Índia chega a mais de 300 mil suicídios de agricultores, aponta dossiê
Da Página do MST
Na Índia, mais de 300 mil agricultores cometeram suicídio e 15 milhões de agricultores abandonaram o campo desde 1995. Há uma epidemia, altas taxas de desnutrição, dívidas e êxodo dos trabalhadores rurais. Os dados são do Dossiê 21 – “A Catástrofe climática e o ataque neoliberal à Índia Rural”, que o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social lançou nesta última terça-feira (8/10).
Assim como os recentes debates globais na Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) e as queimadas na Amazônia promovidas pelo agronegócio e incentivadas pelo governo brasileiro, o dossiê chama atenção para o modelo predatório do capitalismo e as graves consequências ambientais na crise agrária indiana.
Para Matheus Gringo, do escritório Brasil do Tricontinental, a realidade que devasta a vida das comunidades camponesas indianas não está distante da realidade brasileira. “No caso do Brasil, as mortes no campo estão atreladas à violência e conflitos de terra, incentivados pelo discurso de ódio do governo e a liberação para exploração total dos recursos naturais, como o ‘Dia do Fogo’. A experiência na Índia pode nos dar referências do que não permitir no Brasil e pelo que lutar”, afirmou o pesquisador.
Baseado nos estudos de P. Sainath, membro sênior do Tricontinental e fundador do Arquivo Popular da Índia Rural (PARI, sigla em inglês para People’s Archive for Rural India), o dossiê traz um quadro dos impactos da comercialização da agricultura, da dominação do setor por corporações multinacionais e, sobretudo, das mudanças destes modelos, que afetam diretamente o clima, a vegetação, as formas de cultivo e a vida dos agricultores.
Organização e resistência
O documento mostra que na região de Rayalaseema, no estado indiano de Andhra Pradesh, agricultores sobrevivem nas condições mais adversas por conta das empresas de sementes. Já no estado de Kerala, há uma cooperativa de mulheres – Kudumbashree – que resiste às terríveis inundações ocorridas na região.
“Em Kerala, aprendemos mais em uma tarde com as mulheres agricultoras do grande movimento Kudumbashree do que em um mês de seminários de think tanks. Com elas, aprendemos sobre esperança e possibilidades, e como o uso, propriedade e controle da terra são importantes na busca de uma agricultura sustentável. Esperamos que as duas histórias que se seguem transmitam algo desse aprendizado”, relata Sainath.
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