Quando pensamos no processo de independência do Brasil, umas das primeiras lembranças que nos vêm à mente é o quadro pintado por Pedro Américo em 1888, Independência ou Morte, em que, às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, uma tropa de cavalaria liderada por Dom Pedro I proclama a independência de uma nova nação que estaria nascendo, chamada Brasil.

Pois bem. Uma das mais emblemáticas imagens da História do Brasil não passa, na verdade, de uma grande fantasia. Além de glorificar e idealizar o passado usando figuras e composições de cena nem sempre fiéis à história, o quadro ainda carrega uma grande polêmica por ter sido acusado de plágio da tela de Ernest Meissonier, 1087, de Friedland,  pintada em 1875.

O mais simbólico disso tudo, porém, está na construção histórica dos processos de transformações sociais no Brasil, sempre desenhado e acordado por uma elite caracterizada por seu pensamento anti-nacional, anti-popular e anti-democrático, para relembrarmos de Darcy Ribeiro.

O que restava àquele povo brasileiro ainda em formação eram suas formas de luta e resistência para sobreviver a tantas formas de opressão, como a Balaiada, Canudos, a Revolução Farroupilha, a Revolta da Chibata e as centenas de Quilombos criados Brasil à fora – para citarmos apenas alguns exemplos -, que buscavam construir sua própria história constantemente negada por uma classe dominante apequenada.

Destes e outros processos, surgiram um dos bens mais preciosos do povo brasileiro, sintetizado na nossa rica e diversificada forma de se manifestar culturalmente, culminando, de certa maneira, na Semana de Arte Moderna de 1922, que, apesar de seus limites, buscou representar os verdadeiros protagonistas de uma nação que insiste em nascer: o povo brasileiro, historicamente marginalizado e invisibilizado.

Duzentos anos se passaram desde a Independência do Brasil e outros 100 anos da Semana de Arte Moderna, mas as bases econômicas, sociais e políticas que edificaram nosso país pouco se transformaram.

Nesse sentido, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, as escolas nacionais Paulo Freire e Florestan Fernandes, a editora Expressão Popular e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) convocam todos os artistas populares para participarem da Chamada de Artes 200 anos de uma nação interrompida | A arte como forma de denúncia e resistência.

A ideia é que, a partir do bicentenário da independência e do centenário da Semana de Arte Moderna, ambos celebrados no ano de 2022, a gente possa revisitar nossa história e refletir sobre o nosso passado, presente e futuro.

Para ajudar no processo criativo, sugerimos quatro possibilidades de eixos temáticos para serem trabalhados nos cartazes:

1. Mundo do trabalho

O trabalho é a base material da essência da humanidade. Porém, cada vez mais o capitalismo aliena a produção humana. No atual estágio da economia mundial, as novas tecnologias de informação e comunicação impõem grandes transformações, como o trabalho temporário, terceirizações, tempo parcial, autônomos, teletrabalho, contrato zero hora, pejotização, trabalho por aplicativos etc, precarizando cada vez mais essas relações. Refletir sobre essas questões, mas também sonhar sobre qual deveria ser nossa relação com o trabalho é mais do que fundamental nos dias de hoje.

2. Libertação nacional

As lutas de libertação nacional se configuram na possibilidade dos  povos construírem uma  saída alternativa em que não sejam dirigidos pela classe dominante de seu país e, consequentemente, pelo imperialismo. Toda nação tem o direito à sua autodeterminação, de modo que seu povo tenha total soberania sobre os rumos de seu país. Dessa forma, a pauta da libertação nacional traz para o centro do debate as lutas revolucionárias, o tema da questão nacional e a relação da luta anti-imperialista.

3. Resistência popular

Quilombos, Balaiada, Canudos, Revolução Farroupilha, Revolta da Chibata, greves, atos, luta armada, mobilizações, marchas, ocupações, expressões culturais. Diante da enorme pressão e opressão da classe dominante sobre nossas mentes e corpos, resta às massas populares suas mais diversas formas de resistência. A criatividade reina diante das condições históricas de cada período. Sem elas, não é possível avançar.

4. Avanço do capital sobre nossas vidas

A produção e a reprodução das relações sociais capitalistas não se restringem apenas à relação capital e trabalho e em questões objetivas da vida material, mas atinge a totalidade da vida em suas mais diversas determinações. A forma como vemos e sentimos o mundo; o que e como consumimos as coisas; a jeito de nos portarmos e expressarmos; ou seja, temos muito pouco controle efetivo sobre o curso das nossas vidas. Denunciar esse processo e também sonharmos com um futuro diferente é imprescindível para a elevação do nível de consciência das massas.

Como participar?

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Data limite: 07 de agosto

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