Otan: a organização mais perigosa da Terra
A Organização do Tratado do Atlântico Norte é o único bloco militar real no mundo cujo mandato e ambições se estendem muito além do Atlântico Norte e, de fato, constituem a maior ameaça à paz mundial.

Uma colaboração com Basta de Guerra Fria e Zetkin Forum for Social Research
Os cartazes deste dossiê foram criados por artistas de todo o mundo e expostos na mostra (In)segurança, organizada no marco da Cúpula pela Paz de Madrid 2022, prévia à Cúpula da Otan na mesma cidade. A mostra foi uma iniciativa coletiva da Secretaria Europeia da Assembleia Internacional dos Povos, Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, Marcha Mundial de Mulheres e outras organizações.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) afirma que está enfrentando a maior crise existencial em seus quase 80 anos de história. Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua equipe de segurança nacional – aparentemente – dão as costas à Europa e dizem que não pagarão mais por sua segurança, os líderes da região se esforçam para levantar fundos para aumentar seu apoio à guerra na Ucrânia e desenvolver sua própria produção e capacidade militar. No entanto, não houve nenhuma indicação concreta de que os Estados Unidos, que são a força dominante na Otan, se retirarão desse instrumento militar ou tentarão dissolvê-lo. A Otan serve a uma ampla gama de propósitos para os Estados Unidos e tem feito isso desde que foi fundada em 1949. Uma coisa é pressionar os países europeus a investirem mais em sua própria defesa; outra é interpretar isso como um recuo estratégico mais amplo dos EUA na Europa. Apesar da retórica, o que Trump está fazendo não está fora do âmbito da abordagem geral da elite dos EUA: manter o poder global por meio de instrumentos como a Otan e um sistema estatal europeu flexível, em vez de isolar os Estados Unidos atrás dos oceanos Atlântico e Pacífico. A Otan continuará sendo um instrumento do poder do Norte Global, independentemente dos solavancos superficiais que são inevitáveis no futuro.
O título desse dossiê, Otan: a organização mais perigosa da Terra, se alinha à opinião do cientista político Peter Gowan (1946-2009), que escreveu na época do bombardeio da Otan e do desmembramento da Iugoslávia em 1999:
Devemos ter em mente dois fatos infelizes: primeiro, os países da Otan estiveram e estão empenhados em exacerbar as desigualdades de poder e riqueza no mundo, em destruir todos os enfrentamentos a seu poderio militar e econômico esmagador e em subordinar quase todas as outras considerações a esses objetivos; e, segundo, os países da Otan estão achando extraordinariamente fácil manipular seu eleitorado interno para que acreditem que esses países estão, de fato, conduzindo a população mundial para um futuro mais justo e humano, quando, na realidade, não estão fazendo nada disso. (Gowan, 1999, p. 103)
A Otan usa a linguagem dos direitos humanos e da segurança coletiva para ocultar as motivações subjacentes ao seu nascimento e à sua existência atual. Valeria a pena deixar de lado essa retórica e analisar o histórico real dessa aliança militar — e não de direitos humanos.
Esse dossiê está dividido em três partes. O primeiro apresenta um histórico da Otan e uma avaliação do seu papel no sistema imperialista liderado pelos EUA. A segunda se concentra em como a Otan, desde a queda da União Soviética, se redefiniu como polícia global e interveio – como mostraremos na terceira parte – de diferentes maneiras no Sul Global.
Parte 1: A aliança agressiva
A ideia da Otan teve origem nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos e o Reino Unido começaram a discutir novos acordos de segurança depois que as potências fascistas da Europa foram derrotadas (Dagdelen, 2024; Rynning, 2024, p. 275). Em 1945, os Estados Unidos sediaram a Conferência de São Francisco, na qual as Nações Unidas foram formadas. A Carta das Nações Unidas, ratificada pelos 50 participantes da conferência, permitia (no capítulo VIII, artigo 52) a formação de organizações de segurança regional e concedia a elas ações de execução – como sanções e intervenção militar –, mas somente com a autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas (no capítulo VIII, artigo 53) (Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2024a). Foi com base nessa permissão da Carta da ONU que os Estados Unidos reuniram dez países europeus e o Canadá para assinar o Tratado de Washington em 1949 e criar a Otan. Os países europeus que aderiram à Otan tiveram uma variedade de experiências no pós-guerra: a maioria deles, como a França e a Alemanha, teve que reconstruir suas forças armadas praticamente do zero; outros, como a Grã-Bretanha, mantiveram forças armadas relativamente intactas, enquanto um deles, a Islândia, não tinha nenhum exército permanente. A Otan forneceu a esses países o escudo militar (e nuclear) dos EUA. Em 1949, a Agência Central de Inteligência (CIA) distribuiu um memorando explicando que o verdadeiro objetivo da Otan não era apenas impedir a União Soviética de ameaçar a Europa, mas também continuar o “controle de longo prazo do poder alemão” e resolver a questão de “quem controlará o potencial alemão e, assim, manterá o equilíbrio de poder na Europa”. Essa avaliação rigorosa é uma visão mais precisa da Otan do que uma exegese de sua carta (National Security Archive, 1949). O entendimento da CIA tinha um cognato europeu. Como o primeiro secretário-geral da Otan, Lord Hastings Lionel Ismay, escreveu em um memorando interno em 1952, a organização deve “manter a União Soviética fora, os americanos dentro e os alemães abaixo” (Otan, 2024a).
No ano anterior à fundação da Otan, George Kennan, do Departamento de Estado dos EUA, refletiu sobre o fato de os Estados Unidos terem “cerca de 50% da riqueza mundial, mas apenas 6,3% de sua população”. As implicações disso precisariam ser resolvidas. Como Kennan escreveu no 23º Relatório da Equipe de Planejamento de Políticas:
Essa disparidade é particularmente grande entre nós e os povos da Ásia. Nessa situação, não podemos deixar de ser objeto de inveja e ressentimento. Nossa verdadeira tarefa no próximo período é elaborar um padrão de relacionamento que nos permita manter essa posição de disparidade sem prejudicar positivamente nossa segurança nacional. (Departamento de Estado dos EUA, 1976)
O “padrão de relacionamentos” que precisava ser construído para controlar a “inveja e o ressentimento” dos povos da Ásia e do Sul Global mais amplamente começou no ano anterior à formação da Otan, quando os EUA reformularam os acordos de segurança nas Américas com o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (ou Tratado do Rio) de 1947 e depois com a adoção de uma nova carta para a Organização dos Estados Americanos (OEA) em Bogotá, Colômbia, em 1948. Ambos acordos uniram os países da América Latina aos Estados Unidos. Alguns anos após a fundação da Otan, em 1949, os Estados Unidos criaram pactos de segurança no Leste Asiático (o Pacto de Manila de 1954, que criou a Organização do Tratado do Sudeste Asiático, ou Seato, na sigla em inglês) e na Ásia Central (o Pacto de Bagdá de 1955, que criou a Organização do Tratado Central, ou Cento, na sigla em inglês). Com esses pactos, a OEA, liderada pelos EUA, comprometeu-se com a ação anticomunista com o Comitê Consultivo Especial de Segurança contra a Ação Subversiva do Comunismo Internacional de 1962 (Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2022). Os Estados Unidos estabeleceram essa ecologia de pactos militares com dois objetivos: restringir o desenvolvimento de quaisquer partidos ou forças comunistas nas regiões e permitir a influência dos EUA sobre os governos de todo o mundo. Isso fez parte de uma projeção de poder mais ampla que permitiu aos EUA construir e manter bases militares – em alguns casos com capacidade nuclear – longe de suas próprias costas, mas perto da União Soviética, da República Popular Democrática da Coreia, da República Democrática do Vietnã e da República Popular da China, estabelecendo efetivamente as bases para uma presença militar global.
A necessidade de pactos militares começou a diminuir por vários motivos entre os anos 1960 e 1980. Primeiro, os Estados Unidos já haviam estabelecido uma enorme presença militar global, com bases do Japão a Honduras, criadas por meio de tratados bilaterais. Em segundo lugar, a tecnologia militar havia melhorado drasticamente, permitindo que os EUA fossem muito mais flexíveis e móveis com seu arsenal de mísseis de alcance intermediário, submarinos movidos a energia nuclear e enorme capacidade aérea. Em terceiro lugar, os EUA desenvolveram uma estratégia conhecida como “interoperabilidade”, que permitiu o uso das vendas de sua própria tecnologia militar para países aliados como uma forma de promover exercícios militares conjuntos – efetivamente conduzidos sob o comando militar dos EUA e principalmente para os interesses estratégicos dos EUA. Por fim, os EUA haviam criado estruturas de comando regional – como o Comando do Pacífico em 1947 (Pacom, que se tornaria o Comando Indo-Pacífico em 2018), o Comando Sul (Southcom) em 1963 e o Comando Central (Centcom) em 1983 – que já haviam estabelecido acordos bilaterais e multilaterais com as forças armadas aliadas. Portanto, não exigia alianças militares regionais adicionais. Esses novos mecanismos para a presença militar global dos EUA tornaram os pactos de segurança menos necessários em lugares como a Ásia e o Oriente Médio. A Seato foi dissolvida em 1977, em grande parte devido à falta de interesse dos países do Sudeste Asiático, e dois anos depois, após a Revolução Iraniana, o Cento foi fechado (Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2022). No entanto, esse não foi o caso da América Latina, onde a OEA continua operando até hoje, focada precisamente em como minimizar o papel da esquerda na América Latina (Cuba foi suspensa da organização em 1962, após o que Fidel Castro se referiu a ela como o “Ministério das Colônias”).
Além da OEA, a Otan foi a outra exceção crucial. Ela não foi dissolvida. A fórmula de Lord Hastings estava intacta. Mantenha a União Soviética afastada: mantenha as bases militares dos EUA e da Otan com armas nucleares dos EUA na Europa como um impedimento para qualquer movimento soviético além das linhas estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial. Manter os americanos dentro: do ponto de vista dos EUA, isso na verdade significava manter os europeus afastados, o que significava que nunca deveriam ter permissão para criar seu próprio exército continental e que, sempre que a expansão da União Europeia (UE) fosse discutida, a expansão da Otan seria acompanhada para manter a influência dos EUA na região. Manter os alemães sob controle: garantir que as antigas potências imperialistas não tenham ambições além de serem aliados subordinados dos Estados Unidos, uma visão que os EUA mantiveram não apenas para a Alemanha, mas também para toda a Eurásia – especialmente para o Japão. A Otan, portanto, continuou sendo um elemento essencial da arquitetura do imperialismo estadunidense.
Independentemente do que as autoridades dos EUA e da Otan disseram, ficou claro que tinham três objetivos para esse pacto militar: impedir que a esquerda crescesse em seus próprios países (destruindo as frentes populares na França, Grécia e Itália durante o final dos anos 1940 e 1950, bem como o movimento antiguerra na Alemanha Ocidental durante os anos 1960 e 1970); conter e reverter o bloco socialista (incluindo, após 1959, a Revolução Cubana); e impedir o sucesso dos movimentos de libertação nacional na África e na Ásia (incluindo o apoio às guerras coloniais de Portugal na África entre as décadas de 1960 e 1970 e a assistência aos Estados Unidos na Coreia, no início da década de 1950, e no Vietnã, entre as décadas de 1960 e 1970) (Neumann, 2024).

Cartaz da Cúpula da Paz de Madrid, 2022.
Parte 2: Otan global
Em novembro de 1991, um mês antes da dissolução formal da União Soviética, a Otan divulgou um relatório chamado Novo Conceito Estratégico, que reconhecia a existência de uma “nova era, mais promissora, na Europa” (Otan, 2022). Nesse clima, os membros da Otan poderiam ter construído a confiança necessária para dizer: vamos dissolver a aliança. Em vez disso, legitimaram a existência contínua da Otan, alertando sobre ameaças “multidirecionais” que exigiam intervenções coordenadas, mesmo fora dos territórios dos países membros da organização.
Em 1997, na sede da Otan em Bruxelas, a Secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, disse que, com o fim da União Soviética, “muitas pessoas acreditam que não enfrentamos mais uma ameaça tão unificadora, mas eu acredito que sim”. Qual era, então, o propósito da Otan? Albright explicou:
O objetivo é impedir a proliferação de armas nucleares, químicas e biológicas. É extinguir o fogo da combinação explosiva de tecnologia e terror, a possibilidade, por mais impensável que possa parecer, de que as armas de destruição em massa caiam nas mãos de pessoas que não têm nenhum receio de usá-las. Essa ameaça emana principalmente do Oriente Médio e da Eurásia, portanto, a Europa está especialmente em risco. (Albright, 1997)
Em outras palavras, a Otan teve que intervir em áreas fora da Europa para proteger a Europa. Essa é a interpretação caridosa e superficial. Mas há outra maneira de entender o que Albright disse tão claramente. Desde o colapso da União Soviética, a Rússia – sob o comando de um presidente complacente, Boris Yeltsin (que deveu sua reeleição em 1996 à interferência dos EUA) – rendeu-se efetivamente aos EUA e, assim, os Estados Unidos aproveitaram a oportunidade para usar seu próprio poder militar esmagador e o de seu principal instrumento global, a Otan, para expandir seu domínio pela Europa Oriental e punir quaisquer “Estados revoltosos” (como Anthony Lake, do Departamento de Estado dos EUA, os chamou em 1994) que se recusassem a adotar as políticas de globalização, neoliberalismo e primazia dos EUA.1
Os governos do Norte Global precisam da imagem de um inimigo ameaçador para legitimar a existência da Otan. Seja pela percepção da ameaça do comunismo (União Soviética durante a Guerra Fria), seja por alegações de terrorismo (Al-Qaeda) ou autoritarismo (Rússia e China, mais recentemente), os países membros da Otan semeiam o medo em relação aos “inimigos do mundo livre” para convencer suas próprias populações da necessidade de militarizar ainda mais suas sociedades, como, por exemplo, expandindo suas forças militares e policiais (Monastiriakos, 2024). Essa demagogia também serve para integrar movimentos e sindicatos progressistas ao esforço de guerra da Otan.
Na verdade, em 1991, já havia ficado claro que os Estados Unidos usariam a Otan para subjugar a Europa Oriental e a Rússia e que, em seguida, seria usada como polícia global contra qualquer “Estado pária” que decidisse desafiar o poder dos EUA nessa nova era. As linhas de engajamento da Otan seguiriam à risca a política dos EUA. Como observou a Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América do presidente George W. Bush em 2002, “nossas forças serão firmes o suficiente para dissuadir adversários em potencial de buscar um aumento militar na esperança de superar ou igualar o poder dos Estados Unidos” (Casa Branca, 2002, p. 39). O conceito de “adversários em potencial” – inicialmente “Estados revoltosos” ou “Estados párea”, em 1994, e depois “terrorismo catastrófico”, em 1998 – logo se concentraria na Rússia e na China.2
Havia diretrizes geopolíticas que basearam essa decisão, mas também havia dinheiro envolvido. Quando a União Soviética entrou em colapso, o setor bélico temia que houvesse um “dividendo da paz” e que seus lucros, que haviam crescido imensamente durante esse período, fossem prejudicados. Assim, a indústria de armas criou o Comitê dos EUA para Ampliar a Otan, presidido por Bruce Jackson (então vice-presidente da Lockheed Martin), que fez lobby junto ao Congresso dos EUA para aprovar a Lei de Facilitação da Ampliação da Otan de 1996. Nos dois anos seguintes, de 1996 a 1998, as seis maiores empreiteiras militares gastaram 51 milhões de dólares fazendo lobby no Congresso para promover a expansão da Otan (Seele, 1998). Como disse Joel Johnson, da Aerospace Industry Association, “os riscos são altos. Quem entrar primeiro terá o controle para o próximo quarto de século” (já que as vendas de aeronaves pressupõem enormes compras adicionais de peças de reposição e novas aeronaves para manter e expandir as frotas) (Gerth & Weiner, 1997).
Os novos membros da Otan foram fortemente incentivados a comprar da indústria de armamentos dos EUA e, portanto, a ampliação da Otan foi também a ampliação do mercado de armamentos para a Boeing, Lockheed Martin, McDonnell Douglas, Northrop Grumman, Raytheon e Textron (conhecidas na época como as “seis grandes”, todas sediadas nos Estados Unidos) (Seele, 1998). Entre 2015-2019 e 2020-2024, por exemplo, os membros europeus da Otan mais do que dobraram suas importações do setor de armas, sendo 64% provenientes dos Estados Unidos (Sipri, 2025; Pfeifer et al., 2025).
A dependência da Europa em relação aos fabricantes de armas dos EUA tem sido um problema para os burocratas da região há décadas. Em 2003, por exemplo, um estudo da Comissão Europeia escreveu que “existe o perigo de que a indústria europeia seja reduzida ao status de subfornecedora para os principais contratantes dos EUA, enquanto o know-how essencial é reservado para as empresas americanas” (Comissão de Comunidades Europeias, 2003, p. 11). Isso fazia parte da visão geral de subordinar a Europa às ambições dos EUA.
Em 1999, ultrapassando qualquer diretriz da ONU para manutenção da paz, a Otan entrou em guerra na Iugoslávia para desmembrar o país. Durante essa guerra, a Otan bombardeou a embaixada chinesa em Belgrado, o que os chineses continuam acreditando que foi um ato deliberado (Stevenson, 2023, p. 46-7). Esse foi o primeiro indicador do avanço da Otan para fora de sua área de operações. Dois anos depois, a Otan realizou outra operação “fora da área” ao entrar na guerra iniciada pelos EUA no Afeganistão. Isso deu à Otan a confiança de que agora ela tinha a capacidade e a permissão para operar como polícia da ordem liderada pelos EUA, com Ivo H. Daalder – que se tornou embaixador dos EUA na Otan em 2009 – e James Goldgeier (um defensor de longa data da expansão da Otan) escrevendo na Foreign Affairs sobre a “Otan Global” em 2006 (Daalder & Goldgeier, 2006, p. 105-113). Embora a Otan não tenha entrado formalmente na guerra ilegal contra o Iraque em 2003, ela apoiou a Polônia e a Turquia com logística e comunicações na guerra. Durante esse período, a Otan começou a expandir seus relacionamentos com forças militares em todo o mundo, principalmente na Europa Oriental e no Leste Asiático, e participou da Guerra ao Terror dos EUA de diversas maneiras (De Nevers, 2007, p. 34).
Antes do colapso da União Soviética, e para permitir a anexação da República Democrática Alemã (RDA), o governo dos Estados Unidos assumiu um compromisso com o governo soviético de que a Otan não se expandiria além da fronteira oriental da Alemanha.3 No entanto, após a queda da União Soviética, a aliança militar fez exatamente isso. O bombardeio da Iugoslávia em 1999 enviou uma mensagem clara às nações do Leste Europeu: ou vocês estão conosco ou contra nós. Nos anos seguintes, esses países foram incorporados à Otan: República Tcheca, Hungria e Polônia em 1999; Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia em 2004; Albânia e Croácia em 2009; Montenegro em 2017; e Macedônia do Norte em 2020. Durante esse processo, os EUA tomaram medidas para garantir que a Alemanha, agora reunificada, fosse “contida” e operasse somente dentro dos limites estabelecidos por Washington (Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2024c). A expansão da UE para o leste foi permitida, mas foi precedida pela expansão da Otan (ou, pelo menos, concomitante a ela). Assim, a hegemonia dos EUA no bloco ocidental foi garantida, principalmente na Europa Oriental.
Embora quatro países que fazem fronteira com a Rússia (Estônia, Lituânia, Letônia e Polônia) já tivessem aderido à Otan em meados da década de 2000, o governo russo não permitiria a adesão da Geórgia e da Ucrânia, dois países que compartilham fronteiras consideráveis com a Rússia. Na Cúpula da Otan de abril de 2008, em Bucareste, no contexto da crescente dependência da Europa em relação ao gás natural e ao petróleo russos, a França e a Alemanha bloquearam a entrada da Geórgia e da Ucrânia na Otan. O envio de tropas russas após um confronto militar da Geórgia com a Rússia na Ossétia do Sul, no mesmo ano, forneceu a primeira indicação de até onde Moscou iria para impedir as ambições da Geórgia de se juntar à UE ou à Otan. A remoção do governo ucraniano em 2014, influenciada pelos EUA, a insistência do Norte Global para que a Ucrânia se juntasse à Otan e a retirada dos EUA dos principais tratados de controle de armas – incluindo o Tratado de Mísseis Antibalísticos (2002) e o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (2019) – sugeriram à Rússia que Washington pretendia colocar armas nucleares de médio alcance em sua fronteira.4 Isso não era negociável para Moscou e levou à invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
Desde o início da década de 1950, os Estados Unidos se queixam de ter que arcar com o ônus dos gastos da Otan porque os países europeus não gastam o suficiente em sua capacidade militar.5 Em 1952, até mesmo o parlamento do Reino Unido debateu a desigualdade dos gastos militares e do serviço militar obrigatório nos países da Otan (Parlamento do Reino Unido, 1952). No entanto, o baixo nível de gastos militares dos países europeus permaneceu e, na verdade, houve até mesmo um declínio na década de 1970 devido ao processo de distensão que se seguiu à assinatura do Tratado de Mísseis Antibalísticos de 1972 e dos Acordos de Helsinque de 1975, bem como à estagflação que sufocou as economias europeias no mesmo período. Na década de 1980, o governo do então presidente dos EUA Ronald Reagan pressionou a Europa a aumentar seus gastos militares. Na era pós-Guerra Fria, as autoridades estadunidenses novamente cantaram em harmonia sobre a necessidade de aumentar os gastos militares europeus.
Ao mesmo tempo, porém, a Europa reconheceu que sua dependência dos EUA a impedia de operar de forma independente. Após as guerras na Bósnia (1995) e na Iugoslávia (1999), por exemplo, houve um debate nas capitais europeias sobre a dependência em relação aos Estados Unidos (Parlamento do Reino Unido, 2000). O impulso para construir o sistema de navegação por satélite da Europa, o Galileo, foi motivado em grande parte por essa ansiedade. “Se a UE achar necessário realizar uma missão de segurança que os EUA não considerem ser de seu interesse”, observou um documento da Comissão Europeia em 2002, a Europa “será impotente a menos que tenha a tecnologia de satélite que agora é indispensável” (Caldicott & Eisendrath, 2007, p. 31). Na Cúpula da Otan em Riga, em 2006, os membros concordaram que deveriam aumentar seus gastos militares para 2% do PIB, uma norma reforçada na Cúpula da Otan no País de Gales, em 2014 (Otan, 2006).
Embora cientes dos problemas da dependência militar, os Estados europeus queriam, no entanto, permanecer sob a cobertura do manto militar dos EUA. Os líderes europeus correram de cúpula em cúpula da Otan, consentindo com o aumento de seus gastos militares, independentemente dos danos que isso causaria às suas sociedades e à sua própria política externa, que estava se tornando cada vez mais militarizada. Em 2022, o chanceler alemão Olaf Scholz fez um discurso mais tarde conhecido como Zeitenwende (que significa “virada de uma era”), no qual prometeu um fundo de 100 bilhões de dólares de aumento de seus gastos militares (Scholz, 2022). Então, em 2025, quando o governo dos EUA decidiu cortar a assistência militar à Ucrânia, o governo alemão (agora liderado pelo chanceler Friedrich Merz) – que tinha sido uma voz arrogante de prudência fiscal em relação ao seu próprio povo e contra os povos dos países europeus mais pobres (como a Grécia) – ignorou sua regra de freio da dívida (um teto que limita os empréstimos do governo e foi consagrado na constituição do país em 2009) para aumentar os gastos militares (McHugh, 2025). Nesse mesmo ano, a UE também anunciou planos para aprovar 800 bilhões de euros em créditos de guerra (Le Monde, 2025). Em outras palavras, é possível encontrar dinheiro para a Otan, mas não para proteções sociais ou infraestrutura essencial (Ganesh, 2025).

Goyen Chen, War Only Brings Pain [A guerra só traz dor] , 2022.
Parte 3: A Otan e o Sul Global
Em 2023, um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o embaixador alemão Christoph Heusgen cutucou a primeira-ministra da Namíbia, Saara Kuugongelwa-Amadhila, para saber por que seu país não havia condenado a Rússia. Kuugongelwa-Amadhila respondeu calmamente que seu país estava “promovendo uma resolução pacífica desse conflito para que o mundo inteiro e todos os recursos do mundo possam se concentrar em melhorar as condições das pessoas em todo o mundo, em vez de serem gastos na aquisição de armas, na morte de pessoas e na criação de hostilidades” (Kuugongelwa-Amadhila, 2023). O dinheiro que é usado para comprar armas, acrescentou Kuugongelwa-Amadhila, poderia ser usado até mesmo na Europa, “onde muitas pessoas estão passando por dificuldades”. O que é significativo nesse intercâmbio não foi o que Kuugongelwa-Amadhila disse, mas o fato de ela ter dito algo que fosse contrário ao consenso do Norte Global.
A perplexidade se espalhou pela sala e além dela. Por que esses líderes de países pequenos e pobres do Sul Global estão se manifestando contra o Norte Global, e por que eles não estão tão subordinados como antes? Como o Ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi, escreveu no prefácio do Diplomatic Bluebook 2023 do país, se propondo a entender o surgimento do Sul Global, “O mundo está agora em um ponto de inflexão na história” (Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2024b). Em um relatório de novembro de 2024, o relator da Otan e ex-ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Audronius Ažubalis, reconheceu as mudanças que estão ocorrendo no mundo com a ascensão do Sul Global:
É possível que o Ocidente não tenha se adaptado com rapidez suficiente a essa nova realidade, permitindo que potências autoritárias como a Rússia e a China fizessem incursões significativas na Ásia, na África, na América Latina e no Pacífico, colhendo benefícios econômicos e geopolíticos significativos. (Azubalis, 2024, p. 13)
A avaliação de Ažubalis demonstra quão pouco os líderes do Norte Global entendem sobre a ascensão do Sul Global. Na verdade, é o surgimento de um novo centro de indústria e forças produtivas na Ásia (da Índia e da China ao Vietnã e à Indonésia) e a criação de um novo conjunto de instituições de desenvolvimento (incluindo o Novo Banco de Desenvolvimento) que permitiram que os países mais pobres tivessem alguma influência sobre o Fundo Monetário Internacional, dominado pelo Departamento do Tesouro dos EUA. Em outras palavras, não é que a China esteja fazendo “incursões significativas” nesses continentes, mas sim que a China – e outros países – são capazes de sustentar os esforços de desenvolvimento nas nações mais pobres. Como o Norte Global não está fazendo isso, esses países não estão mais em dívida com ele. Simplesmente descartar a China e a Rússia como “potências autoritárias” e presumir que a retórica cansada do liberalismo e da democracia ocidentais atrairá países que desejam desenvolver suas economias é temerário. Igualmente absurda é a acusação de autoritarismo por parte de países que rotineiramente se aliam a monarquias. A incapacidade de entender o movimento real da história paralisa os intelectuais da Otan, que, em vez disso, recorrem à suposição de que os povos da África, Ásia, América Latina e Pacífico estão apenas sendo enganados pela Rússia e pela China e que, se soubessem a verdade sobre o liberalismo e a democracia ocidentais, tomariam a decisão correta de se subordinar ao Norte Global.
No entanto, a Otan desenvolveu uma presença importante na região do Mediterrâneo, no continente africano e na Ásia (e tem um papel menor a desempenhar na América Latina, onde seu principal aliado é a Colômbia). No restante desta seção, vamos nos concentrar nessas três regiões de atividade significativa da Otan.
O Mediterrâneo, a Guerra ao Terror e a instrumentalização da migração
Na década de 1990, a Otan havia estendido seus tentáculos para explorar colaborações em todo o mundo, começando pelo que chamou de “vizinhança do sul” (ou seja, os países ao sul do Mar Mediterrâneo). Em 1994, lançou o Mediterranean Dialogue [Diálogo Mediterrâneo], um fórum para países fora da zona da Otan realizarem intercâmbios com países da Otan. Os países aderiram ao diálogo em ondas, desde a Argélia, o Egito e Israel até a Jordânia, a Mauritânia, o Marrocos e a Tunísia, muitos dos quais não tinham relações com Israel e, ainda assim, sentaram-se à mesa com o representante desse país. Em 2004, um ano depois que os Estados Unidos e vários de seus aliados da Otan participaram da guerra ilegal contra o Iraque, a Otan reuniu quatro países do Golfo Árabe (Bahrein, Kuwait, Catar e Emirados Árabes Unidos) na Iniciativa de Cooperação de Istambul para aumentar a cooperação militar entre a Otan e o Golfo Árabe. Vários dos países dessas iniciativas (incluindo pelo menos o Catar, os Emirados Árabes Unidos, a Jordânia e o Marrocos) participaram da Operação Unified Protector da Otan em 2011, que destruiu o Estado líbio. Em 2016, a Otan inaugurou o Strategic Direction South Hub perto de Nápoles, na Itália; em 2017, abriu um Centro Regional da Iniciativa Cooperativa de Istambul no Kuwait; e depois, dentro desse processo de diálogo, sugeriu a abertura de um Escritório de Relações da Otan, em Amã, na Jordânia. Esse escritório foi anunciado na Cúpula da Otan de 2023 em Vilnius e inaugurado no ano seguinte.
Esses pronunciamentos e comunicados falam efusivamente de direitos humanos e democracia, mas as palavras-chave na realidade são contraterrorismo e interdição de migrantes nos mares e oceanos. Após a atrocidade da guerra da Otan contra a Líbia em 2011, quando a aliança já estava mergulhada no pântano da Guerra ao Terror, ela começou sua guerra contra migrantes de várias partes do Sul Global que viajaram para esse país devastado pela guerra para tentar atravessar o mar em direção à Itália. Os líderes da Otan começaram a falar dessa tragédia como a “instrumentalização dos migrantes”, o que significava para eles que seus inimigos estavam empregando os migrantes como uma “ameaça híbrida” para dominar seus países (uma frase que foi usada especificamente quando a Rússia permitiu que requerentes de asilo de vários países cruzassem a fronteira com a Finlândia em 2024). Em uma reunião em Washington em 2024, o ex-secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, reconheceu diretamente que “a Otan tem um papel a desempenhar” na “instrumentalização da migração” (Otan, 2024d). Essa é a Otan trazendo toda a sua panóplia de recursos militares para defender a Fortaleza Europa, uma ideia de direita e anti-imigração.
A África diz: “Otan, Dégage!”
A ação mais consequente da Otan ao sul do Mediterrâneo foi o uso da força para destruir o Estado líbio em 2011. Essa ação abriu as portas para que africanos e outros migrassem para a Europa por meio da Líbia e deu início a um ataque terrorista contra a Argélia, Mali, Burkina Faso e Níger. Mais de uma década depois, os detritos da intervenção da Otan permanecem.
Notavelmente, essa intervenção ocorreu sob o pretexto da “responsabilidade de proteger” (R2P), uma norma internacional desenvolvida por uma Organização das Nações Unidas sitiada que “busca garantir que a comunidade internacional nunca mais deixe de impedir os crimes de atrocidade em massa de genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade” (Global R2P, s.d). Embora o Comitê Internacional sobre Intervenção e Soberania do Estado tenha desenvolvido a R2P em 2001 em resposta ao genocídio de Ruanda em 1994 e ao bombardeio da Iugoslávia pela Otan em 1999, foi somente depois que os Estados Unidos prejudicaram a ideia de “intervenção humanitária” com sua guerra ilegal contra o Iraque em 2003 que foram tomadas medidas mais concretas para consolidar a R2P como uma norma internacional até que ela fosse formalmente adotada em uma Cúpula Mundial da ONU em 2005.
A França, que foi um dos autores da destruição da Líbia, usou o ataque terrorista subsequente ao Sahel para legitimar sua própria intervenção militar na região, que agora foi afastada por golpes populares sob a palavra de ordem France, dégage! (Prashad, 2024).. Esse sentimento, “Fora França!”, entra em uma órbita mais ampla: Fora Europa! Fora Otan!
Para a maioria das pessoas no continente africano, não seria fácil distinguir entre a UE, os EUA e a Otan. A política da UE sobre migração, por exemplo, não é uma política civil, mas paramilitar, que usou a Arma dei Carabinieri da Itália e a Guardia Civil da Espanha para patrulhar o Sahel por meio dos Grupos de Ação Rápida para monitoramento e intervenção no Sahel (GAR-SI) de 2017 a 2021. Enquanto isso, os EUA usaram drones para fornecer capacidade de vigilância a partir da AB 201, uma enorme base militar dos EUA em Agadez, Níger (Civipol, 2021). A intervenção militar francesa, as bases dos EUA na região, o uso de tecnologias de vigilância no Sahel e no Saara que são rigidamente regulamentadas ou proibidas na Europa: é assim que o norte da África vivencia o projeto da Otan – não pelos direitos humanos, mas pela brutalidade (Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2021).
No entanto, a presença da Otan na África tem representado um desafio para os governos do continente, que continuam buscando dinheiro e assistência técnica. Em 2015, essa dinâmica deu à Otan o direito de criar um escritório na sede da União Africana (UA) em Adis Abeba, Etiópia (Otan, 2023). É essa concessão à Otan que permite que os Estados africanos solicitem treinamento e fundos para a incipiente Força Africana de Prontidão (uma de suas cinco forças regionais é a Capacidade de Prontidão da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, que quase invadiu os Estados de Mali, Burkina Faso e Níger após seus golpes populares em 2021, 2022 e 2023, respectivamente) (Eid, 2024). Os líderes militares africanos continuam entrando e saindo dos quartéis-generais militares dos países da Otan, que agora foram formalizados como as Conversações entre Militares da Otan e da UA (Otan, 2024b). Com esse tipo de aconchego, não significa quase nada o fato de o Conselho de Paz e Segurança da UA ter feito uma declaração em 2016 pedindo aos Estados-membros que fossem “circunspectos” em relação a bases militares estrangeiras em seu solo (União Africana, 2016).

Goyen Chen, Know Love, Know Peace. No Love, No Peace [Conhecer a paz, conhecer a guerra. Sem amor, sem paz] 2022.
O desafio da Otan para a China
As guerras na Iugoslávia, no Afeganistão e na Líbia levaram a Otan para fora de sua área direta de operações. No entanto, isso está longe de ser o limite da geografia do imperialismo da Otan. Como Sten Rynning, do Instituto Dinamarquês de Estudos Avançados, escreveu em seu livro de 2024 NATO: From Cold War to Ukraine, a History of the World’s Most Powerful Alliance, “Naturalmente, a Otan não pode se dar ao luxo de ignorar o Indo-Pacífico, porque esse teatro se tornou a principal preocupação geopolítica dos Estados Unidos” (Rynning, 2024, p. 275). Essa formulação seria interessante para um linguista: A Otan “não pode se dar ao luxo de ignorar” as questões centrais que preocupam não os membros da Otan como um todo, mas os Estados Unidos. Em outras palavras, Rynning, cujo livro é o mais próximo que chegaremos de um estudo autorizado da Otan, admite abertamente duas coisas. Primeiro, que a política da organização não é determinada pelo Conselho do Atlântico Norte (oficialmente o principal órgão decisório da organização), mas pelos Estados Unidos. Em segundo lugar, desde 2009 (quando Barack Obama se tornou presidente dos EUA), os EUA passaram a ver cada vez mais a China como seu principal rival, pressionando a Otan a expandir sua órbita para ameaçar os chineses e colocá-los em seu lugar.
Até recentemente, a Otan descrevia a China como uma nação que oferecia tanto “oportunidades quanto desafios”, como escreveu na Declaração de Londres de 2019. Dois anos depois, sob pressão dos EUA, a Otan decidiu que a China não oferecia mais “oportunidades”, mas que suas “ambições declaradas e seu comportamento assertivo apresentam desafios sistêmicos à ordem internacional baseada em regras e a áreas relevantes para a segurança da Aliança”, de acordo com a Declaração de Bruxelas de 2021 (Otan, 2019; 2021). Em um ensaio publicado no site da Otan em 2023, Luis Simón, do Real Instituto Elcano, com sede em Madri (fundado e financiado pelo Estado espanhol), argumentou que “a China constitui um desafio para um sistema internacional que ainda reflete amplamente os valores e interesses transatlânticos” (Simon, 2023). Essa é uma observação correta: não é que a China se oponha à “ordem internacional baseada em regras”, como afirma o Departamento de Estado dos EUA, mas sim que ela pode se opor à dominação transatlântica desse sistema.
Simón observa duas outras maneiras significativas de a China ser “relevante” para a segurança da Otan. Em primeiro lugar, a China tem sistemas de armas que podem chegar à Europa e tem “participações em infraestrutura crítica na Europa”. Em segundo lugar, como a Nova Guerra Fria contra a China é “imensamente importante para os Estados Unidos”, a Otan deve estar envolvida na fronteira do Indo-Pacífico. Isso reforça o argumento de Rynning de que, se é importante para os EUA, deve ser importante para a Otan (aqui, Simón, um cidadão espanhol, concorda com Rynning, um cidadão dinamarquês, de que a soberania das políticas externas de seus próprios países pode ser cedida a Washington).
Foi essa atitude que motivou a Otan a usar seu Programa de Parceria Individualmente Personalizada (criado em 2021) para criar laços estreitos com a Austrália e a Nova Zelândia (ambas já eram membros da aliança de inteligência Five Eyes), bem como com o Japão e a Coreia do Sul. Esses países agora fazem parte do Indo-Pacífico 4 (IP4) e participaram da Cúpula da Otan de 2022 em Madri como membros próximos (Otan, 2024c). Então, em setembro de 2024, o primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba pediu a formação de uma “Otan asiática”. No entanto, embora a aliança tenha considerado a abertura de um escritório de ligação em Tóquio no passado, uma Otan asiática seria em grande parte redundante, considerando os elementos já estabelecidos da Estratégia Indo-Pacífica dos Estados Unidos, como:
- Five Eyes (Cinco Olhos), uma rede de agências de inteligência vinculadas por acordos não divulgados, composta por Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Reino Unido e EUA.
- O Diálogo de Segurança Quadrilateral (ou Quad), que inclui a Austrália, a Índia, o Japão e os Estados Unidos.
- The Squad, que substitui as Filipinas por uma Índia menos entusiasmada.
- A aliança entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos (Aukus).
- A aliança Japão-Coreia do Sul-EUA (Jakus).
Além disso, o governo dos Estados Unidos atraiu de forma muito provocativa a província chinesa de Taiwan para o crescente papel da Otan na Ásia. Por exemplo, o projeto de Lei de Política de Taiwan do Congresso dos EUA considera Taiwan como um “importante aliado não pertencente à Otan”, enquanto uma emenda recomendada à Lei de Controle de Exportação de Armas de 1976 inclui o país na lista de “receptores da Otan Plus”, permitindo que ele evite regras de não proliferação de diferentes tipos (Hudson Institute, 2025; USCC, 2024, p. 443-485; Senado dos EUA, 2022; Fernandes, 2018, 2022; Cannon & Hakata, 2021; Baldauff, 2024).
Em outras palavras, já existem várias plataformas que fazem o trabalho de uma Otan asiática, e a Otan já está totalmente envolvida no Indo-Pacífico, como evidenciado por sua disposição em participar do projeto dos EUA de patrulhar as águas ao redor da China e construir projetos de segurança, como bases e alianças. A aliança atlântica da Otan já zarpou para o Oceano Pacífico. Essa é a diplomacia de canhões do século XXI.
Em 1839, os navios britânicos que impunham o ópio aos chineses tinham nomes sugestivos, como HMS Volage e HMS Hyacinth, o primeiro (Volage) indicando inconstância, e o segundo (Hyacinth), uma referência à mitologia grega indicando ciúme. Vale a pena preservar esses nomes. As alianças da Otan também são inconstantes. Seus interesses também são movidos pelo ciúme, protegendo os interesses de seus Estados-membros em detrimento dos interesses globais, como ela pretende. Ele quer manter o sistema baseado em regras dos EUA e impedir o desenvolvimento de outros países. É isso que torna a Otan a organização mais perigosa e reacionária do mundo atual.

Othman Ghalmi, Where Can I Find Peace [Onde posso encontrar a paz?], 2022.
Notas
1Em 1997, Peter Gowan escreveu: “Ao entrar na Polônia, a Otan na verdade aumenta a insegurança dos países bálticos. A conclusão é inevitável: a primeira e principal base para a entrada na Polônia não é uma ameaça russa, mas a extrema fraqueza atual da Rússia. Devido ao catastrófico colapso social e econômico dentro da Rússia e ao fato de que seu Estado foi, no momento, capturado por um clã de capitalistas gângsteres em torno do protegido do Ocidente, Boris Yeltsin, o Estado russo não está em condições, no momento, de resistir à ampliação. É quase certo que essa fraqueza russa será temporária. Devemos presumir que a economia e o Estado russo se recuperarão. Ela poderia facilmente se tornar dez vezes mais forte em termos de recursos do que é hoje. A Otan está, portanto, explorando uma ‘janela de oportunidade’ que não ficará aberta por muito tempo. É o caso, portanto, de estabelecer rapidamente um fato consumado contra a Rússia” (Gowan, 1999, p. 298-299).
2Para saber mais sobre “Estados revoltosos” ou “Estados pária”, ver: Lake, 1994, p. 45-55. Sobre “terrorismo catastrófico”, ver: Carter et al., 1998, p. 80-95. Quando Lake escreveu esse ensaio, ele era o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, e Carter foi posteriormente o Secretário de Defesa dos EUA (2015-2017). Deutch foi vice-secretário de Defesa dos EUA (1994-1995) e depois chefe da Agência Central de Inteligência (1995-1996), enquanto Zelikow foi o autor da Estratégia de Segurança Nacional de Bush em 2002.
3Para uma avaliação da anexação da RDA, ver: Internationale Forschungsstelle DDR e Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, 2021; para a controvérsia sobre a expansão da Otan para o leste, ver: Sarotte, 2014, p. 90-97; 2021.
4Para uma compreensão ampla da captura neoliberal das estruturas da Ucrânia, ver: Yurchenko, 2017; para uma avaliação do contexto da guerra na Ucrânia, ver: Bellamy Foster et al., 2022.
5Um resumo inicial está disponível em Busler, 1985; o mais recente é seu livro Assessing NATO’s Value, de 2019. A semelhança de tom e argumento ao longo de 34 anos e cinco presidentes é impressionante.
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