São Paulo, 06 de junho de 2020

Nº 007/20 – semana 1

 

Síntese: No âmbito internacional, tem aumentado a busca pela defesa das empresas estratégicas nos países centrais contra investimentos e compras por capital chinês, em especial nos setores de tecnologia, como sinal do acirramento econômico vivido e o crescimento da atividade econômica da China, que apresenta uma recuperação lenta, enquanto os demais países ainda se encontram em profunda crise. No Brasil, embora as vendas em maio tenham crescido comparado a abril, o número de falências e pedidos de recuperação judicial tem aumentado, sendo mais de 90% entre as pequenas empresas. Para contornar essa situação, o governo federal lança mais um programa de acesso ao crédito a esse grupo; a busca por recursos no exterior pelo Tesouro e BNDES são saídas para aumentar a liquidez no país. Na balança comercial, a China já representa 40,4% do total das exportações brasileiras. Na indústria, o mês de abril apresentou uma queda de 18,8% em relação ao mês de março. Dos impactos do Covid-19, 39% dos moradores das favelas que buscaram acesso ao auxílio do governo tiveram seus pedidos negados.

 

INTERNACIONAL

1. O reforço em defender as empresas estratégicas com o controle de investimentos estrangeiros e proibição de suas vendas tem se intensificado, em especial contra os investimentos e compras de empresas por capital chinês. A reportagem do Valor Econômico apresenta os principais países que vem defendendo sua indústria, como o Reino Unido, que impediu o controle de uma empresa britânica de tecnologia por outra empresa chinesa, e a União Europeia, que busca rever as regras de definição de mercado que pode impedir a aquisição por empresas estrangeiras, com foco na China.

2. Na União Europeia, a Alemanha aprovou um pacote de 130 bilhões de euros em gastos públicos para combater o Covid-19. As medidas visam o estímulo ao consumo, com corte de imposto sobre valor agregado (IVA), distribuição de dinheiro para famílias, mais recursos para pequenas empresas e incentivos à compra de carros elétricos. Esse incremento equivale a 4% do PIB alemão. O total de recursos dispendidos para o combate ao Covid-19 pela Alemanha equivale a 30% do seu PIB.

3. O indicador da atividade industrial da China para o mês de maio mostrou uma queda de 0,2% em relação a abril, ficando em 50,6%. Quando acima de 50,0 o índice indica expansão, quando abaixo desse valor aponta uma retração na indústria. Embora tenha se recuperado do impacto de fevereiro que ficou em 35,7, a retomada da indústria tem sido lenta diante da economia mundial em crise. Para as atividades não industriais o crescimento no mês de maio foi de 0,4% em relação a abril, com o índice ficando em 53,6. Para a Construção Civil o índice estava em 60,8.

4. Na América do Sul e no México, as novas projeções para o PIB despencam com o impacto do Covid-19, segundo estudo do Ibre/FGV. As previsões feitas no bimestre abril-maio mostraram que o Paraguai foi o país com a menor variação negativa, de apenas 1,8%. Colômbia, Chile e Bolívia apresentaram revisão entre 2,4% e 2,8%. O Peru foi o país que parece ter sentido mais o impacto da crise sanitária: a projeção saiu de positivos 3,5% para uma queda de 5,4%. O México teve movimento semelhante, pulando de uma taxa de +1,4% para -7,4%. Já o Brasil passou de +2,7% para -4,8%.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

5. Os pedidos de falência aumentaram 30% em maio em relação ao mês de abril, e os pedidos de recuperação tiveram um aumento de 68,6%, segundo pesquisa da Boa Vista Serviços. As pequenas empresas representam 93,1% dos pedidos de falência e 94,8% dos pedidos de recuperação judicial.

6. No sentido contrário, as vendas no mês de maio tiveram um aumento de 11,1% em relação a abril, segundo o volume de Notas Fiscais Eletrônicas emitidas no mês, apresentado pela Receita Federal. Esses dados podem ser um medidor do estímulo econômico adotado pelo governo no mês anterior.

7. Uma série de dados sobre a economia global e brasileira foram mostrados durante a apresentação do presidente do Banco Central em audiência pública na Comissão Covid-19, do Congresso Nacional. Esses dados são úteis para o entendimento da conjuntura econômica e podem ser acessados aqui.

8. O Boletim Focus/Banco Central, que capta as expectativas do mercado para a economia brasileira, espera uma queda no PIB de -6,25%. Há uma semana a expectativa era de -5,89%. A taxa de câmbio para o ano é esperada em R$ 5,40/dólar.

 

CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

9. O Conselho Monetário Nacional aumentou em R$ 4 bilhões o crédito para os Estados e municípios sem garantia da União, chegando a R$ 7,5 bilhões no ano (antes estava em R$ 3,5 bilhões). O limite para contratação de operações com garantia da União permanece em R$ 4,5 bilhões, e o limite para contratação pelos órgãos da União está em R$ 400 milhões.

10. O governo federal lançou mais um programa de acesso ao crédito para além do Pronampe. O Programa Emergencial de Acesso ao Crédito visa facilitar o acesso de pequenas e médias empresas a novos créditos. Com a publicação da MP 975 de 1 de Junho de 2020, o Ministério da Economia fica autorizado de imediato a aportar R$ 5 bilhões no Programa, que será operado pelo BNDES nos moldes do Fundo Garantidor para Investimentos (FGI). Novos aportes do Tesouro poderão ser realizados até o final do ano de 2020, no valor total de até R$ 20 bilhões, por decisão do ministério

11. O Tesouro Nacional captou US$ 3,5 bilhões por meio de uma emissão de bônus no mercado internacional (norte-americano), sendo 1,25 bilhão de dólares em títulos com vencimento em cinco anos, com taxas de 3% ao ano, e outros 2,25 bilhões de dólares em papéis de dez anos com taxa de 4% ao ano. A operação foi liderada pelos bancos Bank of America, Deustsche Bank, Itau BBA e JP Morgan. O BNDES também busca a captação externa de US$ 3,5 bilhões junto a organismos multilaterais para aumentar sua liquidez. O foco são o Banco Mundial (Bird), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics (NDB).

CONTAS PÚBLICAS E INVESTIMENTOS

12. Um projeto de Lei Complementar (PLP) (137/20) visa liberar R$ 177,7 bilhões retidos no Tesouro Nacional em 29 fundos setoriais para o combate ao Covid-19, sem a necessidade de criar dinheiro novo, tendo o apoio não oficial do governo. Esses recursos seriam destinados aos gastos com saúde e assistência social previstos no Orçamento do ano, às despesas do auxílio emergencial para pessoas em situação de vulnerabilidade e para manutenção de emprego e da renda dos trabalhadores e ao auxílio financeiro da União aos estados e municípios.

13. A balança comercial brasileira no mês de maio apresentou um superávit de US$ 4,5 bilhões no mês. As exportações aumentaram em 5,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Esse aumento foi resultado da alta de 36,1% no volume das exportações do setor agropecuário. A demanda é puxada pelos países asiáticos, em especial a China, que representa 40,4% do total das exportações brasileiras. A moderada queda na importação foi por conta da nacionalização de duas plataformas de petróleo.

INFLAÇÃO E PREÇO DOS ALIMENTOS

14. Como resultado do processo de isolamento social devido ao Covid-19, o volume de transações caiu 61,2% em restaurantes e 9,2% nos supermercados na primeira quinzena de maio, segundo estudo da Fipe e Alelo. A queda é menor se comparada a primeira quinzena do mês de abril, que teve queda de 67,7% nas transações.

MERCADO DE TRABALHO E RENDA

15. A queda do emprego e da renda pode levar a Previdência Social dos trabalhadores da iniciativa privada a um déficit de R$ 277 bilhões, segundo projeções da equipe econômica, por conta da pandemia de Covid-19. Esse aumento se deve sobretudo à redução da receita previdenciária de quase R$ 34 bilhões, ao passo que as despesas se mantiveram no mesmo patamar.

 

EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

16. A produção industrial do mês de abril apresentou queda de 18,8% em relação ao mês de março, segundo os dados da PIM/IBGE. Foi a queda mais acentuada desde o início da série histórica, em 2002. Em relação ao mesmo mês do ano anterior a queda foi de 27,2%. No ano, a indústria já acumula uma queda de 8,2%. Dos 26 setores, 22 apresentaram queda, com destaque para o setor automotivo com baixa de 88,5% no mês. Por categorias, o segmento de bens de capital teve queda de 41,5% na produção. Os setores de produtos farmoquímicos e farmacêuticos tiveram crescimento (6,6%), assim como os de produtos alimentícios (3,3%) e perfumaria, sabões e produtos de limpeza (1,3%). A indústria extrativa não apresentou variação.

17. A produção e exportação de automóveis, segundo a Anfavea, apresentou certa reação no mês de maio com uma variação de 56,9% das exportações de máquinas agrícolas e rodoviárias, em comparação ao mês de abril, embora tenha tido uma queda de 46,3% no autoveículos. A exportação em valor para o total do setor teve uma variação positiva de 25,7%. A produção também teve recuperação, com o setor produzindo 43,1 mil automóveis no mês de maio, ante os 1,8 mil no mês de abril.

 

ESPECIAL COVID-19

18. Um estudo realizado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia mostra que estados que investem em serviços de saneamento básico tem mais capacidade de reduzir o número de mortes pela doença. De acordo com os dados preliminares, Belém, Manaus e Fortaleza lideram o ranking de cidades com o maior número de mortes por falta de tratamento de esgoto. “Como é que essas pessoas podem se higienizar, em um momento de pandemia, se elas não têm água? Muitas dessas pessoas usam água de poço, de cacimba, de cachoeira, de rio. Além de não se higienizar contra o coronavírus, elas podem adquirir outras doenças que são tradicionalmente transmitidas pelo esgoto doméstico”, registra o presidente do Trata Brasil.

19. Segundo pesquisa mais recente do Data Favela, 56% dos moradores das favelas que receberam a primeira parcela do auxílio destinaram o dinheiro para familiares e amigos, sendo que 95% deste recurso foi para a compra de alimentos. Entre os que solicitaram o auxílio, 39% não tiveram o pedido aprovado. Segundo balanço das ações de solidariedade da Central das Favelas (Cufa), foram distribuídos R$ 100 milhões em alimentos e produtos, 7,1 mil toneladas de cestas básicas e 30 mil botijões de 13 quilos de gás, beneficiando 120 mil pessoas de 174 comunidades.

20. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram investidos R$ 135,4 bilhões de uma previsão de R$ 323,9 bilhões. Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 76,99 bi) e Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios (R$ 28,48 bi).