Os crimes de Israel na Cisjordânia
Desde outubro de 2023, as operações de Israel na Cisjordânia se intensificaram, embora não tenham recebido a atenção que merecem.

Oslo II e os Territórios Palestinos Ocupados
Em setembro de 1995, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o governo israelense assinaram o Acordo Interino Israelense-Palestino sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza (Oslo II), que deu início a um processo visando a criação de um Estado palestino adjacente a Israel em partes do Território Palestino Ocupado (TPO). Os TPO representam apenas 22% da Palestina histórica (definida como o território que estava sob o Mandato Britânico). Em outras palavras, os palestinos receberam menos de um quarto de suas terras históricas e, mesmo sobre essas terras, têm pouca ou nenhuma autoridade. Após o acordo interino, a Cisjordânia foi dividida em três áreas:
- Área A, que está tecnicamente sob total controle civil e de segurança palestino por meio da Autoridade Palestina, constitui aproximadamente 18% da Cisjordânia, ou 3,96% da Palestina histórica.
- Área B, sob controle civil palestino por meio da Autoridade Palestina, mas efetivamente com controle de segurança israelense, representa cerca de 22% da Cisjordânia, ou 4,62% da Palestina histórica.
- Área C, totalmente controlada por Israel, compreende mais de 60% da Cisjordânia, ou 13,42% da Palestina histórica.
Assim, de acordo com a lógica de Oslo II — e após a anexação de Jerusalém Oriental e a ocupação de Gaza — Israel controla 97% da Palestina histórica.
Sufocando os palestinos na Cisjordânia
As operações de Israel na Cisjordânia foram planejadas para tornar a vida insuportável para os palestinos. Os controles e restrições de movimento tornaram praticamente impossível para os palestinos educarem seus jovens e empregarem seus adultos. Antes de outubro de 2023, Israel operava 590 bloqueios de estradas e postos de controle na Cisjordânia, número que aumentou para quase 900 desde então, resultando na paralisação quase completa das atividades humanas básicas. Tornou-se impossível para os palestinos acessarem água e terra para a produção agrícola, bem como a água potável necessária para uma vida digna. A criminalização da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) por Israel interrompeu severamente suas operações, impedindo que refugiados palestinos (aproximadamente um quarto dos palestinos que vivem na Cisjordânia) tenham acesso a serviços básicos de educação, saúde e emprego.
Deslocamento e confisco
Israel está realizando uma limpeza étnica na Cisjordânia, utilizando táticas como tiroteios, pogroms, violência sexual e destruição de casas e fazendas para expulsar pessoas de suas terras ainda mais rapidamente. Desde o início da Operação Muro de Ferro, em janeiro de 2025, o exército israelense deslocou à força 8.255 famílias palestinas de suas casas nos campos de refugiados de Jenin (3.840 famílias deslocadas), Nur Shams (1.910 famílias deslocadas) e Tulkarm (2.505 famílias deslocadas). Essas famílias são descendentes diretas dos refugiados palestinos que foram vítimas de limpeza étnica durante a Nakba de 1948, e tiveram seu direito de retorno negado desde então. Além desses campos de refugiados, as forças de ocupação de Israel — que incluem tanto o exército israelense formal quanto colonos israelenses armados — expulsaram 28 comunidades palestinas de suas terras entre janeiro de 2022 e setembro de 2023 e destruíram mais de 3.500 estruturas, incluindo casas, estábulos e cisternas de água na Cisjordânia, entre outubro de 2023 e abril de 2025.
Death, Arrest, and Torture
Desde outubro de 2023, as forças de ocupação israelenses mataram aproximadamente 900 palestinos na Cisjordânia, incluindo pelo menos 190 crianças, e feriram outras 8.400. Esses números são provavelmente maiores devido à falta de organizações humanitárias para documentar adequadamente a violência perpetrada por Israel em uma área cujas instituições foram profundamente impactadas pelo genocídio e pela ocupação em curso. Desde o final de 2023, as forças de ocupação israelenses prenderam 15 mil palestinos, muitos sob a categoria de “detenção administrativa”, que não exige acusação formal (esses números provavelmente estão deflacionados devido às severas restrições à representação legal). Desde 7 de outubro de 2023, houve mais de 65 casos documentados de palestinos assassinados em prisões, centros de detenção e campos de concentração israelenses. A violência sexual é rotineira nesses locais.
O Centro Bisan para Pesquisa e Desenvolvimento, a Assembleia Internacional dos Povos e o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social apelam a intelectuais, grupos da sociedade civil e organizações políticas e sociais para que prestem especial atenção aos acontecimentos não apenas em Gaza, mas também em outras partes dos Territórios Palestinos Ocupados (TPO). O genocídio e os crimes contra a humanidade em curso não podem ser ignorados ou seguir impunes.