O Senado aprovou a entrada do Brasil no novo banco multilateral: o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, com um aporte de R$ 5 bi.

 

 

São Paulo, 15 de agosto de 2020
Nº 011/20 – semana 2

 

Síntese: Os indicadores da atividade econômica mundial para o primeiro semestre mostram o tamanho da crise nos países do G7. O Reino Unido teve uma queda no PIB do segundo trimestre de -20,4%, a França de -13,8% e a Itália de -12,4%. Contudo, já é possível observar uma certa recuperação no mês de julho e agosto no PIB mundial. A recuperação econômica da China vem se consolidando; a produção industrial cresceu 4,8% em julho, o setor de serviços cresceu 3,5% e a taxa de desemprego se mantém estável em 5,7%. Nos EUA, Trump promulgou o decreto de benefício adicional para os desempregos no valor de US$ 400 semanais, abaixo do valor de US$ 600 da lei anterior que expirou em julho. No Brasil, os investimentos no mês de junho apresentaram um recuo de -1,3%, por conta da queda de -13,9% nos investimentos em máquinas e equipamentos. A pressão em torno da manutenção ou queda do teto dos gastos teve destaque na semana, apresentando as divergências internas na equipe do governo federal. O volume de serviços cresceu 5,0% em junho, e o comércio 8,0%. Ainda assim, ambos indicadores se encontram em queda no acumulado do ano. O Senado aprovou a entrada do Brasil no novo banco multilateral: o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura; o aporte do Brasil será de US$ 5 bilhões. No debate da reforma tributária, os estados apresentaram uma proposta conjunta que pede uma reforma ampla, e não a fatiada como a que está em discussão. A taxa de desemprego no mês de junho foi de 14,2%, o pior resultado do segundo trimestre, que apresentou média de 13,3%; é provável que, com o fim do programa de suspensão temporária do contrato de trabalho e redução da jornada de trabalho, tenhamos um novo choque do desemprego em outubro. O consumo de bens industriais no país cresceu 5,2% em junho. O agronegócio é o setor que vem puxando esse consumo por meio da compra de máquinas agrícolas e implementos rodoviários. A produção da agroindústria teve um crescimento de 1,9% em junho, mas ainda apresentando uma queda de -6,1% no acumulado do ano. A resiliência do setor deve-se a demanda elevada do continente asiático; as exportações de carne suína tiveram um crescimento de 47,9% em julho comparado ao mesmo mês de 2019.

 

INTERNACIONAL

1. Pela terceira vez consecutiva, o início do mês de agosto apresentou um aumento da retomada gradual da economia mundial, distanciando-se do pior momento da crise e criando certo otimismo para a evolução do PIB mundial nos próximos meses, como mostra o Barômetros Globais Coincidente e Antecedente da Economia, medido pela FGV em parceria com Instituto Econômico Suíço KOF. O Barômetro Global Coincidente subiu 11,3 pontos em agosto na comparação com o mês anterior, ao passar de 68,5 pontos para 79,8. O Barômetro Global Antecedente subiu 29,9 pontos: de 80,5 pontos para 110,5. Os indicadores avançaram com melhora do ambiente econômico nas três regiões pesquisadas.

2. Contudo, os dados do PIB dos países do G7 do segundo trimestre apresentaram queda. Além dos dados dos EUA e Alemanha apresentados no Giro Econômico passado, a queda do PIB do Reino Unido no segundo trimestre foi de -20,4%. No primeiro trimestre o país já tinha apresentado uma queda de -2,2%. Comparado ao último trimestre de 2019, a queda foi de -22,1%. Os setores de serviços, produção industrial e construção foram os mais impactados; o consumo privado respondeu por mais de 70% da queda medida. Na França, a queda do PIB no segundo trimestre foi de -13,8%, após uma queda de -5,9% do primeiro trimestre. A maior queda nesse país foi da Formação Bruta de Capital Fixo com uma variação de -17,3%. Na Itália, a queda foi de -12,4% em relação ao primeiro trimestre e 17,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

3. Já na China, a produção do valor agregado no mês de julho cresceu 4,8% comparado ao mesmo mês do ano passado. As holdings estatais crescerem no mesmo período 4,4%, as com participação acionária 4,2% e as financiadas por investidores estrangeiros cresceram 7,6%. O setor de serviços também teve um crescimento de 3,5% no mês de julho. Já a taxa de desemprego urbano no mês foi de 5,7%, e os trabalhadores trabalhavam em média 46,8 horas semanais, segundo os dados estatísticos oficial chinês.

4. O presidente dos EUA, Donald Trump, promulgou o decreto que dá o benefício adicional para desempregados de US$ 400 por semana, sendo US$ 300 a cargo do governo federal e US$ 100 dos estados. O valor é abaixo dos US$ 600 semanais da lei anterior expirada em julho. Na prática, Trump cortou 50% do auxílio que competia ao governo federal.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

5. Os investimentos no mês de junho apresentaram um recuo de 1,3% em relação ao mês de maio; na comparação com junho de 2019, o recuo foi de -15,6%. A forte queda se deu na retração dos investimentos de 13,9% em máquinas e equipamentos, segundo o Indicador de Formação Bruta de Capital Fixo do Ipea.

6. A disputa no governo federal para manter a agenda liberal tem sido intensa, com a política do teto dos gastos sendo pressionada diariamente diante do aumento da crise e a incapacidade de o governo responder a ela. Segundo reportagem do Valor Econômico, a batalha dentro do Ministério da Economia, pilar de sustentação da política “privacionista” e de austeridade, tem sido ganha pelo lado dos “preservacionistas” contra a ala “inovadora” [liberal], sendo 75% das coordenações comandadas pelo primeiro grupo.

7. Ao ceder a pressão do ministro Paulo Guedes para manter o teto dos gastos, o governo federal mudou a prioridade no plano Pró-Brasil, que tinha como central o investimento em obras de infraestrutura (no “Eixo Progresso”), para o “Eixo Ordem”, que foca nas mudanças regulatórios e nos investimentos privados. O programa, que deveria ser lançado em agosto, está suspenso até segunda ordem, mas essas movimentações já indicam a tendência em não fazer nada. A chamada ala “desenvolvimentista” luta para que o programa seja lançado esse ano.

8. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) mostrou um crescimento de 5,0% no volume de serviços no mês de junho comparado ao mês de maio, interrompendo uma sequência de quatro quedas negativas. Em maio, a diminuição foi de -0,9%; no acumulado do ano a queda é de -8,3%. O volume de serviços no Brasil ainda é 24,0% abaixo do recorde histórico de novembro de 2014. Os destaques vão para o setor de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, com um crescimento de 11,9%, e o setor de serviços de informação e comunicação, com um crescimento de 9,6%. O transporte aéreo teve queda no mês de -59,0%, e os serviços de alojamento e alimentação uma baixa de -63,8%.

9. Já a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) apresentou um crescimento de 8,0% no mês de junho se comparado a maio. O crescimento tinha sido de 13,9% se comparado maio a abril. Contudo, a alta foi insuficiente para cobrir as quedas dos meses anteriores, registrando no acumulado do ano uma retração de -3,1%. Com exceção de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos, todos os demais setores apresentaram crescimento, com destaque para Livros, jornais, revistas e papelarias (69,1%); Tecidos, vestuário e calçados (53,2%); móveis e eletrodomésticos (31,0%); e outros artigos de uso pessoal e doméstico (26,1%).

 

CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

10. Os bancos privados assumiram o protagonismo nas concessões de crédito na pandemia. De 16 de março a 31 de julho, a concessão dos maiores bancos privados (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e BTG Pactual) foi de R$ 573,5 bilhões, segundo reportagem do Valor Econômico com base nos dados do Banco Central. Essa mudança está alinhada com a política do governo federal para reduzir o papel do Estado na concessão de créditos por meio de seus bancos, como o BNDES e Caixa Econômica Federal. O foco desse segundo banco tem sido na área social, com empréstimos para pessoas físicas e micro e pequenas empresas.

11. Na semana passada, o Senado aprovou a entrada do Brasil no Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, com sede na China. O acordo era de 2015, mas só foi aprovado agora. Com 26% de seu capital, a China consolidou a maior participação no banco multilateral. O Banco conta com um capital de US$ 100 bilhões e tem a participação de 83 países, como Turquia, Alemanha, Canadá e França; os EUA não participam do Banco. O aporte a ser feito pelo Brasil é de US$ 5 bilhões.

 

CONTAS PÚBLICAS

12. O Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita ou Tributação dos Estados e do Distrito Federal apresentaram uma proposta de consenso entre as 27 unidades da Federação em relação a reforma tributária. O Comitê defende uma reforma ampla e não fatiada, como a apresentada pelo governo federal. A proposta propõe a unificação dos impostos sobre consumo federais (PIS, Cofins e IPI), estaduais e municipais (ICMS e ISS), para criar o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Os estados também defendem o repasse de recursos federais por um período de dez anos no valor de R$ 485 bilhões para cobrir as perdas com o fim da “guerra fiscal”, e a desoneração das exportações de produtos básicos e semielaborados garantidos pela “Lei Kandir”.

 

MERCADO DE TRABALHO E RENDA

13. A taxa de desemprego brasileiro foi de 14,2% no mês de junho. Esse foi o pior resultado do segundo trimestre, que teve uma média de 13,3%, segundo os cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. A previsão é que os números piorem nos próximos meses, a depender do relaxamento da restrição social e o retorno à busca por emprego. O fim das políticas como a suspensão temporária do trabalho também pode aumentar o número de demissões e um novo ciclo de aumento do desemprego em setores estratégicos da economia, como o setor automotivo, que já vem sofrendo com cortes em suas folhas de pagamento.

 

EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

14. O consumo de bens industriais avançou 5,2% no mês de junho em relação ao mês de maio, segundo o indicador do IPEA. Esse indicador mede a produção industrial interna não exportada, acrescida das importações. Comparado ao mês de junho de 2019, a queda foi de 12%. No semestre, o recuo do consumo de bens industriais é de -9,8%. O resultado de junho de 2020 se deve ao crescimento de 16,2% da produção de bens nacionais e uma queda de -22,5% nas importações desses bens. O crescimento nos bens de consumo duráveis foi de 72,1%.

15. Os fabricantes de implementos rodoviários têm retomado o ritmo de vendas puxado principalmente pelo agronegócio e construção civil, com o emplacamento de mais de 12 mil unidades no mês de julho, segundo a Anfir. Contudo, no acumulado do ano a retração ainda é de -8,3%. As exportações tiveram uma queda de -43,9% de janeiro a julho.

16. As vendas de máquinas agrícolas no mês de julho apresentaram um crescimento de 15,6% em relação ao mês anterior. Comparado ao mesmo mês de 2019, o crescimento foi de 14,4%. No acumulado do ano o crescimento foi de 1,3%, como mostra os dados da Anfavea, ao reforçar o papel do Plano Safra no estímulo às vendas desse setor. Contudo, a produção nesse setor no acumulado do ano ainda apresenta uma queda de -21,5%.

17. A Agroindústria cresceu 1,9% em junho em referência ao mês de maio de 2020; o setor já demonstrava recuperação comparado ao mês de abril. Com isso, o Centro de Estudos em Agronegócios da FGV avalia que o pior momento da crise para a área já ficou para trás. Comparado a junho de 2019 a queda foi de -2,3%. No semestre a baixa foi de -6,1%.

18. As exportações brasileiras de carne suína em toneladas tiveram um crescimento de 47,9% em julho, em relação ao mesmo mês do ano de 2019. Em dólares, o crescimento foi de 37,3%, com um saldo de US$ 203,1 milhões, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal. No acumulado do ano, o crescimento em toneladas foi de 38,78% e de 49,9% na receita em dólares. A Ásia é o principal destino, representando 78,6% do total exportado pelo setor. Já o frango teve um crescimento no volume exportado de 5,7% no mês de julho, e uma receita 25% menor que o mesmo período de 2019. No acumulado do ano mantém uma alta de 0,5% no volume exportado e uma queda de -11,4% na receita cambial.

 

ESPECIAL COVID-19

19. Até o momento, os recursos liberados pelo governo federal do Auxílio Emergencial foram de R$ 156,8 bilhões, sendo feitos 223,5 milhões de pagamentos e beneficiando 66,2 milhões de pessoas, segundo a Caixa.

20. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, já foram gastos R$ 277,9 bilhões (na semana passada foi de R$ 275,1 bilhões) de uma previsão de R$ 512,0 bilhões (na semana passada era de R$ 510,0 bilhões), segundo o Tesouro Nacional. Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 167,66 bi), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 39,94 bi) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 20,9 bi).