As metas de vacinação não serão atingidas na maior parte do mundo, o que interfere na retomada econômica global. Foto: EBC

 

Olá amigos e amigas,

Espero encontrá-las bem.

Nessa semana, o Giro Econômico destaca três temas para nossa conversa: o processo da imunização e recuperação da economia global; os aspectos do novo governo dos EUA; e os impasses econômicos no Brasil. Também elencamos, no final, outras notícias que chamaram nossa atenção durante a semana.

Esperamos que o Giro contribua para análises de conjuntura e reforçamos a importância da opinião de vocês sobre essa publicação semanal do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, realizado pelo escritório Brasil. Aguardamos sugestões e críticas!

Boa Leitura!

Cristiane Ganaka

 

1. Imunização dará o tom da recuperação econômica

As metas de vacinação não serão atingidas na maior parte do mundo, o que interfere na retomada econômica global. Os diferentes ritmos da vacinação levam a perspectivas econômicas distintas. “A distribuição desigual das vacinas também significa que a covid-19 poderá continuar circulando durante anos, especialmente em países como o Brasil ou a África do Sul, onde novas cepas virulentas estão superando as imunizações”.

A Suíça, por exemplo, comprou vacinas suficientes para imunizar por duas vezes sua população. Dentro da lógica capitalista, a disputa mundial por vacina ameaça gerar uma guerra comercial, já que algumas nações ameaçam retaliar a União Europeia caso países europeus restrinjam a exportação de vacinas contra a covid-19 para manter seus programas de vacinação.

Em nossa coluna no Brasil de Fato, alertamos que o vírus é planetário e o enfrentamento a ele segue uma política de “nacionalismo vacinal”, armazenando imunizantes ante uma política que vise criar uma “vacina popular”. Para o bem da humanidade, seria prudente suspender as regras de propriedade intelectual e desenvolver um procedimento para criar vacinas universais.

Com exceção da Venezuela, nenhum país latino-americano se manifestou durante a última reunião na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre proposta da Índia e da África do Sul, para que fosse permitido suspender patentes e outros instrumentos de propriedade intelectual vinculados ao combate à pandemia de covid-19.

Além disso, segundo a ONU, até agora os pacotes de estímulos totalizam US$ 12,7 trilhões globalmente. Mas é grande a disparidade entre os pacotes nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, colocando-os em diferentes trajetórias de recuperação. No geral, a maioria dos pacotes de estímulos foram para proteger emprego e ajudar o consumo, mas também alimentaram bolhas de ativos financeiros. Em suma, é o ritmo da vacinação junto aos pacotes fiscais que determinarão o nível de atividade econômica que será retomada.

 

2. Primeiras sinalizações do governo Biden 

O governo de Joe Biden assumiu a presidência da Casa Branca em meio a uma conturbada posse, diante do pior momento da pandemia e com uma queda de 3,5% da atividade econômica em 2020 – o pior desempenho anual desde a Segunda Guerra Mundial.

Os olhos do mundo se voltam para o novo governo dos EUA, mas ainda é cedo para tirar conclusões, mesmo que iniciais. As primeiras movimentações de Biden foi enviar ao Congresso um pacote amplo de auxílio à economia de US$ 1,9 trilhão e planejar a revisão das cadeias de fornecimento dos EUA na busca de vulnerabilidades, tanto de compras governamentais como do setor privado; o objetivo é reduzir a dependência de insumos e tecnologia de países como a China.

Esse último movimento estadunidense acena para intensificação de uma corrida tecnológica, um passo que se soma ao acirramento da disputa comercial, podendo resultar em um reordenamento das cadeias globais de produção.

Ainda sobre a disputa hegemônica, a fabricante da CoronaVac, a Sinovac, defendeu em comunicado a segurança de sua vacina contra a covid-19 e a posição da China como distribuidora mundial de vacinas, ante o que classificou de protecionismo do governo norte-americano, explicitando o transbordo da disputa sanitária para a geopolítica.

No último dossiê do Tricontinental, exploramos o surgimento de uma nova guerra fria imposta pelos Estados Unidos à China e as formas de guerra híbrida utilizadas contra países considerados uma ameaça à hegemonia estadunidense.

 

3. Brasil e o impasse econômico

No Brasil, a semana começou com atenção voltada para eleição da presidência das Casas Legislativas, já que o ocupante do cargo dá o tom sobre as pautas prioritárias dos próximos dois anos. Os candidatos do Planalto venceram a disputa; com isso, a expectativa é que a agenda liberal – reformas tributária, administrativa e fiscal, além de privatizações, entre outros pontos – volte a tramitar no Congresso.

Bolsonaro já entregou aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), uma longa lista com 35 projetos prioritários para o governo. Entre eles, na área econômica, destacamos: as propostas de emenda à Constituição – Emergencial, a dos Fundos Públicos e a do Pacto Federativo; as reformas administrativa e tributária; o marco legal do mercado de câmbio e a lei do gás; no rol de prioridades ainda constam a privatização da Eletrobras, a criação das debêntures de infraestrutura e mudança no regime de partilha; além de projetos que dispõe sobre a mineração em terras indígenas e sobre a autonomia do Banco Central. Mas na lista de feira do governo não há nenhuma iniciativa que inclua os dividendos na renda tributável ou taxe os fundos fechados, onde os ricos aplicam seus recursos.

Porém, antes mesmo de retomar a pauta prioritária, o governo terá que acomodar a política fiscal. De um lado, permanece pressão e urgência de enfrentar a pandemia – talvez em seu momento mais desafiador, que envolve a prorrogação do auxílio emergencial; a renovação do BEM (programa que garante um complemento de renda para os trabalhadores que tiveram salário e jornada reduzidos); a renegociação do Pronampe (programa de crédito para micro e pequenas empresas), um novo Refis (para pagamento de débitos tributários), além de acomodar as demandas setoriais, como do comércio e dos caminhoneiros. Por outro, atender os interesses dos diferentes grupos que apoiaram os candidatos do Planalto, que inclui emendas parlamentares para obras públicas e reivindicações por mais recursos no Orçamento 2021, que ainda não foi votado. Tudo isso pressionado pela encruzilhada do Teto dos Gastos, que o governo não cogita abandonar.

Embora as atenções dos agentes financeiros estivessem voltadas ao Congresso Nacional, a trajetória da política monetária continuou a demandar foco do mercado. Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom), segundo o Boletim Focus do Banco Central, estão divididos sobre quando começar a retirar o que eles chamam de estímulo monetário extraordinário, injetado na economia por conta da pandemia, alegando que com base nas projeções da Selic a 2%, seria incompatível com o cumprimento da meta de inflação 2021. O objetivo dessa ação é frear a fuga de capitais e atrair mais moeda estrangeira para tentar conter a desvalorização do real e seus impactos inflacionários. Só que isso traz também consequências para a alocação de investimentos produtivos.

 

4. Outras notícias econômicas da semana

A economia na zona do euro encolheu 0,7% no quarto trimestre de 2020, segundo o escritório de estatísticas da União Europeia, o Eurostat; no ano, a economia contraiu 5,1%.

Em debates internos do grupo das 20 maiores economias (G20) do mundo, o governo Biden recomenda que os demais países implementem programas fiscais robustos e para não retirarem estímulos econômicos prematuramente.

Por meio de redes sociais e fóruns, como os do Reddit, pequenos investidores se uniram para subverter a lógica de Wall Street para fazer frente a grandes fundos de investimento, utilizando as próprias regras do jogo para lucrar.

Rihanna e Greta tweetaram sobre a greve de agricultores na Índia, reacendendo o debate e incomodando o governo Modi. Os trabalhadores estão em greve desde novembro e exigem a revogação da reforma agrícola apresentada pelo governo. No último 26 de janeiro, Dia da República na Índia, milhares de agricultores e trabalhadores rurais dirigiram seus tratores e entraram no coração da capital, Nova Déli, para levar sua luta às portas do governo; falamos sobre isso na nossa terceira Carta Semanal do ano.

Já no Brasil, pressionado por caminhoneiros que deflagraram uma greve esta semana por conta da alta no preço do diesel, Bolsonaro reúne ministros e Petrobras para discutir preço dos combustíveis.

O Brasil também formalizou sua oferta inicial de abertura do mercado de compras públicas a empresas estrangeiras pelo Acordo de Compras Governamentais (ACP) na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ainda no Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1/FGV) – que apura a percepção de preços em famílias com ganhos mensais de até 2,5 salários-mínimos – subiu 0,15% em janeiro; habitação foi o item que mais pesou. Com esse resultado, o indicador passou a acumular alta de 5,87% nos últimos 12 meses. Já o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M/FGV), medida que engloba não apenas diferentes atividades como também etapas distintas do processo produtivo, subiu 2,91% em janeiro, com forte aceleração registrada nos preços das matérias-primas brutas (-0,81% para 7,29%) e dos bens intermediários (1,60% para 2,88%). Em 12 meses, o índice acumula alta de 26,55%.