economista Ecio Costa (UFPE) e Marcelo Freire (Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco), destacado em reportagem no Valor Econômico, mostra o peso e eficácia da Renda Emergencial na economia do Nordeste e a retomada de suas atividades, podendo chegar a R$ 50 bilhões, 6,3% do PIB. Esses valores aumentam a renda da população para o consumo direto. O estudo mostra ainda a alta correlação estatística entre o auxílio, PIB, índice de Desenvolvimento Humano e Índice de Vulnerabilidade Social, alcançando as regiões mais pobres. O benefício foi prorrogado para mais dois meses.

8. Artigo dos economistas Antonio Andreoni e Mariana Mazzucato mostram a redescoberta do papel do Estado como “investidor de primeira instância” na pandemia, para além de emprestador de última instância, com o aumento dos investimentos públicos ao redor do mundo. A publicação traz as experiências globais sobre a importância do Estado nas respostas para a saída da crise atual.

 

CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

9. A análise trimestral do Ipea de sua Carta de Conjuntura projeta que a dívida bruta chegue a 93,7% no final de 2020, tendo como causa os programas emergenciais de apoio à economia. Mantém a previsão de queda do PIB de -6%, considerando que abril foi o fundo do poço da crise atual. O Banco Central apresentou os resultados do mês de maio sobre a dívida bruta em 81,9% do PIB, um aumento 2,1% em relação a abril.

 

CONTAS PÚBLICAS

10. O Banco Central também apresentou o relatório do mês de maio dos resultados fiscais do país. O déficit primário (que não leva em consideração os gastos com juros) em maio foi de R$ 131,4 bilhões e o acumulado no ano foi de R$ 214,0 bilhões. No mesmo período do ano passado houve um superávit de R$ 7 bilhões. Já os juros foram de R$ 9 bilhões em maio; no mesmo mês do ano passado o valor foi de R$ 34,5 bilhões. Essa grande diferença diz respeito a redução da Selic e da inflação do período.

11. A Balança Comercial teve um saldo no mês de junho de US$ 7,4 bilhões. No ano, o saldo é de US$ 23 bilhões. O resultado teve auxílio por conta da queda de -25,7% das importações no mês com relação ao mês de maio, como reflexo da crise, frente a uma queda de -4,9% das exportações. O agronegócio foi o único a apresentar crescimento nas exportações, o que possibilitou esse resultado final.

12. O Ministério da Economia também apresentou o impacto fiscal das medidas de enfrentamento ao Covid-19 com um resultado primário de –R$ 521,3 bilhões. Sendo a perda de R$ 12,8 bilhões nas receitas por conta da redução temporária de tarifas como IPI para bens necessários ao combate ao coronavírus, IOF, PIS/COFINS entre outros. Nas despesas (R$ 508,5 bilhões) quase metade vai para o auxílio emergencial (R$ 254,2 bilhões) e o auxílio emergencial federativo para os estados e municípios (R$ 60,2 bilhões). Com uma queda prevista no PIB de 6,5%, o impacto fiscal no PIB seria de 7,5%.

 

MERCADO DE TRABALHO E RENDA

13. Os dados sobre o mercado de trabalho continuam desalentadores. Os resultados sobre as demissões e contratações de trabalhadores formais para o mês de maio teve um saldo negativo de -331.901 de postos de trabalho fechados. No ano já foram destruídos mais de 1,1 milhões de empregos, segundo o governo federal. Já a taxa de desemprego, medida pela PNAD-Contínua/IBGE, foi de 12,9% nos últimos três meses encerrados em maio, o equivalente a 12,7 milhões de pessoas no trimestre anterior (dez-fev); a taxa era de 11,6%. O nível de pessoas ocupadas (empregadas) na população em idade ativa de trabalhar caiu para 49,5%, os outros 50,5% ou estão fora da força de trabalho ou desempregados. A extensão de mais dois meses ao seguro desemprego para quem perdeu o emprego na pandemia está em discussão no Codefat (Conselho Diretivo do Fundo de Amparo ao Trabalhador), proposta pelos representantes dos trabalhos no conselho, podendo atender 6 milhões de trabalhadores.

14. Segundo o governo federal, foram fechados mais de 11,6 milhões de acordos ao custo de R$ 17,4 bilhões referente ao Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm). As suspensões de contrato de trabalho representaram 50% e os de redução de jornada os outros 50%. Tudo indica a prorrogação desse programa.

15. Os entregadores de apps fizeram uma greve inédita no dia primeiro de julho, exigindo melhores condições de trabalho diante da informalidade. Pedem uma remuneração mais justa com o estabelecimento de uma taxa mínima por corrida, bem como o pagamento padronizado por quilometragem percorrida.

16. Segundo a pesquisa do Aliança Bike sobre o perfil dos entregadores ciclistas, 50% tinham até 22 anos (a média é de 24 anos), 53% tinham até o ensino médio e apenas 4% o superior. Apenas 16% estudam e 71% eram negros. A estimativa de quilômetros médios percorridos é de 40 km/dia. A média de horas trabalhadas por dia é de 9 horas e 24 minutos com uma renda média de R$ 936.

 

EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

17. A produção industrial do mês de maio apresentou um aumento de 7% comparado ao mês de abril (com uma queda de -18,8%), segundo os dados da PIM/IBGE. Comparado ao mês de maio de 2019, a desaceleração foi de -21,9%. Foi a segunda queda mais elevada comparada com o mesmo mês do ano anterior; a primeira foi de abril 2020/2019 que teve baixa de -27,3%. No acumulado do ano a queda é de -11,2%. Por Grandes Categorias Econômicas, os Bens de Capital tiveram um crescimento no mês de 28,7% (mas ainda com uma queda no acumulado de -21%) e os bens duráveis, com forte impacto do produção de carros, teve um crescimento de 92,5%, mas com uma queda de -14,2% no acumulado do ano.

18. O setor de Petróleo e Gás ainda vê o futuro como incerto, embora o preço do barril em dólares tenha valorizado para uma média de US$ 40, acima dos valores de US$ 35 dos dois meses anteriores. As grandes corporações têm apresentado baixas contábeis por perdas com o preço e a crise global. A Shell estimou uma baixa de US$ 15 bilhões, a BP de US$ 17,5 bilhões e a Petrobras de US$ 13,4 bilhões no primeiro trimestre. Já foram perdidos US$ 1,6 trilhão nas atividades de exploração e produção globais com o choque do petróleo.

19. No horizonte de investimentos no Brasil, a mineradora Sigma, de capital predominante canadense, vai ampliar sua presença na sua fábrica-piloto em Minas Gerais para a extração do Lítio. Serão investidos US$ 74 milhões na construção de uma unidade e mais US$ 37 milhões de financiamento para reforçar a estrutura da empresa. Segundo seus estudos, o Brasil possui 8% das reservas globais do minério. O foco é atender o setor automotivo na produção de carros elétricos dentro da cadeia de produção global.

20. No agronegócio, a China suspende a habilitação de abatedouros a importação de carnes de diversos frigoríficos brasileiros em unidades da Marfrig, JBS e Agra. O argumento do país asiático foi a Covid-19, embora não existam evidências de transmissão do vírus pelos alimentos exportados pelo Brasil.

 

ESPECIAL COVID-19

21. Até o momento, foram liberados R$ 112,5 bilhões pelo governo federal para o Auxílio Emergencial, com 160,2 milhões de pagamentos e 64,9 milhões de pessoas beneficiadas, segundo a Caixa.

22. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram gastos R$ 211,4 bilhões (na semana passada havia sido R$ 182,6 bilhões) de uma previsão de R$ 506,1 (na semana passada essa previsão era de R$ 404,2 bilhões). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 121,79 bi), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (21,6 bi) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 20,9 bilhões).