FAO aponta que a fome na América Latina e no Caribe afetou 47,7 mi de pessoas em 2019 e pode chegar a 60 mi até 2030. Crédito: Tanio Jardim.
São Paulo, 18 de julho de 2020
Nº 008/20 – semana 3
Síntese: A fome na América Latina e no Caribe afetou 47,7 milhões de pessoas em 2019 e pode chegar a 60 milhões de pessoas até 2030; a contração da atividade econômica da região se aprofunda com a pandemia podendo levar a um retrocesso de 10 anos nos níveis de renda por habitantes. A Guerra Comercial continua com força após o Reino Unido vetar a rede 5G da empresa chinesa Huawei por conta da pressão de novas sanções dos EUA. As mesmas medidas de pressão se mantém sobre a Europa contra as obras do gasoduto que liga Rússia a Alemanha. A atividade econômica brasileira em maio e junho mostra certa recuperação, com as previsões de queda do PIB sendo amenizadas entre -6,1% e -4,7%. As exportações brasileiras para os EUA tiveram uma queda de -31,7%, e a previsão para o ano é de queda entre -20% a 25%. A direção da Petrobras anunciou que pretende fazer um corte de pessoal de 34%, o equivalente a 15,5 mil trabalhadores. Das 522,7 mil empresas fechadas nesse último período por conta da pandemia, 99,2% eram de pequeno porte. No agronegócio, as exportações de carne suína apresentaram um crescimento de 50,4%, com uma concentração de 78,1% para o continente asiático.
1. A fome na América Latina e no Caribe afetou 47,7 milhões de pessoas em 2019 e pode chegar a 60 milhões de pessoas até 2030, segundo o relatório produzido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), “Estado da segurança alimentar e nutrição no mundo 2020 (SOFI)”. Esse estudo não leva em consideração o impacto da pandemia da Covid-19, o que pode levar a um quadro ainda pior. Um fator particularmente preocupante é que, entre todas as regiões do mundo, a América Latina e o Caribe tem o custo mais alto de compra para uma dieta que atenda às necessidades energéticas mínimas: US$ 1,06 ao dia por pessoa. Esse valor é 34% mais caro que a média global.
2. A contração da atividade econômica da região também se aprofunda com a pandemia, podendo cair -9,1% em 2020, como aponta o Informe Especial da CEPAL/ONU. O relatório também demonstra que os níveis de renda por habitantes podem sofrer um retrocesso de 10 anos. A intensa queda da economia mundial gera um impacto externo direto sobre o continente no canal comercial, de termos de troca, de turismo e de remessas. Para além disso, o continente se tornou o epicentro da pandemia, fortalecendo a crise projetada.
3. O mês de julho observou uma retomada gradual da economia mundial, apesar de ainda perdurar um cenário de grandes incertezas, mostra o Barômetros Globais Coincidente e Antecedente da Economia medido pela FGV em parceria com Instituto Econômico Suíço KOF. O Barômetro Global Coincidente subiu 22,6 pontos em julho na comparação com o mês anterior, ao passar de 50,4 pontos para 73,0 pontos. O Barômetro Global Antecedente subiu 23,7 pontos: de 45,7 pontos para 69,3 pontos. Ambos os indicadores avançaram com melhora do ambiente econômico nas três regiões pesquisadas.
4. O PIB do segundo trimestre na China apresentou forte recuperação com um crescimento de 3,2%, comparado ao mesmo período do ano anterior. Com isso, a variação no primeiro semestre é de -1,6%, segundo os dados oficiais do Instituto de Estatística do país. Já as exportações e importações chinesas medidas em dólar tiveram um aumento no mês de junho comparado ao mês de maio, de 0,5% e 2,7%, respectivamente. As exportações de equipamentos de proteção individual aumentaram 32,4%, de medicamentos houve um aumento de 23,6% e de equipamentos médicos um aumento de 46,4%. Embora o crescimento superou as expectativas do mercado, que esperavam uma queda nas duas variáveis, a variação apresentada é baixa comparada a queda de maio nas importações (-16,7%) e das exportações (-3,3%).
5. Nos desdobramentos da Guerra Comercial, o premiê britânico Boris Johnson vetou a Huawei de sua rede 5G, revertendo uma decisão que dava a empresa um papel limitado na implantação dessa rede no Reino Unido. Essa medida teve como pressão as novas sanções dos EUA na área de tecnologia de chips que afetam a capacidade da Huawei de ser um fornecedor confiável. Isso faz com que aumente a pressão sobre a decisão na EU; agora, os olhares se voltam para a decisão da Alemanha, que pode ser tomada apenas em setembro.
6. Os EUA também ameaçam de impor sanções aos investidores dos gasodutos que pretendem transportar gás da Rússia para a Europa e Turquia, como uma forma de impedir o projeto de influência da Rússia na região. O gasoduto teria a condição de contornar a Ucrânia, região de controle dos EUA, transportando 55 bilhões de metros cúbicos de gás por ano para a Alemanha sob o Mar Báltico.
7. A projeção de queda para o PIB de 2020 é de -4,7% e um crescimento em 2021 de 3,2%, segundo as estimativas do Ministério da Economia apresentadas no Boletim Macrofiscal de julho. Nas atividades industriais, a previsão é de queda de -12,5% na indústria de transformação e -28,1% nas vendas do setor de automóveis. Para o emprego, preveem uma queda de -5,31% na População Economicamente Ativa, -7,09% na População ocupada e uma baixa de -6,21% na massa salarial.
8. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou em maio um crescimento de 1,31% em relação a abril. No mês passado a variação foi de -9,45% e em março de -6,14%. Embora longe de cobrir as quedas, o mês de maio aponta uma leve recuperação, transformando o mês de abril no pior momento da crise. A previsão para o PIB em 2020 foi de -6,5% para -6,1% segundo o Relatório Focus do Banco Central com as expectativas do mercado.
9. Já o Indicador de Atividade Econômica da FGV/Ibre apresenta um crescimento da economia de 0,5% no mês de maio. No trimestre móvel, o indicador aponta retração de 10,3% no trimestre findo em maio em relação ao trimestre findo em fevereiro, e de 8,9% na comparação interanual.
10. O banco suíço UBS atualizou sua previsão do PIB para 2020 para -5,5%, ante os -7,5% da última estimativa. Esse arrefecimento da queda se deve ao auxílio emergencial de R$ 600 que deram condições de apoiar a renda dos mais pobres, segundo seu relatório “Brasil: uma luz no fim do túnel”. A retomada da economia na China também é uma variável positiva para essa previsão.
11. O debate do desmatamento da Amazônia e a pressão sobre o governo federal continuam em pauta, agora com a carta assinada por 17 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, apontando para a necessidade de buscar uma recuperação sustentável da economia brasileira. Estudo da revista “Science” apontou que 20% da soja e 17% da carne brasileira exportada para a Europa podem ter origem em áreas vinculadas ao desmatamento ilegal.
12. Os programas para combater os efeitos da pandemia na economia utilizaram apenas R$ 25 bilhões ofertados pelo BNDES. Esse valor representa apenas 29% dos R$ 87,1 bilhões previstos, segundo documento do banco. O único programa que atingiu a meta foi o de empréstimos para capital de giro de micro, pequenas e médias empresas, que ultrapassou o previsto ao atingir o valor de R$ 5,3 bilhões.
13. O Tesouro Nacional realizou o maior leilão de títulos públicos no ano, ofertando 23 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) e 1 milhão de Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F), com o objetivo de reforçar as medidas de refinanciamento das contas públicas, dando condições para manter com folga a rolagem da dívida deste ano.
14. Um estudo da Câmara Americana sobre o comércio exterior do Brasil com os EUA mostra uma queda das exportações brasileiras para aquele país de -31,7%. A previsão para o ano é de uma queda entre 20% e 25%. Já as importações devem oscilar entre 16% e 18%. Os EUA ainda são o segundo maior parceiro do Brasil, apesar de estar aumentando a distância do primeiro colocado, a China. O país asiático representa 29,4% da corrente de comércio do Brasil, ante os 13,4% dos EUA.
15. Uma portaria publicada pelo Ministério da Economia permite que os empregados demitidos possam ser recontratados pela mesma empresa em menos de 90 dias após a rescisão. A medida de enfrentamento a pandemia é válida até o fim do ano. Essa recontratação se dará via negociação coletiva por meio da negociação com o sindicato.
16. A direção da Petrobras pretende reduzir em 34% seu quadro de pessoal, passando de 45,5 mil para 30 mil trabalhadores. A redução em mais de um terço da força de trabalho deve ser alcançada por meio dos programas de demissão voluntária (PDV) e dos planos de desinvestimentos (venda de partes de suas empresas). Segundo a empresa, o retorno adicional – custo evitado de pessoal – seria de R$ 18 bilhões até 2025. Esse quadro de 30 mil trabalhadores é o mesmo que a empresa possuía na década de 90.
17. Das 1,3 milhões de empresas que estavam fechadas (temporária ou definitivamente) na primeira quinzena de junho, 522,7 mil (39,4%) encerraram suas atividades por causa da pandemia. Destas, 518,4 mil (99,2%) eram de pequeno porte (até 49 empregados), 4,1 mil (0,8%) de porte intermediário (de 50 a 499 empregados) e 110 (0%) de grande porte (mais de 500 empregados), segundo a nova Pesquisa Pulso Empresa do IBGE.
18. A mineradora Sul Americana de Metais – SAM, controlada pela companhia chinesa de investimentos Honbridge, está com planos de produzir 27,5 milhões de toneladas de ferro ao ano no norte de Minas Gerais. A empresa aguarda as licenças para iniciar o projeto de investimentos de US$ 2,1 bilhões. O investimento tem, entre seus planos, fazer toda a operação de extração e transporte até as instalações de beneficiamento por controle remoto dos caminhões e máquinas com a tecnologia de banda larga 5G.
19. As exportações de carne suína tiveram um crescimento de 50,4% em junho comparado ao mesmo mês de 2019. No acumulado do ano o crescimento foi de 37,01%. O continente asiático representa 78,1% do total exportado. Já o resultado das exportações de frango foi de 12,4% menor que do ano passado. A Ásia representa 40,4% da exportação desse produto. Esses dados foram divulgados pela Associação Brasileira de Proteína Animal.
20. Até o momento, o governo federal liberou R$ 121,1 bilhões para o Auxílio Emergencial. Ao todo, foram realizados 173,5 milhões de pagamentos e 65,2 milhões de pessoas foram beneficiadas, segundo a Caixa Econômica. Não houve alterações em relação aos resultados da semana anterior.
21. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram gastos R$ 237,3 bilhões (na semana passada foram R$ 216,0 bilhões) de uma previsão de R$ 506,1 (no mês passado era de R$ 404,2 bilhões). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 121,79 bi), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 39,94 bi) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 20,9 bilhões).
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