“O Grito” (1963), de Eduardo Kingman.

 

Este texto faz parte do Concurso de Ensaios Tricontinental | Nada será como antes. Saiba como participar.

 

Por Renata de Mello Mamede

 

10 horas…
noite
frio
silêncio

 

11 horas…
livro
capítulo, página, parágrafo.
desisto
não dá pra ler
meus pensamentos são altos demais
me desconcentram de mim mesma

 

meia-noite?
eu me quebro
ou curvo
curvo
ou quebro

 

1:00 hora…
eu trinco
aquela trincada que quase quebra
aquela em que os
pedaços
de
você
quase
quase
se
separam
ou que pelo menos, não se conversam mais

 

2:00 horas…
meu coração não escuta mais minha voz,
ele continua forte no meu peito
mesmo quando peço desesperadamente para que pare
para que não exploda
para que se acalme
por favor…

 

3:00 horas…
meus pés pedem por um chão seguro
por um caminho sem desespero
sem morte
sem político cagando pela boca…
mas meu corpo não respeita
ele não consegue

 

4:00 horas…
Quando minha barriga clama por comida
Mas a minha boca nega
Ou será que é o meu bolso?

 

5:00 horas
me pego sonhando com o meu amor
meu inconsciente é o único que respeita o desejo dos meus braços
de serem
entrelaçados…
meu amor só vive em sonhos

 

6:00 horas…
quando meu corpo ateu começa a acreditar em deus…
e reza por razão

 

7:00 horas.
dia,
o trincado ainda não fez minha alma desmontar
ainda
há uma distância enorme entre o ainda
e o agora…